A ideia de fazer dos doces uma forma de renda veio há dois anos, quando Maria José Lacerda, de 61 anos, perdeu o marido. / NAIR BUENO/DIÁRIO DO LITORAL
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No início do século 19, os irmãos Grimm transformaram histórias de tradição oral do povo alemão em contos publicados em livros. As mais de 200 narrativas foram revisadas ao longo do tempo e ganharam versões mais leves para as crianças, são os contos de fadas, conhecidos mundialmente.
João e Maria, ou Hänsel und Gretel, no nome original, são uma das preferidas porque mexe com o imaginário de crianças e adultos sobre a temática doces. Quem não adoraria encontrar no meio da floresta uma casa feita de chocolate, biscoitos e balas?
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A 9.910 quilômetros de distância de Hesse, região na qual viveram os irmãos Grimm, está Santos, cidade onde João e Maria não só são pessoas reais, como viraram empreendedores e vendem doces.
Nesse conto de fadas caiçara, a história foi um pouco modificada. Maria é mãe de João e os dois garantem que não se fartam do estoque de guloseimas que mantêm no apartamento onde moram. "Provo diariamente, mas apenas como controle de qualidade", diverte-se João.
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A ideia de fazer dos doces uma forma de renda veio há dois anos, quando Maria José Lacerda, de 61 anos, sofreu com o falecimento do marido. Há 21 anos, ela é proprietária do carrinho "Pastel da Zezé", que fica na areia da praia do Embaré, em Santos.
"Na temporada de verão o trabalho é diário e traz um retorno muito bom. Mas nos outros meses o carrinho funciona só aos finais de semana e quando tem sol. Sem a distração do trabalho, estava muito triste", conta.
João Lucas Lacerda, de 24 anos, sugeriu que a mãe fizesse doces para vender. Além de complementar a renda que cai cerca de 60% fora do verão, ocuparia a cabeça. "Falei sobre um curso para aprender a fazer pão de mel. Ela fez, comecei a vender no trabalho e todo mundo adorou". Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de São Paulo, a Baixada Santista possui 3.197 microempreendedores do setor de alimentação.
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Os pães de mel de mãe e filho, vendidos com recheio de brigadeiro, doce de leite e chocolate branco, exigem um ritual de seis horas, entre fazer o bolinho, cortar, rechear, dar o banho de chocolate, esperar para secar e embalar.
Com o aumento da demanda, há quase dois meses João e Maria criaram a marca, que leva o mesmo nome e tem como logo a tão famosa casinha do conto de fadas, e entregaram-se à tecnologia ao criar um perfil no Instagram, que pode ser encontrado como @Joao.maria.doces.
O restante dos produtos surgiu da demanda dos clientes. Veio o cone trufado, que diferentemente dos encontrados na região, não é feito com cone de sorvete, mas com massa de pastel, ingrediente que Maria já domina há tempos. Ele é feito com recheios de beijinho, brigadeiro e doce de leite.
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Depois apareceu o pavê holandês, doce que João costumava comer na infância e o bombom de morango, cujo recheio encobre a fruta. Há também as empadas nas versões camarão, frango, carne seca e palmito, para quem prefere salgados.
Às segundas, terças e quartas, Maria passa praticamente todo o dia, incluindo as madrugadas, na cozinha, para dar conta da demanda, que além dos clientes comuns atende pontos de venda em universidades, escolas, bares e salões de beleza.
João é o responsável pelas entregas. Muitas vezes, antes de entrar no trabalho, às 8h, vai até os clientes entregar as encomendas. Depois do expediente, que termina às 17h, segue para mais entregas.
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Maria conta que esse novo trabalho mudou muito o filho e que o sucesso de vendas não é resultado apenas do sabor dos produtos, mas do empenho de João. "O esforço dele me dá forças para aguentar a rotina tão puxada. Estou muito orgulhosa", derrete-se como o chocolate que prepara todos os dias.
No WhatsApp, aplicativo que a dupla utiliza como canal de relacionamento, as mensagens são unânimes: "Comer o doce de vocês me fez muito bem. Deixou o meu dia mais feliz".
É a motivação que João e Maria precisam para continuar adoçando a vida daqueles que buscam felicidade numa bela mordida.
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