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Cotidiano

Incentivo e amor: escritora deixa bilhetes nas ruas

O objetivo de Paola Serafim é muito simples: Fazer com que as pessoas parem um pouquinho seu cotidiano para ler algo que as retire de suas preocupações.

LG Rodrigues

Publicado em 25/08/2019 às 09:19

Atualizado em 28/08/2019 às 12:54

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Escritora deixa bilhetes com seus versos por onde passa / Paola Serafim/Arquivo Pessoal

São textos que colorem o cinza da cidade. São versos que quebram o concreto melancólico. São mensagens que aquecem as frias viagens. Esses são os trabalhos de uma escritora de Santos que tenta há dois meses levar um pouco mais de alegria aos moradores que encontram seus pequenos e delicados bilhetes espalhados pela Baixada Santista.

O objetivo de Paola Serafim é muito simples: Fazer com que as pessoas parem um pouquinho seu cotidiano para ler algo que as retire de suas preocupações, distraia de suas tristezas e quem sabe até as inspire para o novo dia que enfrentam. E, ao que tudo indica, os bilhetes colados em bancos de conduções, em pontos de ônibus, ou em qualquer local que necessite de um pouco de brilho estão cumprindo seus papéis.

“Eu não imaginei que alguém de fato fosse dar atenção, mas as mensagens que recebo das pessoas dizendo que era o que elas precisavam naquele dia acabam aquecendo demais meu coração. É a melhor sensação do mundo poder incentivar pessoas que eu nem conheço e transformar um pouquinho o dia do outro”, afirma.

O motivo que levou Paola a começar a escrever seus bilhetes, entretanto, não foi nem de longe tão agradável quanto as mensagens que ela deixa cidade afora. A escritora de 26 anos, que também trabalha com marketing, mídias sociais e fotografia, nasceu com neoplasia cólon retal, que é um tipo de câncer que ocorre no intestino grosso.  A doença, infelizmente, apareceu depois no ovário de Paola e em seguida, no estômago.

“Tudo o que aconteceu nessa trajetória de tratamento, somada a realidade da doença e as coisas tristes que presenciei acabaram mudando minha vida. Depois de tanta luta e a superação da doença, eu sentia que carregava uma bagagem muito pesada de experiências mesmo sendo tão jovem. E queria de alguma maneira poder transformar isso em coisas boas, deixar mensagens por aí para que possa melhorar o dia de alguém”.

As pequenas mensagens de Paola começaram a ser escritas no começo deste ano, mas foi só apenas há dois meses que ela começou a posicioná-las. A idéia veio num momento de inspiração ao observar a correria desenfreada das pessoas em suas rotinas presas fixamente às telas de celulares e outras mídias.

“Eu pego transporte público todos os dias, ando por aí para pensar e vou a lugares, mas sinto que as pessoas estão se perdendo, sabe? A gente não olha as coisas, não dá valor para os pequenos detalhes do nosso dia a dia, que tem tanta coisa importante e bonita que a gente deixa passar. O problema é a falta de atenção nossa com o mundo lá fora. Quem sabe uma mensagem de rua faça com que as pessoas olhem pro mundo, ou uns para os outros para começar”, explica.

A opção por deixar pequenas mensagens foi escolhida por Paola como a mídia perfeita tanto para que ela pudesse expressar seus sentimentos quanto para que o público pudesse absorver suas mensagens mais facilmente. A escritora explica que sempre tocou instrumentos musicais e cantou, mas achou na escrita o seu lugar ideal.

“Eu procurei maneiras de me expressar, mas tinha vergonha de me expor diretamente. Eu sempre gostei muito de ler, e sempre que conto um pouquinho da minha história pra alguém ouço diversas vezes ‘você deveria escrever um livro’. Mas infelizmente eu sinto que a cultura da leitura longa é pouco valorizada e que isso não causaria talvez o impacto que eu gostaria de causar. Minha história é legal, mas como tudo na vida ela seria esquecida quando acabasse o livro. Agora, uma pequena frase que a gente viu num ônibus de manhã fica na cabeça. E a idéia não é contar a minha história em si, mas ser uma ‘palavra amiga’ no dia a dia de outras pessoas. Eu acho que um ‘vai ficar tudo bem’ vale mais do que ‘olha eu passei por isso’”, diz.

E os bilhetes são deixados por Paola em qualquer local que ela acredite ser mais oportuno, seja em pontos de ônibus, ruas, banheiros, postes, qualquer lugar pode virar um ambiente de exposição para as mensagens da escritora. E essa espontaneidade também se traduz para o conteúdo das mensagens.

“Acho que vem do dia a dia mesmo sabe, sabe aquilo que você gostaria ou precisava ouvir naquele dia? Então, é mais sobre isso, mas também escrevo de amor, de união, de decepção, de sentimentos. Eu escrevo o que eu sinto, o que eu penso”.

E caso você não dê a sorte de topar com um dos bilhetes da Paola por aí, então não se preocupe, porque a artista criou recentemente o perfil ‘@devaneiosdepaola’ que conta com uma página no Facebook e uma no Instagram. Então se você não achar aquela mensagem inspiradora que você precisa para te dar uma forcinha para enfrentar o dia ou apenas para te abrir um sorriso no meio da sua rotina, você só precisa acessar as redes sociais da escritora.

“As mensagens por aí são a minha pequena revolução, para que ninguém se sinta sozinho, desmotivado, para que ninguém desista do que quer, mas principalmente para que as pessoas não desistam de si, da sua própria vida”.

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