Passaporte canadense confirma que Kenny Mendes nasceu em 14 de julho de 1971, em Thompson. Certidão negativa (abaixo) não consta registro de naturalização / Reprodução
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O Ministério Público Federal (MPF) está analisando a dupla nacionalidade do vereador Kenny Mendes (PSDB). O órgão recebeu o resultado de um inquérito policial, encaminhado dia 11 último, pela Polícia Federal (PF), que já vinha investigando a situação do vereador mais votado de Santos até hoje. A análise está nas mãos do procurador de República Roberto Farah. Segundo informações obtidas semana passada por intermédio de uma secretária de Farah, o caso corre sob segredo no MPF.
O Diário do Litoral recebeu as mesmas documentações encaminhadas à PF. Na página de rosto do passaporte do parlamentar consta que ele nasceu dia 14 de julho de 1971, em Thompson, no Canadá.
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Cópia da certidão negativa de naturalização, emitida pelo Departamento de Estrangeiros, da Secretaria Nacional de Justiça, certifica que até 20 de agosto de 2014 não constava o registro de naturalização brasileira do vereador.
Informações extraoficiais dão conta que um laudo foi emitido pela PF e encaminhado ao MPF. O documento questiona a legitimidade da certidão de nascimento de Kenny, emitida em Cubatão, no final da década de 70, quando o parlamentar veio para o Brasil com a família.
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Por sua vez e por intermédio das redes sociais, o vereador já informou que, em 1977, teve que vir para o Brasil com os pais. Após seis meses de chegada ao País, que estava sob uma ditadura, o pai do vereador teria sido chamado pelo Governo e não teve alternativa senão registrar Kenny em Cubatão e que está sendo alvo de investigação. O pai de Kenny, Fernando Ribeiro Mendes, faleceu recentemente, não podendo mais responder pelo ato.
Português
Procurado pela Reportagem, Kenny Mendes disse que defesa e documentos já foram entregues à PF e ao MPF antes de se candidatar para a última eleição. “Nunca escondi que sou canadense. O Tribunal Regional Eleitoral sabe. Eu pedi uma retificação. Eu fui registrado em Cubatão na infância e o ato já está prescrito. Foi meu pai que fez em 1977 e não o fez de má-fé”, disse, se eximindo de responsabilidade.
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Pelo DivulgaCand, consta que Mendes se registrou como natural de Cubatão nas eleições de 2012 e 2016.
Sobre a nova eleição, Mendes surpreendeu, confirmando que está cancelando a nacionalidade brasileira, “porque já possuo cidadania portuguesa. Neste sentido, estou pedindo reciprocidade, porque o cidadão português tem os mesmo direitos do brasileiro, inclusive os políticos”, garante.
Câmara
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Ainda existe outra denúncia igual contra Kenny Mendes, na Câmara de Santos, desde 2014, e que deveria ser pautada para discussão após ser submetida à Comissão de Ética, hoje sob a presidência do vereador Sérgio Santana (PR).
“Eu fiquei sabendo que existe uma reclamação. Mas qualquer denúncia que venha ser apresentada e direcionada à Comissão de Ética tem que ser avaliada e despachada pelo presidente da Casa. Se ela chegar em minhas mãos, tenho a obrigação de tomar providências”, disse Santana.
Procurado, o presidente da Câmara, vereador Manoel Constantino (PSDB) disse que a candidatura de Kenny foi aprovada pela Justiça Eleitoral, não cabendo à Câmara discussão sobre o assunto.
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“É chover no molhado. Se o processo do MPF vier para a Câmara, será encaminhado à Comissão de Ética que, certamente, dará à um parecer. Mas não tenho conhecimento que a denúncia está parada na Casa e ela não está comigo, portanto, não existe”, finaliza.
Denunciante
Para a Reportagem, o autor de uma das denúncias, o comerciante Marcelo Medrado, confirmou que o vereador Benedito Furtado (PSB), na época presidente da Comissão de Ética, recebeu a denúncia.
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Ele disse que existe testemunhas, protocolo e até fotografia do documento entregue na Câmara, em abril de 2014, a Furtado, que, segundo Medrado, disse que não cabia ao Legislativo assuntos relacionados a questões eleitorais. “Apesar de Kenny declarar que é estrangeiro e assinar documentos na Câmara como brasileiro nato”.
Medrado também é autor de um processo eleitoral, protocolado no mesmo período e que corre na 273ª Zona Eleitoral de Santos, acusando Mendes de crime eleitoral que, segundo último andamento, também foi enviado à Polícia Federal.
“Já existia a denúncia de ele não ser brasileiro nato e nem apto a exercer a vereança. O processo é criminal e está tramitando na PF e no MPF”, conclui Medrado.
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O que diz a Constituição
É importante lembrar que, segundo a Constituição, podem ser eleitos os brasileiros natos (nascidos no Brasil), ainda que de pais estrangeiros, desde que os pais não estejam a serviço do país estrangeiro; os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço do Brasil; os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, após completar os 18 anos, pela nacionalidade brasileira.
Também os naturalizados, que na forma da lei adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupta e idoneidade moral; os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes no Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
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Com a aquisição dos direitos políticos, o cidadão português pode ingressar no serviço público do mesmo modo que o brasileiro, inclusive votar e ser votado. Só não pode ocupar os cargos privativos de brasileiros natos, previstos na Constituição (presidente e vice-presidente; presidente da Câmara dos Deputados; presidente do Senado Federal; Ministro do Supremo Tribunal Federal; da carreira diplomática; de oficial das Forças Armadas e ministro de Estado da Defesa.