Cotidiano
O primeiro Centro de Memória às Vítimas de Violência de Estado (CMVV) já tem endereço definido no Centro Histórico da cidade e deve iniciar suas atividades no primeiro trimestre de 2026
O objetivo é construir um local de reflexão, acolhimento e produção de conhecimento voltado às famílias afetadas pela violência do Estado / ANDERSON BIANCHI/PMS
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Santos, no litoral paulista, se prepara para abrigar um marco inédito na política de memória e direitos humanos no Brasil. O primeiro Centro de Memória às Vítimas de Violência de Estado (CMVV) já tem endereço definido no Centro Histórico da cidade e deve iniciar suas atividades no primeiro trimestre de 2026. A entrega das chaves do prédio ocorreu em 1º de dezembro, mês em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
O espaço será gerido pela Iniciativa Negra, em parceria com o Movimento Independente Mães de Maio, a Conectas Direitos Humanos e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O objetivo é construir um local de reflexão, acolhimento e produção de conhecimento voltado às famílias afetadas pela violência do Estado, especialmente da população negra e periférica — historicamente as mais atingidas por letalidade policial e violações institucionais.
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O CMVV será o primeiro equipamento público coletivo do país projetado para reconhecer oficialmente a responsabilidade estatal na manutenção de desigualdades raciais e sociais, e para acolher quem sofre diretamente seus efeitos.
'O centro nasce como um lugar de reafirmação da nossa humanidade e de disputa de narrativas. É um compromisso histórico com a vida da população negra', afirma Nathália Oliveira, socióloga e cofundadora da Iniciativa Negra. Segundo ela, gerir o equipamento representa 'um passo urgente para que memória e justiça sejam pilares de um futuro onde viver não seja privilégio, mas um direito'.
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O memorial funcionará por 20 anos no Centro Histórico de Santos. Nesse período, será desenvolvido um calendário contínuo de ações culturais, educativas e políticas voltadas ao enfrentamento da violência institucional e ao fortalecimento de políticas públicas de justiça racial.
O espaço contará com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais das áreas de saúde, assistência social e jurídica, voltados ao acolhimento de familiares vítimas de violência estatal. Também oferecerá:
Exposições permanentes e temporárias
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Acervo documental e histórico
Atividades culturais e educativas
Programas de formação e debate público
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Para Débora Maria da Silva, cofundadora do Movimento Independente Mães de Maio, o CMVV representa uma conquista histórica:
'É uma resposta à lógica genocida que tenta transformar nossos filhos em números frios. Aqui, a memória será nossa arma de luta e proteção. Nenhuma história será silenciada.'
A formalização do centro ocorre em um momento de avanço das discussões sobre justiça racial no país. A iniciativa se articula com políticas federais e mobilizações sociais que buscam reconhecer o papel das instituições na reprodução de violências sistemáticas contra corpos negros e periféricos.
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A criação do CMVV também se conecta ao trabalho de 10 anos da Iniciativa Negra, organização que atua em frentes como direitos humanos, política de drogas, cultura e educação popular. Em 2025, o grupo lançou o projeto Cartografias de Bamba, voltado ao resgate da memória negra na Barra Funda, em São Paulo — mais um exemplo da centralidade da preservação histórica em suas ações.
A agenda de implementação do centro já começou e, ao longo de dezembro, serão realizados os preparativos estruturais e conceituais para a abertura oficial no início de 2026. A proposta é que o espaço se torne referência nacional no debate sobre violência institucional, políticas de cuidado, reparação e promoção dos direitos humanos.
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