Cotidiano

Este animal extinto morreu duas vezes e mostrou o preço de brincar com a vida

A ciência desafiou a natureza e reviveu uma espécie perdida, apenas para vê-la desaparecer de novo

Ana Clara Durazzo

Publicado em 24/10/2025 às 11:00

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Mais de duas décadas após a segunda extinção do bucardo, o caso continua sendo um divisor de águas na ciência moderna / Divulgação/Governo de Aragon

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Em janeiro de 2000, morreu Celia, a última fêmea conhecida do bucardo (Capra pyrenaica pyrenaica), uma subespécie de cabra montesa que habitava os Pireneus, na fronteira entre a França e a Espanha.
Com sua morte, a espécie foi declarada oficialmente extinta, encerrando uma linhagem que por séculos habitou as montanhas europeias.

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Mas essa não seria a última vez que o nome do bucardo apareceria na história. Três anos depois, em 2003, cientistas trariam Celia de volta à vida, ainda que por apenas alguns minutos.

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O retorno (e a segunda extinção)

Antes da morte da fêmea, pesquisadores coletaram amostras de sua pele e congelaram células em nitrogênio líquido, preservando o material genético. O objetivo era ousado: trazer uma espécie extinta de volta à vida.

Em 2003, uma equipe de cientistas espanhóis e franceses utilizou a técnica de transferência nuclear de células somáticas (TNCS), a mesma que deu origem à ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado com sucesso.

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Foram criados centenas de embriões, mas apenas um chegou ao fim da gestação. Uma cabra doméstica serviu como mãe de aluguel, e o nascimento ocorreu por cesariana, em julho de 2003.

O filhote nasceu morfologicamente saudável, mas logo apresentou problemas respiratórios graves.
De acordo com o estudo publicado na ScienceDirect, o clone 'morreu alguns minutos após o nascimento devido a defeitos físicos nos pulmões'.

'Uma fêmea de bucardo morfologicamente normal foi obtida por cesariana. O filhote morreu alguns minutos após o nascimento devido a defeitos físicos nos pulmões. O DNA nuclear confirmou que o clone era geneticamente idêntico às células doadoras.'
— ScienceDirect, 2003

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A necropsia revelou uma malformação pulmonar letal, impedindo a oxigenação adequada. Esse tipo de falha é comum em clonagens, devido a fatores como envelhecimento celular precoce, erros epigenéticos e problemas no desenvolvimento embrionário.

Assim, o bucardo se tornou o primeiro animal do mundo a ser extinto duas vezes, uma pela ação humana e outra pela limitação da ciência.

Um marco científico e ético

Apesar do desfecho trágico, o experimento representou um avanço histórico na biotecnologia. Foi a primeira vez que uma espécie extinta voltou à vida, ainda que por breves instantes. O feito abriu caminho para pesquisas sobre clonagem aplicada à conservação e ressurreição de espécies ameaçadas.

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Desde então, laboratórios em diversos países têm aprimorado técnicas de clonagem e edição genética para tentar reverter o desaparecimento de espécies. Casos recentes incluem estudos sobre o lobo-das-malvinas, o mamute-lanoso e o lobo terrível, cujo DNA foi parcialmente recriado em experimentos considerados bem-sucedidos.

A esperança no código genético

Mais de duas décadas após a segunda extinção do bucardo, o caso continua sendo um divisor de águas na ciência moderna. Para alguns, representa a esperança de recuperar espécies perdidas. Para outros, um alerta sobre os limites éticos da manipulação genética.

Entre o sucesso técnico e o fracasso biológico, o bucardo deixou uma marca única na história: foi o primeiro ser vivo a desafiar a própria extinção, ainda que por poucos minutos de vida.

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