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A cidade de São Paulo completa 467 anos nesta segunda-feira (25), com pouco a comemorar, em um momento de aumento da pandemia em todo o Brasil / DIVULGAÇÃO/PSP

A cidade de São Paulo completa 467 anos nesta segunda-feira (25), com pouco a comemorar, em um momento de aumento da pandemia em todo o Brasil. A crise sanitária chegou a parar as atividades consideradas não essenciais desde março do ano passado. Contudo, houve quem não deixou de trabalhar em nenhum momento. Entre esses profissionais anônimos que estão tornando a pandemia menos pesada para os paulistanos há trabalhadores da saúde, motoristas de ônibus e por aplicativo, taxistas, lixeiros e garis, funcionários de supermercados e de padarias, entre outros.

Em maio do ano passado, ouvimos os profissionais da linha de frente, exclusivamente da área da saúde. A palavra mais ouvida pela reportagem foi “medo”. “O medo é muito grande de ser infectado e infectar os outros”, explicou à época a farmacêutica Kellen Caroline. “São muitos funcionários contaminados, então é muito medo, muita insegurança”, relatou a enfermeira assistencial Adriana Naito.

Agora, 10 meses após a Organização Mundial da Saúde ter declarado que o mundo passava por uma pandemia do novo coronavírus, a Gazeta voltou a ouvir profissionais de saúde que atuam na cidade de São Paulo para saber o que passaram até então e o que esperam para o futuro. Mas não só eles. Também foram consultados uma motorista e um entregador por aplicativo, que ajudam São Paulo a pulsar durante a a maior crise sanitária do século.

Esperança da vacina

O início da vacinação em 17 de janeiro a profissionais de saúde, indígenas e quilombolas do Estado com a CoronaVac trouxe a palavra “esperança” para a o repertório de todos os entrevistados. O governo de São Paulo não anunciou ainda o calendário de vacinação para outros grupos. Há 6 milhões de doses da CoronaVac no Brasil por enquanto.

Apesar da esperança, o estado de São Paulo enfrenta uma segunda onda da doença, conforme o governador João Doria (PSDB). O Governo de São Paulo anunciou na última sexta-feira (22) que a partir de 25 de janeiro a região da Grande São Paulo, que integra a Capital, vai regredir para a fase laranja do Plano São Paulo, a segunda mais restritiva. Outras seis regiões passarão da fase laranja para a fase vermelha, a mais restritiva, com a permissão de apenas atividades consideradas essenciais.

O estado de São Paulo ficará em fase vermelha todos os dias, das 20h às 6h, a partir desta segunda. A vermelha valerá também para todo o Estado, aos fins de semana e feriados, a partir do próximo fim de semana, nos dias 30 e 31. A determinação vale inicialmente apenas por dois fins de semana, até 7 de fevereiro.

Fisioterapeuta espera que pandemia deixe lições

Do início da pandemia, o fisioterapeuta Willians Paes dos Santos, que atua na área no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e como auxiliar de enfermagem na Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar (EMAD), relembra ter sentido uma mistura de sentimentos. Três foram mais constantes: o medo, a tristeza e a incerteza.

Segundo ele, o medo vinha da doença em si. Já a tristeza era por presenciar tantas mortes e, ainda assim, ver que grande parte da população e lideranças ir contra recomendações de cientistas e profissionais de saúde. E a incerteza era sobre o desconhecimento do que aconteceria com a população, se haveria uma cura. “Minha rotina passou por um período repleto de angústias”, avalia.

Um dos piores momentos, conta, foi quando assistiu a uma reportagem em que profissionais da saúde eram agredidos por pessoas que acreditavam que os trabalhadores do setor eram os responsáveis pela disseminação do vírus.

Agora, ele se diz esperançoso com a vacina. “Ela traz a esperança de que tudo de ruim que vivemos está prestes a acabar”. Para ele, a esperança maior é que a situação vivida tenha trazido ensinamento à sociedade. “Espero que essa pandemia nos tenha servido de lição, de que precisamos melhorar muito como seres humanos”.

Com 20 anos de experiência, enfermeira se sentiu perdida

A pandemia pegou a população em geral de surpresa, incluindo os profissionais de saúde, acostumados com as demandas normais exigidas pelo trabalho. A enfermeira Ana Rosa Cristina Menezes, que atua no Instituto Lucy Montoro e no Hospital das Clínicas, tomou um susto com o crescimento de casos entre fim de fevereiro e início de março, quando a doença chegou à cidade.

“A nossa rotina foi bastante agitada e confusa, não se sabia muito da doença, as rotinas mudavam muito, era angustiante ver as pessoas internadas e afastadas da família, tendo que se afastar da família pra continuar trabalhando”, lembra ela. “Mesmo com quase 20 anos de profissão me senti muito perdida e assustada”, completa.

