Cotidiano
Com 2.200 pés de café distribuídos em 10 mil metros quadrados, o espaço voltou a se cobrir de flores brancas e perfumadas na última segunda-feira (6)
O fenômeno dura apenas alguns dias, porém transforma o cenário urbano em um verdadeiro jardim e marca uma etapa crucial para a próxima colheita / agriculturasp/Flickr
Continua depois da publicidade
A cidade de São Paulo, conhecida por seus arranha-céus e ritmo acelerado, ganha nesta semana um espetáculo raro e delicado: a florada do maior cafezal urbano do mundo, localizado no Instituto Biológico (IB-Apta), na Vila Mariana, zona sul da capital.
Com 2.200 pés de café distribuídos em 10 mil metros quadrados, o espaço voltou a se cobrir de flores brancas e perfumadas, marcando a segunda florada do ano, que começou na última segunda-feira (6).
Continua depois da publicidade
O fenômeno dura apenas alguns dias, porém transforma o cenário urbano em um verdadeiro jardim e marca uma etapa crucial para a próxima colheita, prevista para maio de 2026.
A florada é um dos momentos mais aguardados pelos pesquisadores e visitantes do Instituto. Além de sua beleza, ela indica o potencial produtivo e a qualidade da próxima safra.
Continua depois da publicidade
'A importância da florada está diretamente ligada ao potencial de produção do café. A quantidade e a qualidade das flores nos dão uma perspectiva sobre como será a colheita', explica Harumi Hojo, pesquisadora responsável pelo cafezal do Instituto Biológico.
Durante esse período, o aroma do café em flor invade o bairro e atrai olhares curiosos de quem passa pelas ruas arborizadas da Vila Mariana.
Enquanto o público se encanta com a paisagem, os pesquisadores aproveitam o momento para monitorar a atividade dos polinizadores, fundamentais para a fecundação das flores e o desenvolvimento dos frutos. Abelhas e marimbondos são os principais aliados nesse processo.
Continua depois da publicidade
'Esses insetos contribuem não apenas para a qualidade e quantidade dos grãos, mas também para a biodiversidade local', destaca Harumi.
As pesquisas do IB identificam diferentes espécies de polinizadores e analisam como cada uma influencia o sabor, o tamanho e a doçura dos grãos. As abelhas nativas brasileiras, por exemplo, ajudam a uniformizar o tamanho dos frutos e aumentam o teor de doçura do café, tornando o produto mais equilibrado e aromático.
Para estudá-las, os cientistas utilizam redes entomológicas e armadilhas coloridas — em tons de branco, amarelo e azul — com soluções que atraem os insetos sem causar impacto ambiental. O trabalho reforça o compromisso do Instituto Biológico com a sustentabilidade e a preservação da fauna urbana, mostrando que é possível unir ciência e natureza em plena cidade.
Continua depois da publicidade
Criado na década de 1950, o cafezal nasceu como área experimental para o estudo de doenças e pragas do café. Hoje, tornou-se patrimônio científico e cultural, além de ponto turístico e educativo.
O local abriga seis variedades de café, entre elas bourbon amarelo, mundo novo e catuaí, cultivadas com técnicas sustentáveis e voltadas à pesquisa agrícola. O espaço também promove anualmente o Sabor da Colheita, evento tradicional que chega à sua 18ª edição em 2026 e celebra o ciclo produtivo do café, aproximando a população urbana das origens do grão que move o Brasil.
As visitas ao cafezal urbano são gratuitas, mas precisam ser agendadas pelo Instagram oficial @cafezalurbanoib.
Continua depois da publicidade
Em meio ao concreto, o cafezal do Instituto Biológico é um símbolo de resistência verde e herança cultural. Sua florada não apenas embeleza a paisagem paulistana, mas também lembra que a natureza ainda pulsa viva no coração da maior metrópole do país — e que o café, além de bebida nacional, é também um elo entre ciência, sustentabilidade e poesia urbana.