Desde janeiro de 2021, o monitoramento contabilizou mais de 540 avistamentos / Divulgação/Porto de Santos
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De binóculo em mãos e planilha no colo, o biólogo Thiago Macek aperta os olhos para ter certeza: mais uma tartaruga-verde acaba de emergir na superfície. É a quinta da manhã, uma entre as muitas Chelonia mydas que utilizam o estuário do Porto de Santos como área de alimentação e descanso.
A cena se repete semanalmente. Thiago integra o Subprograma de Monitoramento de Quelônios, uma das ações ambientais da Autoridade Portuária de Santos (APS) exigidas pela Licença de Operação nº 1382/17, emitida pelo Ibama.
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A cada navegação, que abrange um perímetro entre a Ilha Barnabé, em Santos, e a Ilha das Palmas, no Guarujá, o foco é registrar avistamentos, analisar condições da água e acompanhar o comportamento das tartarugas marinhas.
Na última saída, realizada em 13 de novembro, foram 20 registros em poucas horas.
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Desde janeiro de 2021, o monitoramento contabilizou mais de 540 avistamentos. Somente em 2025, já foram 222 registros, com destaque para dois pontos:
Ponta da Praia: 141 avistamentos
Ilha das Palmas: 47 avistamentos
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Além da tartaruga-verde, espécie mais comum na região, o subprograma já registrou presença da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), considerada ameaçada de extinção.
Outras três espécies descritas na Baixada Santista — a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-oliva e a tartaruga-de-couro — não possuem registros recentes no canal portuário.
Durante cada expedição, Thiago coleta dados como temperatura, acidez, visibilidade e profundidade da água. As informações alimentam uma base com 11 anos de acompanhamento, essencial para orientar políticas ambientais e avaliar os impactos da atividade portuária sobre a fauna marinha.
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'Queremos ter certeza de que as operações não estão reduzindo a população local”, explica o biólogo. “Além de ser uma exigência da licença ambiental, é gratificante contribuir para compreender e preservar a biodiversidade na área portuária.'
A APS também utiliza métodos inovadores para proteger as tartarugas durante a dragagem de manutenção, atividade necessária para garantir a profundidade do canal. Entre as medidas destacam-se:
Defletores de tartarugas: correntes flexíveis instaladas à frente da draga, que oscilam e criam uma barreira sensorial para afastar os animais.
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Altura controlada de sucção: definição de níveis máximos para ativação e desativação das bombas, reduzindo riscos de acidentes.
Essas tecnologias ajudam a impedir a interação das dragas com a fauna marinha, garantindo mais segurança no processo.
O monitoramento de quelônios é apenas uma das mais de 20 frentes ambientais da APS. Entre os programas estão:
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acompanhamento de plâncton;
estudos de macrofauna bentônica (organismos que vivem no fundo marinho);
monitoramento de espécies exóticas invasoras;
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mapeamento de aves que habitam ou utilizam o estuário como rota.
Com o maior porto da América Latina localizado em meio a uma área de rica biodiversidade, o desafio é constante e os números mostram que o trabalho tem gerado resultados. As tartarugas seguem frequentando o estuário, e cada avistamento registrado reforça o vínculo entre operação portuária e conservação ambiental.
Na lancha, entre anotações e coordenadas, Thiago observa mais uma carapaça verde cruzar a superfície. O registro é rápido, mas o impacto é duradouro: é a prova de que ciência, proteção e rotina portuária podem — e devem — conviver lado a lado.
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