Em um dos momentos mais assustadores, precisou saltar diante de uma multidão enquanto ouvia: "Nossa refeição está saltando" / Reprodução
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Os livros que narram as vivências do litoral paulista estão cheios de episódios intrigantes, e poucos são tão marcantes quanto o encontro do alemão Hans Staden com a tribo tupinambá, nas matas de Ubatuba, em 1554.
A história mistura aventura, perigo e choque cultural, oferecendo uma perspectiva única sobre os primeiros contatos entre europeus e indígenas no Brasil.
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Como já dito, a região respira a história. Veja também Litoral brasileiro já teve a ilustre visita de um Papa; relembre a história.
Staden chegou ao Brasil em duas ocasiões, ainda nas primeiras décadas após o “descobrimento”. Na primeira viagem, destacou-se em ações militares que ajudaram a conter uma revolta em Pernambuco, recebendo até condecorações por sua atuação. Mas foi em sua segunda expedição que viveu o episódio que o tornaria famoso.
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Tudo começou quando ele embarcou em uma missão espanhola rumo ao Rio da Prata. Após naufrágios e tempestades, Staden acabou em Itanhaém, vindo de São Vicente, onde foi contratado para ajudar a defender o forte de Bertioga, alvo frequente de ataques tupinambás.
Durante uma expedição pela mata, acabou cercado e capturado pelos indígenas.
Em seus relatos, descreve os tupinambás como guerreiros destemidos, nus, armados com lanças e arcos, que mordiam os próprios braços em sinal de ameaça.
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Ele tentou se passar por aliado dos franceses, mas a estratégia não funcionou. Condenado a ser devorado em um ritual de vingança, passou nove meses em cativeiro, vivendo sob a constante ameaça de morte.
Em um dos momentos mais assustadores, precisou saltar diante de uma multidão enquanto ouvia: “Nossa refeição está saltando”.
Anos depois, Staden esclareceu que o canibalismo tupinambá não era motivado pela fome, mas por um ritual simbólico de humilhação e vingança.
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Tentativas de resgate por franceses e espanhóis fracassaram, e somente o avanço de doenças trazidas pelos europeus, junto ao medo de represálias divinas, levou os líderes indígenas a libertá-lo.
No final de outubro daquele ano, Hans Staden embarcou em um navio francês rumo a Paris. De volta à Alemanha, publicou “Duas Viagens ao Brasil”, livro que se tornaria um clássico, oferecendo ao mundo uma narrativa vívida e única do contato entre europeus e indígenas no litoral paulista — vista pelos olhos de quem quase perdeu a própria vida.