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Cotidiano

Descaso com Guilherme Álvaro revolta pacientes

Além da demora no atendimento a Reportagem também verificou falta de zeladoria

Vanessa Pimentel

Publicado em 13/01/2018 às 11:00

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Maria do Socorro é paciente oncológica em tratamento há quatro meses no Hospital Guilherme Álvaro (HGA), em Santos. Para avaliar o andamento da doença marcou, a pedido do médico, uma tomografia para o dia 20 de dezembro passado. Mas, dois dias antes da realização do exame, Maria recebeu uma ligação de um funcionário do hospital dizendo que o equipamento estava quebrado e sem previsão de conserto. Correndo contra o tempo, acabou agendando o exame em uma clínica particular.

“Eu não tenho condições de ficar esperando esse tempo todo pelo reparo em um equipamento que até agora não me informaram quando vai acontecer”, explica.

É a segunda vez que Maria luta contra a doença em menos de 10 anos. Com sessões semanais de quimioterapia, passou a acompanhar também a degradação de um hospital que já foi referência regional no tratamento oncológico. Além do problema com o tomógrafo, a falta de materiais básicos como copos descartáveis e papel higiênico foi relatada.

A Reportagem foi até o local para verificar a situação. Logo na entrada do ambulatório (pela Avenida Siqueira Campos), uma multidão aguardava na frente do hospital porque dentro não havia mais espaço. As cadeiras destinadas à espera estavam lotadas. Dos oito guichês de atendimento, apenas quatro funcionavam e havia um ventilador ligado para cerca de 100 pessoas.

Maria Julia, de 70 anos, diz não entender a logística na forma como o atendimento no hospital é feito. “Eu faço acompanhamento médico, então vim para a consulta às 10 horas da manhã. O doutor pediu pra marcar o retorno e é aí que começa o problema porque precisa ficar na fila para pegar a senha e depois fila para esperar o guichê chamar e agendar o retorno. Nessa, estou aqui até agora”. A entrevista com Julia foi feita depois das três da tarde e ela estava na fila preferencial há cerca de cinco horas. Pela Lei Federal n° 10.048/2000, idosos com idade igual ou superior a 60 anos têm direito ao atendimento prioritário, ou seja, em tempo menor.

Marlene Augusta é paciente e afirma que o atendimento é excessivamente lento. “Tem dias que demoram quatro horas para chamar a senha, tem outros que demoram mais”, declara.

Além da lentidão, outros problemas foram constatados. Nos quatro banheiros visitados pela Reportagem – dois no térreo e dois no primeiro andar – não havia papel higiênico em todos os sanitários. A maioria contava apenas com o papel específico para secar as mãos. O cheiro de urina estava forte em três deles.

Quase todos os vasos sanitários não possuem mais assento. Duas descargas estavam com vazamento; o banheiro adaptado para deficientes físicos do primeiro andar estava interditado. Também há uma pia sem torneira, ralos destampados e baldes no lugar de sanitários que não foram instalados.

O bebedouro do térreo não funciona. Dos outros três, apenas um tinha copo descartável. Pelos corredores abafados, muitos idosos tentavam se refrescar com leques porque os ventiladores estão quebrados, assim como alguns assentos da ­espera.

“É um prédio enorme, cheio de especialidades e, em muitos casos, única opção de muita gente que mora na região. É uma pena ver isso acontecendo aqui”, diz Cleia da Silva, que desde a uma da tarde aguardava com o pai, de 73 anos, e em tratamento contra um câncer de próstata, serem chamados para agendar a próxima consulta.

Respostas

A Reportagem questionou a Secretaria de Saúde do Estado, responsável por gerir o hospital, para saber o motivo da demora no atendimento e a falta de zeladoria.

De acordo com o Diretor Técnico de Saúde III do Hospital Guilherme Álvaro, Ricardo Hayden, todas as medidas administrativas já estão sendo tomadas.

Em relação à falta de materiais básicos, como papel higiênico e copos descartáveis, Hayden explicou que há estoque suficiente e a equipe de limpeza repõe sempre que necessário, mas como o hospital tem uma grande demanda em atendimentos, há momentos em que o material acaba antes que a equipe verifique a reposição.

Para evitar que a situação continue acontecendo, o número de visitas da equipe de limpeza nos banheiros será maior, garantiu ele.  

Quanto aos ventiladores, segundo o diretor, muitos estão em manutenção. Enquanto isso, os aparelhos que estão em locais onde não há tanta necessidade de uso serão realocados para áreas com maior concentração de pessoas.

Em relação à demora no atendimento, Ricardo explicou que a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (PRODESP) está implantando nos hospitais estaduais um novo sistema que promete agilizar todo o processo. A previsão é de que os trabalhos sejam finalizados em até 60 dias.

“A integração nos sistemas começou ainda no ano passado, mas é demorada porque envolve a troca de máquinas e treinamento dos funcionários. Uma vez ­instalado, a previsão é de que o próprio médico, ao ­finalizar a consulta, já informe no sistema a data do retorno do paciente”, explicou Ricardo.

Disse ainda que no fim do ano passado houve uma reunião para discutir as baixas no efetivo do hospital e a possível contratação de funcionários para a recepção a fim de reduzir o tempo de espera das filas de agendamento das consultas.

Há também a previsão de troca das cadeiras de espera por longarinas parecidas com as instaladas em estádios, segundo Hayden.

Por fim, o aparelho de tomografia já foi consertado e os exames são realizados normalmente.  

O Guilherme Álvaro é o único hospital público estadual da Baixada Santista e Vale do Ribeira que contempla atendimento geral, ambulatório e de especialidade para atendimento exclusivo do SUS.

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