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Cuba é um país de referência mundial em saúde preventiva. Por isso, cursar Medicina naquele país tem se tornado o sonho de muitos estudantes, e por que não de alguns guarujaenses? Um deles é Júlio César Marques de Aquino, que está prestes a se tornar médico. Cursando medicina em Cuba, o estudante visitou Guarujá na última semana.
Na ocasião, ele veio ao Paço Moacir dos Santos Filho acompanhado do primeiro guarujaense graduado em Medicina em Cuba, Jefferson de Melo Santos. Eles foram recebidos pela prefeita Maria Antonieta de Brito, em seu gabinete, na última quarta-feira (2). “É com uma imensa felicidade que recebo estes grandes jovens. Esses dois guarujaenses são exemplos, pois batalharam muito para conseguir realizar o sonho em cursar Medicina em Cuba. Esses meninos são talentos da nossa Cidade”.
Além de rever a família, Júlio veio contar à prefeita o que tem aprendido. Agora, em 2013, ele entra para o 6º ano, pelo Instituto Superior de Ciências Médicas de Havana (Cuba). A sua passagem pelo Brasil termina neste domingo (6), quando já retorna.
Nascido em Guarujá, o estudante residia no Morro do Engenho com os pais e dois irmãos, até ir para Cuba. Já viveu no Sítio Conceiçãozinha e também na Vila Rã. Concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Prefeito Domingos de Souza, em 1998. Passou pelo Camp Guarujá. Ficou um ano parado, mas sempre buscou a Medicina paralelamente.
A infância e a adolescência não foram períodos fáceis para Júlio. De origem humilde, chegou a tomar conta de carro. Frequentou escola pública e sempre foi considerado bom aluno. Na Vila Rã, sua casa era de madeira e tinha apenas um cômodo. “Só tinha espaço para uma cama e a geladeira. A bicicleta ficava de fora, porque não tinha espaço”, comenta. Para alimentar a família, sua mãe pegava alimentos descartados na feira.
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Após um tempo, a família foi morar de aluguel próximo à Rua Idalino Pinez (Rua do Adubo), onde ficou por sete anos. Vendeu a casa e foi para o Morro do Engenho, em 1992. De lá para cá, atuou no Hospital Santo Amaro (HSA) e pela Prefeitura prestou concurso público, exercendo a função de auxiliar de câmara escura.
O começo de uma nova fase na sua vida se iniciava em 2002, quando conheceu a Educafro – Educação para Afrodescendentes Carentes (Núcleo Guarujá), para fazer o curso preparatório para o vestibular. Ele percebeu que seu sonho começava a ser tornar realidade. “Apresentei-me lá (na Educafro) e comecei a cursar”. As aulas eram aos sábados. Na época, a sede da Educafro ficava no bairro Morrinhos.
Após dois anos, prestou concurso em São Vicente, mas sem deixar de participar dos vestibulares de Medicina. Fez ainda um cursinho paralelo, como complementação. Afinal, se tornar médico sempre foi um sonho. Passou 10 anos tentando ingressar numa universidade de Medicina. Enquanto isso, formou-se técnico em radiologia. Depois, virou professor na própria Educafro e lecionou curso técnico, em uma escola na Enseada.
A sua chance surgiu quando tinha 25 anos. No entanto, naquele país as bolsas de estudo só são oferecidas para quem tem até 25 anos. “Nesse momento foi difícil decidir, sabe? Estava estabilizado, pois trabalhava em São Paulo, São Vicente e ainda dava aulas. Isso tudo sem deixar de estudar para Medicina. Imagine ter que jogar tudo para o alto?”. A coordenadora da Educafro o incentivou: “Você fecha os olhos e vai”.
A família sempre o apoiou e essa força foi primordial para enfrentar as dificuldades: conhecer uma nova cultura, bloqueio do idioma e a distância da família. A oportunidade era uma parceria do governo daquele país com a Educafro. Naquele momento, a oferta era de apenas duas bolsas para Guarujá. Para seguir no sonho, ele pediu demissão do emprego na Capital, conseguiu licença no trabalho em São Vicente e seguiu em frente.
A sua chegada em Havana ocorreu em 2007. O governo de Cuba assegurou ao estudante moradia, alimentação e apoio nos estudos. Permaneceu hospedado em república. Ficou por dois anos em Cuba. Retornou ao Brasil em 2009, para rever a família. Em todas as férias vem a Guarujá.