Para a profissional, o momento mais difícil enfrentado desde então foi quando a doença chegou à sua família, com irmão e sogra infectados. “Meu irmão não precisou ser internado, mas ficou bem debilitado. Minha sogra passou mais de 20 dias internada, somente com notícias via telefone”, relembra.

Ela diz, porém, que está com esperança de um ano melhor. Ela já tomou a vacina contra a doença, e espera que o cotidiano de todos volte logo ao normal. “A expectativa é que possamos ter momentos mais tranquilos, que nossa dia a dia vá voltando ao normal, e curtir as pessoas e os lugares, sem medo”.

Motorista se desdobra para proteger a todos

“Foi assustador”, relembra a motorista Paola Passarelli, ao falar do início da pandemia em São Paulo. De um dia para o outro tudo mudou, e ela não pôde mais sair para trabalhar pelos aplicativos.

Ela ficou uns dias em isolamento, mas, “como as contas começaram a chegar”, precisou se reinventar, principalmente por criar o filho sozinha. Paola se muniu de álcool em gel, máscara e higienização constante no carro para focar a sua atuação profissional em pessoas conhecidas, em grupos de bairro e no trabalho de “mãetorista”, responsável por transportar crianças e adolescentes.

“Passei a trabalhar com as pessoas da região, do meu condomínio, sempre com indicação e com o máximo de cuidados. Não era garantia de nada, mas eu me sentia mais segura e passava essa segurança para os meus clientes e amigos que confiam em mim”, diz.

Em 2021, apesar do aumento da pandemia, ela está mais esperançosa. “Estamos sabendo como lidar melhor com esse vírus e a vacina chegou! Acredito que as coisas vão se acertar até metade do ano e depois vamos recuperar o que perdemos financeiramente. Infelizmente tivemos muitas perdas em 2020 que não temos como recuperar, mas estou bem otimista em relação a 2021. Vai dar certo”.

15 horas de trabalho por dia

Com um cotidiano profissional “perigoso e arriscado”, o entregador por aplicativo Alan Santos fica em cima de uma moto das 8h às 23h todos os dias para levar comida para casa de quem precisa e, dessa forma, manter o sustento da sua casa também. Ou seja, ele tem apenas 9 horas por dia para desfrutar da sua vida social, longe do trabalho. Boa parte delas, claro, ele passa dormindo.

“A rotina é cansativa, saio de casa pra matar um leão por dia e a correria não para”, explica ele, que usa a renda pra manter condições básicas da sua família, como pagar aluguel, água, luz, internet e alimentação.
Ter sido obrigado a largar a profissão de ajudante de confeiteiro, em que atuava até o início da pandemia, foi o momento mais triste do ano passado, explica ele. “Fiquei desempregado e aí tive que ir pra rua pra me arriscar e trazer o sustento da minha família”.

Neste ano, ele espera que a profissão de entregador seja mais valorizada. “2021 só está começando espero que eu e tantos outros motoboys consigam um trabalho registrado, pois a vida de motoboy é perigosa e a gente não tem seguro se caso aconteça um acidente. A gente enfrenta muitos obstáculos no dia a dia: sol, chuva assaltos etc...”, explica ele, esperançoso.

Agente comunitária só teve notícias do pai 2 vezes por semana

A agente comunitária de saúde Aline Moura Netto, que atua na UBS (Unidade Básica de Saúde) Vila Moraes, na zona sul da Capital, afirma que precisou trabalhar de forma redobrada com o início da pandemia, e a rotina ficou mais difícil. O pior momento foi quando o seu pai foi diagnosticado com a doença e precisou ficar internado no Hospital das Clínicas, e presenciar a forma com que a Covid-19 atinge os pacientes, principalmente os idosos.

“Só tínhamos notícias do meu pai quando o médico ligava duas vezes na semana. Além disso, perdemos muitos pacientes queridos para essa doença e os idosos adoeceram mentalmente devido a mudança na rotina e isolamento social”, explica.

O seu pai passou a ser acompanhado a cada seis meses pelos profissionais do Hospital das Clínicas, para saber se não ficou qualquer sequela da doença. O seu quadro de saúde é bom, apesar das doenças crônicas, conta a agente comunitária.

Apesar do trabalho exaustivo, Aline diz que o início da vacinação no estado de São Paulo trouxe a convicção que a situação vai melhorar. “Espero que este 2021 seja um ano de vitórias para todos nós. Que todos sejam vacinados e que voltemos a nossa rotina de vida fortalecidos”.

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