Cotidiano

‘Eu acho bem possível que consigamos afastar o Temer’, afirma Carlos Zarattini

O líder do PT na Câmara fala ao DL sobre a votação no plenário da Casa que trata da denúncia envolvendo o presidente, a reforma da Previdência e a defesa do ex-presidente Lula

Publicado em 29/07/2017 às 10:00

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Carlos Zarattini analisa que governo Temer tem plano para modificar a estrutura econômica e social do Brasil / Matheus Tagé/DL

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O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) é o atual líder do PT, principal partido de oposição ao governo Michel Temer, na Câmara.

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O parlamentar veio até a Baixada Santista para dialogar com a base do partido e com os movimentos sindicais, a fim de passar um panorama da situação política em Brasília e o posicionamento da legenda em determinadas questões.

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Em entrevista ao Diário do Litoral, Zarattini teceu críticas ao governo Temer, falou sobre as denúncias envolvendo o presidente, a reforma da Previdência e a defesa do ex-presidente Lula.

Diário do Litoral - Como está o trabalho de interlocução na Câmara sobre a votação em plenário envolvendo a denúncia contra o presidente Michel Temer?

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Carlos Zarattini – Nós temos um objetivo muito claro que é afastar o Temer porque é um governo que desgraça o Brasil. É um governo que está levando o País a uma situação de penúria, o desemprego aumentando, o povo não vislumbra nenhum horizonte. As finanças públicas estão arrebentadas. Eles conseguiram, por conta da recessão, jogar a arrecadação federal, estadual e municipal lá para baixo. E agora, para arrematar toda essa obra, eles dão um aumento de imposto nos combustíveis que vai onerar, não só os alimentos que são fundamentais para o povo, e também o transporte público, que inevitavelmente vai aumentar.

Diário - A organização “342 agora”, que faz um levantamento do placar da votação, coloca um total de 207 a favor da investigação e 147 indecisos. O presidente estaria mais perto do quórum para absolvição. O senhor acredita que será possível aprovar a denúncia?

Zarattini – É possível. Estamos observando que a pressão nas bases dos deputados vem aumentando muito. O próprio blog “342” está divulgando essa posição. Nós do PT criamos um blog onde fornecemos todos os endereços, telefone e Facebook dos deputados. E o povo está pressionando. Isso, inevitavelmente acaba atingindo os deputados. Então, eu acredito que, hoje, tenhamos por volta de 250 deputados favoráveis ao afastamento. E existem deputados que se declaravam favoráveis ao Temer, e que agora já estão ficando em dúvida. O próprio Marcelo Squassoni (PRB-SP), aqui da Baixada, andou dizendo por aqui que estaria em dúvida sobre o seu voto. E ele estava dado como voto a favor do Temer. Você vê que é uma movimentação muito grande. Eu acho bem possível que consigamos afastar o Temer.

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Diário - Falam sobre uma possibilidade de uma nova denúncia da Procuradoria-Geral contra o presidente Temer, essa já respaldada também por delações premiadas do ex-deputado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro. O senhor acredita nesta possibilidade?

Zarattini – O próprio (Rodrigo) Janot disse que vai fazer uma segunda, e talvez uma terceira, denúncia. Então, evidentemente que se nessa votação o Temer não for afastado, haverá uma segunda chance dele ser afastado. E aí ficará claro quem votou com Temer, quem votou a favor do afastamento, e aí o movimento popular, as pessoas, os eleitores vão poder se concentrar sobre aqueles que votaram a favor do Temer.

Diário - Como o PT avaliou a disposição do Planalto em liberar emendas parlamentares no período da votação da denúncia na Comissão de Constituição de Justiça e às vésperas da votação no plenário da Câmara?

