Cotidiano

Estudo liga ultraprocessados e microplásticos a riscos à saúde mental

O aumento no consumo desses itens acendeu o alerta principalmente pela presença crescente de microplásticos em sua composição

Ana Clara Durazzo

Publicado em 14/07/2025 às 08:40

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Exemplos incluem macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes / Freepik

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Presentes cada vez mais no dia a dia da população, os alimentos ultraprocessados vêm gerando preocupação entre especialistas devido aos riscos à saúde. Produzidos industrialmente com ingredientes como óleos, gorduras, açúcares, amidos e proteínas isoladas, esses produtos também recebem aditivos químicos, como corantes, aromatizantes, conservantes e realçadores de sabor, além de passarem por diversas etapas de processamento.

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Exemplos incluem macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes. O aumento no consumo desses itens acendeu o alerta principalmente pela presença crescente de microplásticos em sua composição.

Estudos até agora

Em maio deste ano, a revista científica norte-americana Brain Medicine publicou uma coletânea de quatro artigos que reforçam as evidências de que essas micropartículas plásticas podem estar se acumulando no cérebro humano. Segundo os pesquisadores, há indícios de que os microplásticos afetam a saúde cerebral por múltiplas vias biológicas interligadas, o que pode estar contribuindo para o aumento global de transtornos mentais.

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A conexão entre os alimentos ultraprocessados e a saúde mental também foi abordada por uma revisão publicada em fevereiro de 2024 pelo grupo BMJ. O levantamento concluiu que pessoas que consomem esses alimentos têm risco 22% maior de desenvolver depressão, 48% maior de sofrer com ansiedade e 41% maior de apresentar distúrbios do sono.

Especialista em Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da USP, a professora Thais Mauad explica que a maioria dos ultraprocessados é embalada em plástico e sofre um processo chamado lixiviação — quando aditivos plásticos, como bisfenol e microplásticos, migram para os alimentos. “Esse processo se intensifica quando o alimento é aquecido dentro da embalagem. Por isso, existe a hipótese de que o consumo desses produtos leve a uma maior ingestão de microplásticos”, afirma.

Embora ainda não haja comprovação científica dos efeitos dos microplásticos no cérebro humano, estudos com animais já mostram que essas partículas são neurotóxicas. “Há evidências de que causam inflamação, estresse oxidativo e até danos ao DNA”, relata Thais. Em humanos, os impactos seguem sendo investigados. “A coletânea publicada em Brain Medicine propõe uma hipótese: a combinação entre o consumo de ultraprocessados e a presença de microplásticos poderia estar ligada ao aumento de doenças mentais ou neurodegenerativas — mas ainda é uma suposição”, esclarece.

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Desafios

Evitar a exposição a essas partículas, no entanto, é um desafio. “É praticamente impossível eliminar totalmente os microplásticos do cotidiano”, admite a professora. Ainda assim, ela recomenda medidas simples que podem minimizar os riscos, como evitar alimentos ultraprocessados e embalagens plásticas, não aquecer alimentos em recipientes plásticos, e não usar isopor ou copos descartáveis com bebidas quentes — especialmente no caso de crianças.

No cenário internacional, a professora destaca o avanço do Tratado Global do Plástico, que está em sua quinta e última versão. Mais de 100 países apoiam a redução da produção de plásticos não essenciais e a regulamentação de aditivos químicos prejudiciais à saúde. No entanto, Thais lamenta que o Brasil tenha se mantido à margem do acordo. “Infelizmente, o País não adotou uma postura firme nas negociações, seguindo a linha de outros membros do Brics. Isso é uma grande decepção. A poluição plástica representa um risco ambiental grave e precisa ser enfrentada com urgência”, conclui.

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