Cotidiano

Erosão avança no Litoral de SP e praias chegam a perder até 3 metros de areia por ano

Estudo do Serviço Geológico do Brasil revela alta vulnerabilidade em praias de São Vicente e orienta ações urgentes de contenção e prevenção

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 22/07/2025 às 13:00

Atualizado em 22/07/2025 às 13:46

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Em alguns trechos da Praia do Gonzaguinha, houve perda de até 3 metros de areia por ano / Nair Bueno/DL

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O Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgou os resultados de um estudo detalhado sobre a erosão costeira em São Vicente, um dos municípios mais antigos do Brasil e com áreas densamente urbanizadas à beira-mar. O trabalho, desenvolvido ao longo de dois anos pelas equipes da Diretoria de Hidrologia e Território (DHT), revelou que diversas praias da cidade apresentam níveis preocupantes de vulnerabilidade, com perda significativa da faixa de areia e impactos diretos sobre a infraestrutura urbana.

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A apresentação ocorreu no dia 10 de julho de 2025, em formato online, com a participação da Defesa Civil de São Vicente e de outros parceiros institucionais. Segundo o SGB, as informações técnicas coletadas devem subsidiar políticas públicas mais eficazes de ocupação urbana e prevenção de desastres, especialmente em um contexto de agravamento dos efeitos das mudanças climáticas sobre o litoral brasileiro.

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O estudo, intitulado “Avaliação da Dinâmica Costeira Continental das Praias de São Vicente – SP”, combinou análises de imagens históricas de satélite e drones, dados geológicos e medições em campo. A partir disso, os pesquisadores conseguiram traçar o comportamento da linha de costa entre 2009 e 2022 e identificar áreas que registraram erosão de até 3 metros por ano, como ocorreu na Praia do Gonzaguinha.

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Situação das principais praias de São Vicente

Cada praia analisada apresentou características distintas em relação à dinâmica costeira e ao nível de exposição aos eventos extremos, como ressacas. Abaixo, um resumo das principais conclusões por localidade:

Praia de Itararé: Apresentou acréscimo de faixa de areia (progradação), mas continua com vulnerabilidade média. Seu perfil plano e a presença de construções próximas ao mar tornam a área suscetível a danos em dias de ressaca mais intensa.

Praia do Gonzaguinha (faixa oeste): Apesar da faixa de areia relativamente larga, sofre impactos frequentes de ressacas, que ameaçam estruturas urbanas próximas. Em alguns trechos, houve perda de até 3 metros de areia por ano.

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Praia de Paranapuã: Apresenta uma dinâmica complexa, com setores de erosão e outros de estabilidade e acréscimo de areia. Seus atributos naturais estão mais preservados, o que garante maior resiliência durante períodos de mar agitado, sem prejuízos relevantes à população local.

Praia dos Milionários, Gonzaguinha e Parque Prainha: Classificadas como as áreas mais vulneráveis do estudo. São as mais impactadas pelas ressacas e exigem maior atenção do poder público para evitar prejuízos sociais e ambientais.

O levantamento também apontou que o interior da Baía de São Vicente sofre com um déficit sedimentar — ou seja, perde mais areia do que ganha ao longo do tempo. Há ainda uma obstrução no fluxo de sedimentos que deveriam alimentar essas praias, especialmente os provenientes da Praia de Itararé e da Ilha Porchat. Essa limitação agrava o problema da erosão em todo o sistema praial da baía.

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Recomendações para a gestão costeira

Com base nos dados obtidos, o SGB listou uma série de recomendações para orientar o planejamento urbano e a gestão do litoral em São Vicente. As medidas priorizam ações sustentáveis e de caráter preventivo, como:

  • Preservação de elementos naturais, como a vegetação nativa, dunas e bermas, para reforçar a proteção contra ressacas e conter o avanço do mar sobre calçadões e construções.
  • Criação de um sistema de monitoramento e alerta, para evacuação rápida em caso de eventos extremos, especialmente em áreas de maior risco como Milionários, Gonzaguinha e Parque Prainha.
  • Atualização do mapeamento de risco geológico, considerando os novos dados sobre erosão e vulnerabilidade costeira.
  • Parcerias com universidades e centros de pesquisa, para propor soluções que estabilizem ou reduzam a erosão por meio de intervenções não rígidas (como recomposição de dunas) ou obras com baixo impacto ambiental.
  • Modelagem hidrodinâmica da Baía de São Vicente, a fim de compreender melhor o comportamento das correntes, das ondas e do transporte de sedimentos, permitindo projetar cenários futuros e planejar intervenções.
  • Continuidade do monitoramento das praias com drones, imagens multitemporais e geotecnologias, para acompanhar a evolução da linha de costa e os efeitos de eventos climáticos ao longo do tempo.

O uso de tecnologias como o Digital Shoreline Analysis System (DSAS) e imagens tridimensionais permitiu avaliar com maior precisão o volume de areia mobilizado, bem como identificar padrões de perda e ganho de sedimentos em diferentes escalas temporais. No caso do Gonzaguinha, por exemplo, foram registradas fases de erosão prolongada intercaladas com curtos períodos de acúmulo de areia, o que reforça a necessidade de um acompanhamento constante.

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Planejamento urbano com base na ciência

Segundo o SGB, os resultados do estudo estão disponíveis ao público na plataforma digital da instituição e devem ser incorporados pelas autoridades locais nos processos de licenciamento urbano, desenvolvimento de infraestrutura e estratégias de mitigação de riscos. A Defesa Civil de São Vicente participou ativamente da análise dos dados e reforçou a importância de alinhar o planejamento urbano à realidade ambiental da cidade.

O levantamento reafirma o papel do SGB como referência nacional na produção de dados geocientíficos voltados à prevenção de desastres naturais e à adaptação climática. Em cidades costeiras como São Vicente, onde a ocupação já avançou até a beira do mar, compreender a dinâmica da linha de costa é essencial para proteger a população, o patrimônio e o meio ambiente de forma sustentável.

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