O mankeeping não descreve falta de amor, mas um modelo afetivo que, quando desequilibrado, desgasta e adoece / ImageFX
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Um termo que vem ganhando força em pesquisas acadêmicas, consultórios de terapia e debates nas redes sociais joga luz sobre uma dinâmica antiga e silenciosa nas relações afetivas heterossexuais: o 'mankeeping'.
A expressão, cunhada pela pesquisadora Angélica Puzio Ferrera, da Universidade de Stanford (EUA), descreve a sobrecarga emocional que recai sobre mulheres quando homens depositam nelas toda sua demanda de acolhimento, organização afetiva e estabilidade emocional.
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A prática, segundo especialistas, vai além de ouvir desabafos. Inclui gerenciar crises, estimular a expressão emocional do parceiro, lembrar compromissos, cuidar das relações sociais e assegurar que tudo permaneça em equilíbrio, como se a mulher fosse responsável por 'manter o homem funcionando'.
'As mulheres têm sido solicitadas a assumir mais trabalho para se tornarem uma peça central do sistema de apoio social de um homem', afirmou Angélica ao New York Times.
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Estudos citados pela pesquisadora mostram que, na década de 1990, quase metade dos homens nos Estados Unidos recorria a amigos diante de problemas pessoais. Hoje, pouco mais de 20% faz o mesmo, e 15% afirmam não ter um amigo próximo.
Já as mulheres, historicamente, contam com redes externas, amigas, familiares, grupos de apoio, e muitas vezes, terapia.
Sem esse suporte, muitos homens fazem do relacionamento amoroso sua única fonte de apoio emocional, intensificando o ciclo de dependência.
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Quando essa centralização ocorre, dizem especialistas, a relação pode se transformar. A psicóloga Gisela Sparremberger explica:
'A mulher passa a organizar a rotina afetiva e social da relação. Propõe momentos a dois, lembra datas, puxa conversas difíceis e mantém a dinâmica que deveria ser compartilhada.'
Especialistas apontam que o mankeeping é fruto de questões históricas e culturais:
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Educação emocional desigual entre meninos e meninas;
Masculinidade tóxica, que inibe vulnerabilidade entre homens;
Mito do 'homem em construção', no qual cabe à mulher 'ensinar' o parceiro a amadurecer emocionalmente;
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Segundo a psicanalista Ana Tomazelli, essa dinâmica se conecta ao conceito de 'trabalho emocional' descrito pela socióloga Arlie Hochschild nos anos 1980 que, nas relações heterossexuais, recai majoritariamente sobre as mulheres.
O preço pago pelas mulheres
A sobrecarga pode resultar em:
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Ansiedade e esgotamento emocional
Depressão e baixa autoestima
Perda de identidade e individualidade
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Abandono de projetos pessoais e redes sociais
Sensação de solidão dentro da relação
Especialistas reforçam que não se trata de abandonar o apoio ao parceiro, mas equilibrar responsabilidades emocionais. Algumas recomendações incluem:
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Identificar o padrão e nomeá-lo na relação
Estabelecer limites emocionais
Estimular o parceiro a buscar apoio externo, como terapia
Reequilibrar papéis e criar espaço para as necessidades de ambos
O mankeeping não descreve falta de amor, mas um modelo afetivo que, quando desequilibrado, desgasta e adoece. O cuidado mútuo continua sendo a base das relações, porém cuidar não pode ser sinônimo de carregar sozinha.
O debate, reforçam as especialistas, é convite a novas formas de amar, mais igualitárias, maduras e sustentáveis emocionalmente para ambos.