'Fiz para provocar debate', diz estudante de direito acusado de racismo em Santos

Um estudante de direito de Santos gerou revolta nas redes sociais ao compartilhar memes racistas em seus status do Whatsapp. Foram os próprios colegas de curso que denunciaram o jovem, de 18 anos, à universidade que ele frequenta, pedindo a sua expulsão. Ele diz que foi mal interpretado, que não é racista e que a sua intenção com as imagens era a de 'provocar debates'. (Veja a galeria com as imagens ao final desta reportagem)

A Universidade Católica de Santos (Unisantos) disse que notificou o Ministério Público para averiguação e providências. E a Reportagem conversou com jovem. Confira como foi:

1) Você disse que foi mal interpretado. Em que sentido?

Não sou racista. Quem me conhece, sabe.  Eu fiz isto para provocar debate. Meus memes sempre são neste sentido de provocação e não tenho a intenção de ofender ninguém.

2) Você não acreditava que essas postagens poderiam causar nas pessoas a sensação de que você é racista?

Infelizmente, agora sim. Às vezes sou irônico e sarcástico e quis levantar discussão, mas errei a forma. Quando me dei conta, nem mesmo ao pedir desculpas no grupo entenderam a minha real intenção. Fiquei surpreso quando vi o que estavam pensando sobre estes memes, pois não condiz com a realidade. Lamentei e tentei explicar, mas já não fui ouvido.

3) Em sua avaliação o racismo existe? Qual o seu pensamento sobre essa questão?

Sim, com certeza. Alguns seres humanos precisam odiar algo ou alguém. Isso é triste. As pessoas usam temas para poder expor seu sentimento de ódio. Não acredito que quem odeie um negro foque apenas nisto. Ele é alguém que odeia. Ponto.

4) Uma das suas postagens era sobre o homem negro morto por um policial nos EUA em que, no meme, ele agradecia o fato do espírito dele ter ficado "branco". Qual mensagem esse meme passava?

Esse meme faz alusão à morte do George Floyd e eu queria entender das pessoas se elas sabiam ao que a ilustração fazia alusão e suas opiniões. Não concordo com a imagem, de forma alguma. Mas queria falar sobre ela, levantar discussão. Apenas isto.

5) A repercussão foi grande. Muitos de seus colegas de curso estão bem chateados e há uma grande movimentação pedindo até a sua expulsão da universidade. Como você está lidando com isso?

Para alguns já consegui me explicar, mas há uma grande maioria que não permite meu acesso. Estou mal porque não tive a intenção de ferir e nunca imaginei que isto aconteceria comigo, que sou um cara que normalmente provoca debates e conversas sobre tudo.

6) Você pensa em procurar auxílio psicológico?

Não penso em procurar um psicólogo, mas certamente estou revendo meus conceitos e a forma de me expressar. Aprendizado enorme e muita tristeza em uma situação que não precisava acontecer. Me entristece principalmente o que as pessoas possam sentir, ao pensar que eu me pronunciaria desta forma.

7) O que você falaria para as pessoas neste momento?

Que a intenção jamais foi a de ofender. Eu estou tão chateado quanto ou mais que elas, de imaginar o sofrimento que eu causei.

CARTA DE RETRATAÇÃO

O estudante encaminhou à Reportagem um texto em que ele pede desculpas por todo o transtorno causado. Leia na íntegra:

Racista? Não. Nem agora, nem nunca. Porque discriminar alguém pelo tom de sua pele? Que sentido isso pode fazer? A minha ideia era colocar memes que virassem discussões, para que eu pudesse compartilhar minhas ideias de como combater esse mal. Errei. Não é momento para levantar hipóteses, é momento de se posicionar diretamente. Eu esperei que pudesse me posicionar a partir dos questionamentos. Falar contra o racismo, dar meu ponto de vista de como eu vejo essa luta... que deveria ser de todos. Errei na forma, peço desculpas por isso. Peço desculpas a quem, sem querer, eu feri. Dentro de minha juventude, tentei fazer diferente, mas a fórmula saiu errada e todos os nossos erros têm um preço. Perdão. Essa lição fica para dentro de mim. Para sempre.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

Procurada a Universidade Católica de Santos disse que notificou o Ministério Público para averiguação e providências cabíveis. A partir dessa apuração, serão avaliadas as medidas institucionais aplicáveis.