Lá, como processo de adaptação, teve que passar pelo chamado “primeiro tempo”, uma espécie de preparação ao idioma, além de matérias como Física e Biologia. Em abril de 2008, começou a cursar Medicina pelo Instituto. Durante este período, a sua licença do emprego em São Vicente recebeu aprovação, sem vencimentos por dois anos. Voltou ao País em julho de 2009, pois precisava tratar da licença e solicitar ajuda de custo ao prefeito vicentino. “Para este assunto, contei com a ajuda da prefeita Antonieta, que me colocou em contato para reunião com o chefe do Executivo da Cidade”.
Atualmente, o brasileiro profere palestras, com ênfase em motivação pessoal. “Se você acreditar, pode seguir adiante”, aconselha ele, que namora uma brasileira colega de universidade, e que é oriunda do Mato Grosso.
Bagagem
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O desejo de Júlio é trazer a experiência em saúde pública de Cuba para o Brasil demonstrando todas as características. Lá, ele participa de reuniões mensais para estudantes brasileiros, no Núcleo de Estudos de Saúde Comunitária. O foco é desenvolver pesquisas que envolvem a atenção básica, saúde da família dos dois países.
O conhecimento adquirido em saúde pública fez com que o guarujaense passasse a analisar o Brasil de uma maneira mais crítica. “Além de melhorar a estrutura, é preciso cuidar das pessoas. E é isso o que a prefeita Antonieta está fazendo em Guarujá”.
Principais estudos – A questão da mortalidade infantil foi um dos assuntos analisados pelo guarujaense. Em 2011, Cuba registrou um índice 4,9%. Já o Brasil, chegou a mais de 18%, no quesito. “A diferença entre é muito grande”. Agora, em relação ao programa de aleitamento materno, o Brasil está melhor. Outro item estudado foi a tuberculose.
Somando, já desenvolveu diversos estudos e projetos na área de saúde pública. Fica o destaque para um mapeamento realizado sobre a dengue, que ainda não está pronto. No estudo, o brasileiro é coautor no material que traça um perfil do comportamento da população com a doença. “A nossa pesquisa envolve Venezuela, Cuba e Brasil. Neste último, parte foi desenvolvida em Guarujá. “Me reuni com a equipe de combate à dengue e entrevistamos munícipes”. O intuito foi identificar a forma como a população deve ser conscientizada, para uma diminuição de casos da doença.
Livro
Sob o título “A importância de acreditar em si mesmo”, o brasileiro está finalizando um livro autobiográfico. A ideia surgiu a partir de uma palestra e tem o objetivo de contribuir com a expectativa de vida e o melhor emprego para as pessoas. “Quero que sirva como uma alavanca, para quem busca um bom emprego, por exemplo.
Primeiro formado da Baixada também é da Cidade
O primeiro graduado em Medicina em Cuba da Baixada Santista é de Guarujá. Formado em 2009, Jefferson de Melo Santos, sabe bem das dificuldades enfrentadas por Júlio. Morador da Vila Zilda, Jefferson, de 34 anos, é servidor de Guarujá desde 2011..
Hoje, atua na Secretaria Municipal de Saúde como assessor técnico da Diretoria de Unidade Básica de Saúde e Especialidades. Em Cuba, cursou Medicina na Escuela Latinoamericana de Ciencias Médicas (ELAM- Cuba). É profissional técnico em enfermagem.
A bagagem adquirida no período em que estudou em Cuba serviu para que Jefferson pudesse inserir em Guarujá, alguns projetos nas unidades básicas do Município. O servidor conhece a prefeita há tempos, afinal ela foi sua professora de cidadania por meio do projeto do Educafro. “Faz tempo que temos uma boa relação com a prefeita. Ela sempre nos recebe. E vejo que a chefe do Executivo tem feito muito por esta Cidade. Só não fez mais porque precisou ‘colocar a casa em ordem’.”, comentou.
Ele conta que a sua principal dificuldade no país foi também de se adaptar a cultura local. “Tive muitas falhas com o idioma. E a cultura é tão diferente. O que às vezes temos que acatar em Cuba, no Brasil seria ao contrário”.
De acordo com Jefferson, o principal desafio hoje é conseguir revalidar o título de reconhecimento da profissão. O processo é necessário para atuar no Brasil e só pode ser concedido pelo Conselho Federal de Medicina (Brasileiro). Os estudantes estrangeiros passam por provas anuais (para revalidação), com conhecimento específico. “Cheguei ao Brasil em 2010 e já realizei três destas provas”, explica.
Educafro
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É um projeto social desenvolvido em todo o País, por meio de regionais. Em Guarujá, a Educafro trabalha a inclusão de jovens carentes e afro-descendentes, no Ensino Superior. Os beneficiados estão inseridos no Pro-Uni, podendo solicitar a inserção no regime de cotas das universidades, além de bolsas de estudo e ingressar ainda em outros países como Cuba e Venezuela, por exemplo.
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