Cotidiano
Essas adaptações, nascidas da falta de ingredientes e da imaginação dos imigrantes, construíram uma tradição que hoje é parte inseparável da gastronomia nacional
O bife à parmegiana, ícone das cantinas brasileiras, não é encontrado na Itália / Freepik
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Muitos dos pratos que figuram nos cardápios de cantinas brasileiras com nomes italianos jamais seriam encontrados em restaurantes da Itália. Segundo especialistas em gastronomia, eles são fruto da criatividade dos imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX e precisaram adaptar receitas diante da escassez de ingredientes originais.
O resultado foi a criação de uma cozinha própria, que hoje se espalha do Sul ao Sudeste do país e integra a identidade nacional: a culinária ítalo-brasileira.
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Bife à parmegiana: ícone das cantinas brasileiras, não existe na Itália. O prato mais próximo é a carne alla pizzaiola, mas sem queijo gratinado e sem o tradicional acompanhamento de arroz e batata frita.
Espaguete à bolonhesa: o verdadeiro molho da região de Emilia-Romagna é o ragù alla bolognese, servido com tagliatelle e cozido lentamente, bem diferente da versão simplificada servida por aqui.
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Polpetone: em São Paulo, virou um bolo de carne achatado e recheado de queijo. Na Itália, é assado em formato cilíndrico, parecido com um rocambole.
Rondelli: a massa recheada e gratinada é invenção brasileira. Na Itália, existe o rotolo di pasta, semelhante, mas com preparo distinto.
Palha italiana: doce feito de brigadeiro com biscoito, tipicamente nacional.
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Fogazza: quitute popular em festas paulistas, mistura de pastel frito com calzone. A versão italiana mais próxima é o panzerotto.
Pizza brasileira: sabores como frango com catupiry, estrogonofe e até chocolate não existem na Itália, onde as pizzas são individuais, fermentadas lentamente e com coberturas mais tradicionais.
Rodízio de pizza e massas: invenção verde-amarela; na Itália, cada pessoa pede a sua pizza.
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Linguiça calabresa: apesar do nome, é criação brasileira. A versão italiana mais próxima é a salsiccia cacciatora.
Sardella: o antepasto das cantinas paulistanas leva pimentão e sardinha; na Calábria, o original é o rosamarina, feito com peixes diferentes.
Risoto à piemontese: não existe no Piemonte. A versão brasileira mistura frango, presunto, ervilhas, champignon e creme de leite.
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Essas adaptações, nascidas da falta de ingredientes e da imaginação dos imigrantes, construíram uma tradição que hoje é parte inseparável da gastronomia nacional.
“Os primeiros imigrantes precisaram adaptar suas receitas ao que havia disponível no Brasil. Com o tempo, criaram uma cozinha própria, que já não é nem italiana, nem brasileira, mas ítalo-brasileira”, define Gerardo Landulfo, delegado da Accademia Italiana della Cucina.
Assim, pedir um bife à parmegiana ou uma pizza de frango com catupiry pode soar estranho a um italiano, mas para os brasileiros tornou-se símbolo de afeto, tradição e herança cultural.
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