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Zarattini – É uma atitude do Governo que é muito óbvia. Ele utiliza o dinheiro do orçamento público para beneficiar os deputados nas suas bases eleitorais, e com isso “comprar o voto” desse deputado. Agora, o que aconteceu ontem? O Governo, por falta absoluta de dinheiro, foi obrigado a cancelar verbas do PAC. E justamente essas verbas seriam verbas que iriam garantir esse pagamento das emendas. Então, eu acredito que muitos deputados já perceberam que não vão receber por aquilo que vão votar. É mais um fator para agravar a situação do Temer.

Diário – O senhor é um defensor das “Diretas Já” neste momento. Por que seria o melhor caminho para o Brasil?

Zarattini – Veja, se a gente afastar o Temer vai entrar o Rodrigo Maia. O Rodrigo Maia, se ele for eleito por uma eleição indireta para fazer um mandato tampão, ele não terá legitimidade para fazer o que ele pretende. O que nós achamos o melhor caminho para o Brasil? Antecipar as eleições do ano que vem para esse ano. Não só eleições para presidente, mas eleições para o Congresso também. Teríamos uma eleição geral. Depois elegeríamos os governadores, mas agora seria o Presidente e o Congresso. Isso seria muito bom na medida que garantiríamos que o presidente que assumisse teria o aval da maioria do povo brasileiro para executar as medidas necessárias para superar a crise.

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Diário - Como a oposição enxerga a saída de Rodrigo Janot e a entrada de Raquel Dodge? As investigações envolvendo o núcleo político da Operação Lava Jato correm algum risco?

Zarattini – Acho muito difícil. As denúncias que chegaram ao Ministério Público através de investigações e delações consubstanciaram e elas tem que ser formatadas como denúncias ou serem arquivadas. Então, o Ministério Público terá que se posicionar sobre cada um desses fatos. É inevitável, ele não pode engavetar. Engavetar seria uma desmoralização. Acredito que eles farão uma avaliação dessas denúncias, verificar o que tem e o que não tem fundamento e dar prosseguimento.

Diário - Uma outra luta do PT é em relação ao ex-presidente Lula. Como foi recebida a condenação em primeira instância?

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Zarattini – Nós recebemos como uma profunda injustiça que foi cometida contra o ex-presidente. Não existe nenhuma prova contra ele nesse processo. A única coisa que existe é a delação de um empresário, Léo Pinheiro, que ficou preso mais de um ano, que foi condenado a 23 anos de prisão em regime fechado e que tem mais de 70 anos. Essa pessoa resolveu sair da cadeia. Como? Fazendo uma delação contra o ex-presidente Lula. Agora, não existe uma prova sequer de que o Lula foi proprietário ou teve a posse desse apartamento, desse famoso tríplex. Nós achamos que o Tribunal Federal vai ter a condição de revogar essa decisão e absolver o ex-presidente.

Diário - Em entrevista recente o senhor fez uma comparação entre Lula e Tiradentes. Em qual sentido?

Zarattini – Essa decisão do (juiz Sérgio) Moro de congelar, bloquear, confiscar os bens do presidente Lula é uma medida extrema. Ele, inclusive, parte do princípio de que o presidente Lula tem outro salário, uma aposentadoria de ex-presidente, coisa que não existe. O que a gente sente? Que é um verdadeiro ódio de algumas pessoas do sistema judiciário contra o ex-presidente. E isso eu comparei com Tiradentes porque Tiradentes, depois que foi enforcado, foi esquartejado e até a terra onde morava foi salgada para que não nascesse uma planta sequer. No entanto, o Tiradentes sobreviveu na memória do povo brasileiro até hoje. Então, o ex-presidente Lula será sempre lembrado pelas coisas que ele fez de bom para o País. Não adianta o juiz Sérgio Moro e outros promotores e juízes quererem apagar a memória dele. Isso será sempre uma memória positiva.

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Diário - Quais ações o partido planeja no sentido de realizar uma defesa do ex-presidente?

Zarattini – Vai haver um novo depoimento do Lula em Curitiba, em setembro. Nós vamos fazer um grupo de parlamentares e lideranças que vão acompanha-lo nesse momento. E nós vamos denunciar essa decisão do Moro que é uma decisão, como já disse, injusta e sem provas. Vamos, permanentemente, denunciar e reafirmar que o presidente Lula é inocente.

