Cotidiano

Fungo da Amazônia pode ser arma fundamental para combate a problema global

Descoberto por cientistas da Universidade de Yale, o fungo é capaz de degradar plástico resistente em ambientes sem oxigênio e levanta esperança de uso contra a poluição global

Ana Clara Durazzo

Publicado em 05/08/2025 às 11:00

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Imagem meramente ilustrativa / Freepik

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No coração da Floresta Amazônica, um organismo microscópico está chamando a atenção da ciência mundial por seu potencial de revolucionar o combate ao lixo plástico. O fungo Pestalotiopsis microspora, identificado por pesquisadores da Universidade de Yale durante uma expedição em 2011, é capaz de se alimentar de plástico resistente, como o poliuretano, um dos mais difíceis de degradar.

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A descoberta acende um alerta positivo em meio à crescente crise ambiental provocada pelo acúmulo de resíduos plásticos em rios, oceanos e aterros. Segundo estudos, o fungo pode sobreviver e degradar plásticos mesmo em ambientes anaeróbicos, ou seja, sem a presença de oxigênio, como os encontrados em aterros sanitários. Essa capacidade o torna um candidato promissor para aplicações em larga escala no tratamento de resíduos.

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Como funciona o fungo que “come” plástico

Nos testes laboratoriais, o fungo demonstrou a habilidade de usar o poliuretano como sua única fonte de carbono, degradando-o por meio de enzimas que quebram suas complexas ligações moleculares. O resultado é a transformação do plástico em compostos simples, absorvidos pelo metabolismo do fungo. uma forma natural de “digestão” de resíduos sintéticos.

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A partir disso, pesquisadores passaram a ver no micro-organismo uma possível solução biotecnológica para enfrentar um dos materiais mais duradouros e poluentes da era moderna. Usado em espumas, isolantes, solados de sapato, tintas e peças industriais, o poliuretano não se decompõe naturalmente e pode permanecer no meio ambiente por séculos.

Um fungo com potencial global, mas que exige cautela

Apesar do entusiasmo, os cientistas alertam: ainda é cedo para aplicar o fungo em larga escala. A eficácia do Pestalotiopsis microspora depende de condições laboratoriais controladas, como temperatura, umidade e substrato. Além disso, por ser nativo da Amazônia, qualquer tentativa de uso fora de seu habitat exige estudos rigorosos de biossegurança.

Há o risco de que o fungo, ao interagir com novos materiais ou ambientes, degrade outros compostos além do plástico, gerando impactos ecológicos imprevisíveis. Para evitar isso, pesquisadores trabalham no sequenciamento genético do fungo e na produção sintética das enzimas responsáveis pela degradação, o que permitiria reproduzir sua função sem usar o organismo vivo.

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Outro caminho promissor é o desenvolvimento de biorreatores especializados, capazes de simular o ambiente ideal para a atuação do fungo. Esses sistemas poderiam ser instalados em aterros, usinas de reciclagem ou centros de tratamento de lixo urbano.

Biotecnologia e biodiversidade: uma aliança estratégica

A descoberta do Pestalotiopsis microspora é apenas uma entre outras que mostram o papel da natureza no combate ao lixo plástico. Em 2016, cientistas identificaram uma bactéria do gênero Ideonella capaz de decompor PET, o plástico de garrafas. Em 2020, uma versão modificada dessa enzima acelerou ainda mais o processo.

Esses avanços reforçam a importância da biodiversidade como fonte de inovação científica. Estima-se que menos de 15% dos micro-organismos da Amazônia tenham sido catalogados. A proteção do bioma amazônico, portanto, é também uma estratégia de desenvolvimento tecnológico e ambiental.

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A ciência como aliada do planeta

Ainda que o fungo devorador de plástico não seja uma solução imediata, sua descoberta representa um avanço simbólico e prático. Ela mostra que a ciência, aliada ao respeito pela natureza, pode abrir caminhos inéditos para enfrentar os danos causados pelo próprio ser humano.

Enquanto a biotecnologia avança, o combate à poluição plástica também exige educação, redução do consumo, leis eficazes e mudanças de comportamento. Mas agora sabemos: a floresta guarda não só vida, mas respostas. E, talvez, uma delas tenha vindo na forma silenciosa de um fungo que habita as sombras do subsolo amazônico e que pode, no futuro, ajudar a regenerar o planeta.

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