Cotidiano

Gigantes do sorvete são acusados de sufocar fabricantes locais no Brasil

As companhias são acusadas de adotarem práticas comerciais predatórias, como a venda de produtos abaixo do custo de produção e a imposição de contratos de exclusividade a varejistas

Ana Clara Durazzo

Publicado em 24/12/2025 às 19:15

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A Abrasorvete afirma que produtores locais dos estados do Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo já formalizaram queixas detalhadas, pedindo uma intervenção urgente / ImageFX

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A atuação das multinacionais Unilever e Froneri — joint-venture da Nestlé — no mercado brasileiro de sorvetes está no centro de uma nova controvérsia. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Sorvetes (Abrasorvete) acusa as companhias de adotarem práticas comerciais predatórias, como a venda de produtos abaixo do custo de produção e a imposição de contratos de exclusividade a varejistas, o que estaria sufocando a concorrência local.

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Segundo a entidade, os preços praticados por grandes marcas não refletem os custos industriais do setor. 'Quando uma multinacional vende um pote de sorvete por um valor que mal paga a matéria-prima e a logística, ela não está competindo, ela está sufocando o mercado para reinar sozinha depois', afirmou o presidente da Abrasorvete, Martin Eckhardt. 'O que estamos vendo são gigantes globais praticando preços que fogem a qualquer lógica de custo industrial.'

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Queixas em diversos estados

A Abrasorvete afirma que produtores locais dos estados do Ceará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo já formalizaram queixas detalhadas, pedindo uma intervenção urgente. Entre os exemplos citados, há casos de potes de 1,5 litro sendo vendidos por menos de R$ 9, valor que, segundo a associação, chega a ser três vezes inferior ao preço médio praticado por fabricantes regionais.

A entidade diz representar cerca de 10 mil empresas do setor de sorvetes no Brasil, a maioria de pequeno e médio porte, que dependem de margens apertadas para manter a produção e os empregos.

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Exclusividade e denúncias de 'luvas'

Além dos preços, a Abrasorvete aponta o uso de contratos de exclusividade como um dos principais entraves à concorrência. 'Recebemos relatos constantes de associados que são impedidos de vender seus produtos ou até de realizar eventos em locais públicos devido a travas contratuais impostas por essas companhias', disse Eckhardt.

Segundo ele, há ainda denúncias de pagamentos diretos, conhecidos como “luvas”, que podem chegar a R$ 20 mil para pequenos estabelecimentos, como padarias e mercados de bairro, em troca da exclusividade no uso de freezers e equipamentos. A prática, segundo a associação, teria como objetivo retirar produtos locais dos pontos de venda.

Tentativa de diálogo e possível ação judicial

A Abrasorvete afirma que enviou pedidos formais de diálogo às empresas em 3 de dezembro, mas até o momento não obteve retorno. Diante do silêncio, a entidade não descarta recorrer à Justiça ou acionar órgãos de defesa da concorrência.

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O que dizem as empresas

Procurada, a Unilever encaminhou o pedido de comentário para a Magnum Ice Cream Company, que recentemente concluiu a separação de suas operações do grupo europeu de bens de consumo. No Brasil, a Magnum detém marcas como Kibon e Magnum.

Em nota, a companhia afirmou que não tem conhecimento de qualquer notificação formal por parte da Abrasorvete e declarou que “reitera seu compromisso com a livre concorrência, atuando em estrita conformidade com a legislação vigente e com seu código de conduta, que orienta a competição de forma ética, transparente e leal, em benefício dos consumidores e de um ambiente concorrencial saudável”.

A Froneri também negou irregularidades. Em comunicado, a empresa disse que “pauta sua atuação pelo estrito cumprimento da legislação vigente e pelas melhores práticas de livre mercado”. A companhia afirmou ainda que sua política de preços é resultado de investimentos em eficiência operacional, tecnologia e otimização da cadeia de suprimentos, o que permitiria oferecer produtos competitivos e acessíveis aos consumidores.

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Enquanto o embate avança, o setor aguarda os próximos passos. Para os fabricantes locais, o desfecho do caso pode definir o futuro da concorrência em um mercado que movimenta bilhões de reais e tem forte impacto sobre pequenos negócios espalhados por todo o país.

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