Cotidiano

Entenda o 'mankeeping', fenômeno que sobrecarrega mulheres há tanto tempo

Pesquisa mostra que a responsabilidade de cuidar do emocional masculino tem recaído historicamente sobre as mulheres

Ana Clara Durazzo

Publicado em 02/11/2025 às 18:28

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O mankeeping não descreve falta de amor, mas um modelo afetivo que, quando desequilibrado, desgasta e adoece / ImageFX

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Um termo que vem ganhando força em pesquisas acadêmicas, consultórios de terapia e debates nas redes sociais joga luz sobre uma dinâmica antiga e silenciosa nas relações afetivas heterossexuais: o 'mankeeping'.

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A expressão, cunhada pela pesquisadora Angélica Puzio Ferrera, da Universidade de Stanford (EUA), descreve a sobrecarga emocional que recai sobre mulheres quando homens depositam nelas toda sua demanda de acolhimento, organização afetiva e estabilidade emocional.

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A prática, segundo especialistas, vai além de ouvir desabafos. Inclui gerenciar crises, estimular a expressão emocional do parceiro, lembrar compromissos, cuidar das relações sociais e assegurar que tudo permaneça em equilíbrio, como se a mulher fosse responsável por 'manter o homem funcionando'.

'As mulheres têm sido solicitadas a assumir mais trabalho para se tornarem uma peça central do sistema de apoio social de um homem', afirmou Angélica ao New York Times.

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Queda nas redes de apoio masculino

Estudos citados pela pesquisadora mostram que, na década de 1990, quase metade dos homens nos Estados Unidos recorria a amigos diante de problemas pessoais. Hoje, pouco mais de 20% faz o mesmo, e 15% afirmam não ter um amigo próximo.

Já as mulheres, historicamente, contam com redes externas, amigas, familiares, grupos de apoio, e muitas vezes, terapia.

Sem esse suporte, muitos homens fazem do relacionamento amoroso sua única fonte de apoio emocional, intensificando o ciclo de dependência.

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Da parceria ao 'maternar'

Quando essa centralização ocorre, dizem especialistas, a relação pode se transformar. A psicóloga Gisela Sparremberger explica:

'A mulher passa a organizar a rotina afetiva e social da relação. Propõe momentos a dois, lembra datas, puxa conversas difíceis e mantém a dinâmica que deveria ser compartilhada.'

Raízes culturais e emocionais

Especialistas apontam que o mankeeping é fruto de questões históricas e culturais:

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Educação emocional desigual entre meninos e meninas;

Masculinidade tóxica, que inibe vulnerabilidade entre homens;

Mito do 'homem em construção', no qual cabe à mulher 'ensinar' o parceiro a amadurecer emocionalmente;

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Expectativa feminina condicionada de que cuidar e acolher é parte natural do amor.

Segundo a psicanalista Ana Tomazelli, essa dinâmica se conecta ao conceito de 'trabalho emocional' descrito pela socióloga Arlie Hochschild nos anos 1980 que, nas relações heterossexuais, recai majoritariamente sobre as mulheres.

O preço pago pelas mulheres

A sobrecarga pode resultar em:

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Ansiedade e esgotamento emocional

Depressão e baixa autoestima

Perda de identidade e individualidade

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Abandono de projetos pessoais e redes sociais

Sensação de solidão dentro da relação

Como romper o ciclo

Especialistas reforçam que não se trata de abandonar o apoio ao parceiro, mas equilibrar responsabilidades emocionais. Algumas recomendações incluem:

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Identificar o padrão e nomeá-lo na relação

Estabelecer limites emocionais

Estimular o parceiro a buscar apoio externo, como terapia

Reequilibrar papéis e criar espaço para as necessidades de ambos

Relações mais saudáveis vêm do equilíbrio

O mankeeping não descreve falta de amor, mas um modelo afetivo que, quando desequilibrado, desgasta e adoece. O cuidado mútuo continua sendo a base das relações, porém cuidar não pode ser sinônimo de carregar sozinha.

O debate, reforçam as especialistas, é convite a novas formas de amar, mais igualitárias, maduras e sustentáveis emocionalmente para ambos.

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