Diário - Caso o ex-presidente esteja, de alguma forma, impossibilitado de disputar as eleições de 2018, existe uma alternativa para o PT?

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Zarattini – Não existe plano porque nós temos convicção de que ele pode ser absolvido. Como pode alguém, sem provas, ser condenado? Não tem cabimento.

Diário - Uma outra bandeira do partido é a luta contra a reforma da Previdência. E paralelamente às manobras do Governo para se defender da denúncia do Ministério Público Federal, diversos ministros e o próprio presidente tem batido na tecla da necessidade de se aprovar a reforma. Como está a luta do partido neste tema? A reforma ainda voltará a pauta? Pois houve um sentimento que, após a denúncia contra o Temer, a reforma estaria enterrada.

Zarattini – Eu também achava. Mas existe uma desconexão do Palácio do Planalto com a vida real. O Temer vive, hoje, num mundo à parte. Ontem (quinta-feira), em um ato no Palácio (do Planalto), ele pediu palmas para ele mesmo. Ele está falando que está fazendo mais pelo País do que nunca foi feito. Eu acho que ele vive, realmente, em outro mundo. Não vive num Brasil real, onde as pessoas estão desempregadas, sofrendo, tendo problemas. E isso leva eles a falar que vão conseguir aprovar essa reforma. O fato é que não vejo número de deputados suficientes que vão peitar essa reforma, que vão colocar favorável o seu voto em uma reforma que tira o direito de se aposentar de milhões de brasileiros.

Diário – Então, o senhor acredita que a reforma da Previdência poderá ser barrada...

Zarattini – Eu acho que vai ser barrada.

Diário - O que é mais desgastante: lutar contra a reforma da Previdência, a favor da investigação contra o presidente Temer ou a defesa do ex-presidente Lula?

Zarattini – Tudo é desgastante porque estamos enfrentando altos interesses. Interesses não só de pessoas muito poderosas no Brasil, como interesses internacionais. Na verdade, esse governo está servindo para implantar uma modificação em toda estrutura econômica e social do Brasil. O interesse é em acabar com os benefícios que foram conquistados pelo povo brasileiro e de entregar nossas riquezas ao capital internacional. O petróleo vai ser leiloado para multinacionais, vão permitir a venda de terras para estrangeiros, querem vender as hidroelétricas brasileiras, querem abrir 20 mil áreas de mineração em todo o País. Tudo isso para o capital estrangeiro poder entrar no Brasil e ficar dono das nossas riquezas. É um projeto estruturante e nós estamos enfrentando esse projeto, vamos continuar enfrentando e tenho certeza que o povo brasileiro vai derrotar esse projeto.

Diário - Foi anunciado hoje que as contas do setor público tiveram rombo recorde de R$ 35 bilhões no 1º semestre. Como o senhor avalia isso como economista e líder do PT?

Zarattini – Esse rombo é exatamente por conta de uma política recessiva, que parou a economia. Essa política recessiva começa com a paralisação dos investimentos da Petrobras, que é 15% do PIB nacional, com a paralisação dos financiamentos do BNDES adotado pela ex-presidente Maria Sílvia, que parou os investimentos, e com a própria queda de renda do povo por conta do desemprego. Então, o empresário não vai investir se não tiver mercado e para de investir. Para o investimento público estatal e para o investimento privado. Consequentemente, a economia fica estagnada. Estamos vendo que, com a economia estagnada, você não tem negócios que gerem arrecadação de impostos. Porque o imposto é sempre sobre um determinado negócio ou renda. Isso não está ocorrendo. A economia está diminuindo e a arrecadação idem. O resultado é que o Governo tem gastos efetivos a fazer, pagar os aposentados, pagar as despesas, pagar os juros da dívida. Isso gera todo esse déficit gigantesco que estamos vendo.

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