Os impactos já começam a ser mensurados em estudos internacionais / Divulgação
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As praias brasileiras, incluindo as do litoral paulista, estão passando por um processo acelerado de perda de área que preocupa cientistas sul-americanos. O fenômeno, descrito como um “esmagamento” dos ecossistemas costeiros, resulta da combinação entre o avanço do nível do mar e a urbanização crescente das faixas de areia.
Os impactos já começam a ser mensurados em estudos internacionais, que destacam riscos para a biodiversidade, o turismo, a pesca e a segurança de cidades litorâneas.
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A tendência, segundo pesquisadores, é que a situação se agrave nas próximas décadas se o manejo ambiental continuar limitado. Uma cidade do litoral de São Paulo inclusive corre o risco de desaparecer completamente devido ao avanço do mar.
O tema foi detalhado pelo cientista marinho Omar Defeo, professor da Universidad de la República (UdelaR), durante o simpósio FAPESP Day Uruguay.
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Em sua apresentação, Defeo reforçou que a união de mudanças climáticas e ocupação imobiliária está comprimindo as zonas que compõem um ecossistema praial.
Essa estrutura, explicou ele, funciona de forma interdependente: dunas, faixa de areia e área submersa trocam sedimentos continuamente, um processo fundamental para a estabilidade da costa.
Quando a duna desaparece em razão de construções, a proteção natural diante de temporais deixa de existir. Isso amplia o risco de destruição em imóveis à beira-mar, tornando as cidades mais vulneráveis a eventos extremos.
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Em estudos realizados com pesquisadores brasileiros apoiados pela FAPESP, Defeo e sua equipe demonstraram que qualquer alteração em uma das três zonas da praia — duna, faixa de areia ou antepraia — impacta todo o ecossistema.
O trabalho liderado pelo pesquisador brasileiro Guilherme Corte analisou 90 pontos distribuídos por 30 praias do litoral norte de São Paulo e revelou que o número de banhistas foi o principal fator de urbanização associado à redução da riqueza de espécies e da biomassa, especialmente nas áreas submersas.
A presença de edificações sobre a areia e a limpeza mecânica também contribuíram para a queda desses indicadores.
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Os dados, publicados no periódico Marine Pollution Bulletin, mostraram ainda que a abundância de indivíduos aumenta nos locais mais urbanizados devido à presença de espécies oportunistas, como alguns tipos de poliquetas, que se beneficiam do incremento de matéria orgânica gerado pela atividade humana.
Os autores destacam que os impactos não ficam restritos à área onde ocorrem. Construções, grande fluxo de visitantes e manejo inadequado da areia seca alteram negativamente as zonas inferiores da praia, interferindo nos organismos que vivem em áreas constantemente alagadas.
Outro estudo conduzido por Defeo em parceria com cientistas brasileiros, publicado na revista Frontiers in Marine Science, apontou que cerca de 20% das 315 praias avaliadas em diferentes continentes já apresentam erosão intensa, extrema ou severa.
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O grupo analisou fatores como aumento do nível do mar, padrões de vento e comportamento das ondas, observando que as ações humanas intensificam o processo, principalmente em praias refletivas, conhecidas no Brasil como praias de tombo, e em praias intermediárias.
A apresentação de Defeo ocorreu na sessão dedicada às ciências oceanográficas do FAPESP Day Uruguay, que também contou com a participação dos pesquisadores Marcelo Dottori (USP), Cristiana Seixas (Unicamp) e Natália Venturini (UdelaR).
A abertura do evento reuniu representantes de instituições científicas do Brasil e do Uruguai, incluindo Alvaro Brunini, presidente da Agencia Nacional de Investigación e Innovación (ANII), e Marcio de Castro, diretor científico da FAPESP.
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Os estudos reforçam que a gestão integrada entre países vizinhos é essencial para mitigar a perda acelerada das praias — um desafio que já se torna evidente na costa brasileira e que deve afetar profundamente a dinâmica das cidades litorâneas nas próximas décadas.