26 de Abril de 2024 • 06:14
As famílias estão também utilizando as redes sociais para mostrar indignação sobre o problema / Divulgação/PMS
Um grupo de mães e pais de pessoas especiais de Santos está entrando com uma representação (denúncia) no Ministério Público (MP) contra a Secretaria de Saúde de Santos para garantir prioridade na vacinação de seus filhos maiores e que não estão incluídos no cadastro no Benefício de Prestação Continuada (BPC), que engloba, geralmente, especiais em vulnerabilidade social - baixa renda.
As famílias estão também utilizando as redes sociais para mostrar indignação sobre o problema que, segundo acreditam, atinge dezenas de pessoas, muitas sofrendo em silêncio para evitar exposição. A Reportagem também conseguiu o contato direto com três mães.
Uma das que se manifestou online foi Samantha Rillo. Ela conta que tem um irmão de 43 anos com paralisia cerebelar atáxia e retardo neuropsicomotor, conhecido como Síndrome de Dandy Walker.
A família estava contando os minutos para chegar a data de vacinação dele, no Salão da Igreja de São Benedito, na Avenida Afonso Pena 350.
"Meu irmão tem mentalidade de uma criança e leva muito as mãos ao rosto. Ele estava pronto desde às 6 horas para irmos às 14 horas ao posto. No entanto, ele não pôde ser vacinado por uma determinação que se encaixa em preconceito social por não possuir o BPC", enfatiza ela, alertando que o irmão chorou por conta da recusa.
Samantha conta que deficientes permanentes estão sendo vacinados no Rio de Janeiro. "Eu vi na TV. Já fui orientada a fazer uma reclamação na Ouvidoria, mas isso é muito mais profundo. Vi deficientes chorando em crise incontroláveis. Os atendentes dizendo que está sendo assim o dia todo.
Fernanda Santos Rodrigues e sua filha, a estudante de Direito Beatriz Santos Rodrigues Trianorki, também estão questionando. Beatriz tem 23 anos e apenas 3% da visão. "Pela Lei Brasileira de Inclusão, pessoas com deficiência têm prioridade. A lei não diz nada sobre BPC. Tem muita gente como eu e até em situação pior que eu",
lamenta.
Fernanda completa: "minha filha teve um acompanhamento bom desde pequena e é praticamente independente, mas há outras pessoas com deficiência que se submetem a riscos diários, porque acabam tendo contato com inúmeras pessoas. Estão passando por cima de uma lei federal", afirma, enfatizando a ida ao MP.
Regina Célia de Andrade Kaitzor tem duas filhas autistas - Raphaela e Regina Kaitzor - com 28 e 33 anos respectivamente.
"Infelizmente, levei minhas duas filhas e não consegui vacina-las. Disseram que elas não tem o BPC. Estou com muito medo porque elas têm problemas de saúde e dispersas. Tenho dificuldades para convencê-las a usar as máscaras", conta.
Ivone dos Santos Roberto tem um filho, Rodrigo dos Santos Roberto, de 45 anos e afirma que seu filho possui um deficiência que desconhece.
"O que sei, é que ele possui coordenação motora insuficiente e problemas de fala. Ele está afastado do trabalho e a vacina é muito importante para que ele volte às atividades. Também porque meu outro filho contraiu Covid-19 e chegou a ser internado e se salvou por milagre. Não existe inclusão. Só o apoio da mãe", afirma revoltada.
PREFEITURA.
Procurada, a Prefeitura de Santos informa que a limitação para vacinar pessoas com deficiência permanente que recebam o BPC é uma determinação do Governo do Estado de São Paulo.
A Administração cita documento técnico de vacinação contra a covid-19, que é um arquivo público e pode ser baixado no portal do governo estadual. Por meio deste documento, é obrigatório aos municípios a exigência de comprovante do BPC.
A Prefeitura finaliza ressaltando ainda que o Estado encaminha doses limitadas para este público, em quantidade estimada por ele. Qualquer sensibilização para ampliar o grupo a ser vacinado deve ser feita junto ao Governo do Estado.
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