14 de Outubro de 2024 • 08:47
O golfinho da espécie Toninha, apelidado de “Pepê”, por ter sido encontrada em Peruíbe, e que esta há 70 dias em tratamento no Centro de Recepção e Triagem de Animais Marinhos (Cetas), unidade da Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá, será solto nesta terça-feira (7).
A ação acontece na Ilha Queimada Pequena, há 20 km da costa, próxima de onde o animal foi encontrado, e conta com o apoio do Grupamento de Bombeiros Marítimo (GBMAR), Policia Ambiental, e do Instituto Chico Mendes de Itanhaém.
Na oportunidade, uma tartaruga verde, de 50 centímetros, que também estava em tratamento, será solta. A toninha será libertada na região em que foi encontrada, pois como é um animal que vive em grupos endêmicos, a probabilidade dela reencontrar outros membros de seu grupo familiar é muito grande, pois os golfinhos tem uma avançado sistema de comunicação com outros membros de sua espécie.
O Cetas Guarujá conta com parceria do Gremar-Pesquisa, Educação e Gestão Ambiental. A presença de uma toninha em cativeiro chamou a atenção de pesquisadores de outras regiões do Brasil, que desenvolveram estudos de bioacústica.
Segundo a médica veterinária e coordenadora do Gremar, Mariana Zillio, quando o animal chegou à unidade era alimentado por sonda e monitorado 24 horas por dia, pois tinha perdido a capacidade de nadar e flutuar. “Sua recuperação foi lenta e difícil, mas a toninha venceu! Não há casos de recuperação de toninhas em cativeiro, especialmente nessas condições, pois ela chegou bastante ferida por redes e sinais de afogamento, o que prejudicou sua plena capacidade pulmonar. A decisão de ser solta é resultado da capacidade dela se alimentar por conta própria”, diz Mariana.
Segundo a veterinária, nunca um animal da espécie sobreviveu tanto tempo. “Pepê recuperou a capacidade de nadar e respirar. Nós percebemos que ela abria a boca e tentava se comunicar. Por esse motivo, entramos em contato com outras instituições. Isso gerou uma valiosa troca de informações, com cientistas de outras regiões que estão fazendo pesquisas sobre a espécie", afirmou Mariana.
Um dos objetivos do Cetas/Gremar é a pesquisa científica. “Os estudos de bioacústica ampliarão o conhecimento científico sobre a espécies", ressaltou a veterinária Andréia Maranho, que entrou em contato com outras instituições para o desenvolvimento das pesquisas.
Conhecimento – A recuperação de Pepê trouxe a visita das pesquisadoras Annelise Colin Holz, do Projeto Toninhas/Univile-Universidade de Joinvile (SC), e Franciele Resende de Castro, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que estão desenvolvendo pesquisas de bioacústica com o animal. Annelise faz pesquisas de bioacústica na Bahia de Babitonga, em Santa Catarina; porém com animais soltos, o que dificulta a observação e análise dos sons emitidos pelos mesmos.
"No Brasil, é inédito um animal dessa espécie sobreviver tanto tempo em cativeiro. A toninha é uma espécie de golfinho “Pontoporia blainvillei” habita apenas no Atlântico Sul, do Espírito Santo à Patagônia. É um animal discreto, vive em águas escuras e por sua coloração é de difícil observação e está em extinção", explicou a bióloga do Projeto Toninhas/Universidade de Joinvile-Univile. Segundo a pesquisadora, as toninhas emitem três tipos de sons: clicks, sons pulsados que servem para a ecolocalização, como um sonar, sendo o principal sentido deles; burst pulse, indicativo de stress, e o assobio, usado para a comunicação social no grupo. "Até agora identificamos sons de burst pulse e assobio, mas queremos avançar nas pesquisas e no conhecimento sobre a espécie que ainda é muito escasso", disse Annelise.
Já Franciele ressaltou a importância de desenvolver estudos sobre a espécie: "É um animal muito raro. Não é fácil manter o animal dessa espécie tanto tempo fora de seu habitat. Temos que unir esforços e avançar nas pesquisas", disse a bióloga da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Resgatando vidas – Além da Pepê, atualmente cerca de 20 animais estão sob os cuidados do Cetas/Gremar. Entre eles, fragatas, atobás (também conhecido como alcatraz ou mergulhão) e tartarugas. Aqueles que não conseguem se recuperar, mas também não conseguem retornar à vida na natureza são encaminhados a parques e zoológicos.
Só são soltos os animais que apresentam 100% de avaliação social, comportamental, status sanitário capacidade física. “Eles são anilhados e monitorados após a soltura”, disse Andrea Maranho, que se diz ansiosa pelo retorno dos animais à vida marinha. “Gosto de ver os bichos soltos, felizes.”
A técnica chama a atenção para a conscientização das pessoas sobre o respeito ao meio ambiente. “Todos têm que fazer sua parte. Não é porque o animal é marinho que ele está longe de sofrer as consequências de uma atitude errada. Pelo contrário. Um simples papel de bala que você joga no chão pode parar no estômago de algum deles. São pequenas ações que podem se refletir em um bem enorme. O lixo da praia que você recolhe e leva consigo é um simples gesto, mas que pode impedir uma morte.”
Cuidados – Os técnicos do Cetas orientam: “Quem achar animais nas praias ou áreas urbanas, sejam em que condições, não devem se aproximar ou tocá-los. Os bichos são selvagens, portanto desenvolvem os seus mecanismos de autodefesa. Sendo assim, eles podem morder, bicar, enfim, podem ferir e até transmitir doenças. Por isso, é imprescindível que as pessoas, ao avistarem um bicho, acionem os guarda-vidas, a Polícia Ambiental ou a nossa equipe.”
O Cetas/Gremar está localizado no quilômetro 14,5, da Rodovia Guarujá/Bertioga. O telefone da unidade é 3386-3110.
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