Professores da rede municipal de Santos aprendem a utilizar os fantoches em sala de aula. / Nair Bueno/DL
Famosos há décadas nos programas de televisão, os fantoches até hoje são utilizados para divertir espectadores de todas as idades.
Coloridos, engraçados e agradáveis de manusear, representam tudo o que as crianças gostam, mas ainda são pouco vistos como um importante instrumento para auxiliar na prática pedagógica.
O Grupo Primavera, organização da sociedade civil (OSC) criada em 1981 e situada em Campinas (SP), enxergou a possibilidade de trabalhar com fantoches em 2006 e desde então realiza capacitação de professores da rede pública de ensino com o Projeto Teatro de Fantoches.
Nesses encontros, os educadores aprendem a utilizar os bonecos corretamente em sala de aula para que transmitam os conteúdos pedagógicos de forma mais leve e divertida.
"É um recurso muito eficiente não só por utilizar o lúdico no ensino, mas pela capacidade que dá à criança de se expressar. Quando ela pega o fantoche é o boneco que está falando. Com essa liberdade, ela revela alegrias, angústias e formas de ver o mundo", esclarece e arte-educadora responsável pelas capacitações, Léia Simioni.
A iniciativa já passou por Manaus, Recife, Belo Horizonte, São Paulo e neste ano chegou a Santos pela primeira vez para capacitar 51 educadores de 21 escolas municipais de educação infantil e sete núcleos do Programa Escola Total/Jornada Ampliada. Segundo a Prefeitura, mais de 5.500 crianças serão beneficiadas.
Junto com a capacitação, realizada nos dias 16 e 30 de abril, 30 instituições receberam um kit com um cenário e 16 fantoches: dois meninos, duas meninas, gato, cachorro, alface, tomate, banana, semáforo, carro, motoqueiro, guarda de trânsito e smartphone. Mais dois encontros com outros 60 profissionais serão feitos nos dias em 4 e 11 de junho.
Todos os bonecos, criados pela gerente de produto Josiane Brito, ganham forma com a ajuda de 12 costureiras da comunidade Jardim São Marcos, local de alta vulnerabilidade onde o Grupo Primavera está localizado. As escolas também recebem um livro pedagógico com explicações, técnicas de manuseio e sugestões de histórias.
"Apesar de dar ideias, incentivamos que os professores criem, junto com as crianças, histórias a partir da realidade deles, do contexto social em que estão inseridos", explica a gestora executiva do Grupo Primavera, Ruth de Oliveira.
O educador João Henrique Nunes, professor de artes cênicas em dois núcleos do Programa Escola Total, conta que a maioria dos seus alunos, de seis a 11 anos, nunca tinha tido contato com esse tipo de boneco. "A euforia foi tanta que uma aluna até se emocionou. Apresentei os fantoches e eles já estão aprendendo a manusear e criar vozes diferentes para cada um. Vou utilizar o recurso para trabalhar valores. O teatro, seja o tradicional ou de fantoches, permite viver várias vidas numa só e isso ensina a ter empatia".
Além de utilizar os bonecos para contação de histórias, a professora de creche Andréia Pinho vai usá-los para abordar assuntos relacionados ao dia a dia. “Vou falar sobre temas mais concretos, como alimentação e resolução de conflitos”, diz.
Brincar com fantoches ajuda ainda a atrair a atenção das crianças para apresentar novos conteúdos, a trabalhar oralidade e timidez, comunicação, organização do pensamento, argumentação, observação, imaginação, cooperação, coordenação motora, tomada de decisões, improvisação, resolução de conflitos, ampliação de vocabulário, percepção do bem e do mal, gosto pelas expressões artísticas etc.
“É ferramenta, é brinquedo e é uma manifestação de arte. Infelizmente ainda muito pouco utilizada na sala de aula”, acrescenta Léia.
Viabilizado pela Lei Rouanet
O Projeto Teatro de Fantoches é realizado por meio do Programa de Apoio à Cultura (Pronac), implementado pela Lei Rouanet, conhecida por sua política de incentivos fiscais para projetos e ações culturais, nos quais empresas e pessoas físicas podem aplicar parte do Imposto de Renda devido.
A Uber, parceira da organização desde dezembro de 2017, escolheu as cidades de Santos, Campinas e Osasco para aplicação do projeto, que neste ano tem como tema “Segurança no Trânsito”.