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Cotidiano

Internet garante igualdade de oportunidades para músicos

A vitrine ficou maior, mas a disputa por espaço também, sendo assim cada vez mais difícil ser ouvido em meio a tantas vozes, músicas e plataformas

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 29/12/2013 às 13:18

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Quando a internet começou a se popularizar, no começo dos anos 2000, abriu-se uma nova e empolgante perspectiva para os artistas: a de alcançar milhões de novos fãs de maneira fácil, simples e barata, dispensando apoio e dinheiro de grandes gravadoras. As mesmas ferramentas e canais, no entanto, estão acessíveis a todos. A vitrine ficou maior, mas a disputa por espaço também, sendo assim cada vez mais difícil ser ouvido em meio a tantas vozes, músicas e plataformas.

O DJ e produtor Waldo Squash, da Gang do Eletro, que tem seu álbum "Treme" incluído entre os destaques de 2013, disse que a internet facilitou muito "o aprendizado e compartilhamento de conhecimento entre artistas", mas a parte de divulgação é "complicada".

Diante dessa situação, artistas e seus representantes têm que dedicar boa parte do seu tempo cuidando de estratégias para chamar a atenção na rede.

"Um dos dramas da minha vida é não poder me dedicar só à música, e ficar menos preocupado com divulgar o trabalho", diz Alexandre Kumpinski, vocalista da Apanhador Só, apesar de preferir a independência a se submeter a uma gravadora. A banda gravou seu álbum "Antes Que Tu Conte Outra" com R$ 60 mil levantados por financiamento coletivo, realizado com a colaboração de 1.300 fãs.

"Pensamos as ações na internet como uma atividade artística, é algo que está no nosso DNA", diz o produtor Fabrício Ofuji, da banda Móveis Coloniais de Acaju. Ele conta que a interação nas redes sociais é uma forma de reproduzir a experiência dos shows do grupo. "É dos shows que vêm a nossa força e também a maior parte da nossa receita", explica ele, citando um vídeo feito pela banda com fotos do Instagram enviadas pelos fãs.

Pamela Leme, diretora da Agência Alavanca, responsável pelo agenciamento de artistas como Jair Naves e Apanhador Só, diz que "gerar conteúdo é fundamental para se destacar", além de colocar a música nas inúmeras plataformas à disposição dos fãs.

A internet garante igualdade de oportunidades para músicos (Foto: Divulgação)

"Antes eu fazia tudo pelo Myspace. Agora, é o Facebook, o Twitter, o Instagram e o SoundCloud. O importante é tentar agregar gente interessada", diz o DJ e produtor Péricles Martins, responsável pelo projeto de dance music Boss in Drama. Além de seu trabalho autoral, Péricles mantém o nome do projeto em evidência com remixes para artistas como Rita Lee e Gretchen.

Já o DJ Guerrinha, produtor do Rio de Janeiro conhecido por seu trabalho com a banda Dorgas, diz que às vezes o melhor caminho está fora da rede, em vez de simplesmente colocar no ar mais "lixo digital". Ele resolveu gravar CDs em casa com seu trabalho e enviar pelos correios para interessados, principalmente para ouvintes da Europa. "Só hoje botei 20 no correio."

Quantidade x Qualidade

No Facebook, é obrigatório todo artista ter sua "fanpage", onde se divulgam informações e amostras do trabalho. Nestas páginas, um número alto de "curtidas" pode ser um índice da popularidade do artista, como no caso das quase 90 mil "curtidas" na página do Móveis Coloniais de Acaju.

Mas nem todos as "curtidas" são reais como as do Móveis. Há relatos de muitos artistas que participam de esquemas para inflar artificialmente sua popularidade nas redes. "Tenho amigos que fazem isso e acho triste", conta Guerrinha. "Acredito que existam formas bem mais inteligentes de aparecer."

Para Péricles Martins, os números não determinam muitas coisas. "Prefiro ter menos seguidores, mas que acompanhem o meu trabalho, do que ter muita gente que queira só dar risada do que eu falo." O funkeiro MC Guime, um dos maiores sucessos do YouTube brasileiro, com mais de 40 milhões de visualizações de seu hit "Plaque de 100", acredita que "a credibilidade é mais importante".

Streaming

Anunciadas como "a nova forma de ouvir música", plataformas de streaming como Deezer, Rdio e Spotify, cada vez mais populares, se tornaram canais obrigatórios, ainda que controversos.

"Como ouvinte, acho esses serviços incríveis, mas o que eles pagam para o artista é uma vergonha", diz Péricles.

Alexandre, do Apanhador Só, questiona se esses serviços não estão na contramão da internet, ao possivelmente beneficiar mais a indústria do que o artista. Mesmo assim, reconhece ser vantajoso ter sua obra disponível por ali, dentro da lógica de oferecer o maior número possível de opções ao ouvinte.

O Móveis Coloniais de Acaju, que teve seu mais recente disco "De Lá Até Aqui" divulgado com exclusividade no Deezer, garante que a ação foi positiva. "Nossos fãs tiveram contato com o serviço e muitos usuários deles nos conheceram. Na semana de lançamento, fomos a segunda banda mais ouvida no Brasil, só atrás da Anitta", conta Ofuji.

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