Cotidiano

Efeito Labubu: Conheça o ícone pop que virou vítima do próprio sucesso

Com vendas explosivas, filas quilométricas e revendas por milhares de dólares, o auge da febre Labubu levou a Pop Mart a atingir cifras astronômicas

Ana Clara Durazzo

Publicado em 07/08/2025 às 10:30

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A crise do Labubu também escancarou um dilema comum em fenômenos de consumo: até que ponto uma comunidade é valorizada como fã, e não apenas como cliente / Divulgação

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O que começou como um brinquedo de aparência excêntrica, com orelhas de coelho e sorriso largo, virou símbolo de status, moeda emocional e fenômeno mundial. Criado pelo artista de Hong Kong Kasing Lung e lançado pela gigante chinesa Pop Mart, o Labubu não era apenas uma boneca colecionável, era um passaporte para um mundo de prestígio pop e pertencimento digital.

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Com vendas explosivas, filas quilométricas e revendas por milhares de dólares, o auge da febre Labubu levou a Pop Mart a atingir cifras astronômicas: cerca de US$ 870 milhões em receita com a linha The Monsters até a metade de 2024. A abertura de capital da empresa chegou perto de US$ 1,8 bilhão, impulsionada por uma base de fãs fiel e obcecada.

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Uma estratégia de escassez calculada

A Pop Mart aperfeiçoou a fórmula da escassez. Edições limitadas, lançamentos por geolocalização, sorteios via app e variantes raríssimas criaram um ecossistema onde o aleatório era o luxo.

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O Labubu se tornou o “coelho-elfo” dos sonhos, endossado por Rihanna, Dua Lipa e Lisa (Blackpink), transformando o brinquedo em acessório fashion e símbolo de desejo para a Geração Z.

Mas, no centro do sucesso, havia uma tensão: fãs cada vez mais tratados como algoritmos. Para conseguir uma unidade rara, era preciso acompanhar grupos no Telegram, usar bots, traquear lançamentos. A conexão emocional, por vezes, dava lugar à lógica de especulação.

A queda começa com os “Lafufus”

Em 2025, a narrativa virou. Autoridades chinesas desmantelaram uma quadrilha que comercializava mais de 5 mil Labubus falsificados, enquanto milhares de cópias piratas, os chamados Lafufus, inundavam o mercado de revenda. A falsificação corroeu a confiança da base de colecionadores, desvalorizou o produto e expôs uma fragilidade da marca: sua dependência do hype.

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A Pop Mart tentou reagir com etiquetas de autenticação e guias para verificar a originalidade dos bonecos. Mas o dano já estava feito. Em comunidades online, o sentimento dominante passou de euforia para frustração.

Fãs ou consumidores?

A crise do Labubu também escancarou um dilema comum em fenômenos de consumo: até que ponto uma comunidade é valorizada como fã, e não apenas como cliente? Muitos se perguntam se o sucesso poderia ter sido mais duradouro se a Pop Mart tivesse criado mecanismos de participação, pré-vendas exclusivas para fãs antigos, eventos com o criador Kasing Lung, versões customizadas votadas pela comunidade.

Em vez disso, prevaleceu a lógica da escassez. E quando o conteúdo deixou de evoluir, o vínculo emocional esfriou.

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Do hype ao legado?

Apesar da queda de mais de 50% nos preços médios de revenda em algumas regiões, o Labubu ainda brilha em camadas premium: colaborações com marcas como Coca-Cola, edições expostas no Louvre e peças de 1,20m leiloadas por US$ 170 mil em Pequim. Mas enquanto o topo prospera, a base racha.

Talvez o Labubu encontre estabilidade como marca de nicho, sustentada por spin-offs como Crybaby e Dimoo, leilões pontuais e grupos colecionadores. Ou talvez seja substituído por uma nova febre entre jovens consumidores em busca de pertencimento e identidade.

A febre que revelou mais do que vendeu

No fim das contas, o Labubu foi mais do que um brinquedo. Ele foi um espelho de uma era de incertezas em que o consumo se tornou alívio, e uma caixa-surpresa podia representar um sentimento de controle, de pertencimento, de identidade.

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O fenômeno Labubu revelou o poder e o risco do comércio emocional. Um vínculo com o público não se sustenta só com escassez, mas com significado. E enquanto a embalagem pode ser descartável, a experiência nunca deveria ser.

Adeus, Labubu? Ou apenas um recomeço? Em tempos em que conexão vale mais do que produto, talvez o próximo sucesso não precise apenas ser colecionável, mas compartilhável, construído em comunidade, e duradouro.

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