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O Rio Paraitinga, que na última sexta-feira (11) transbordou inundando parte da cidade de São Luiz do Paraitinga, no interior paulista, na sua pior cheia desde 2010, começou a baixar. Nesta terça-feira (15), de acordo com a prefeitura, as águas baixaram 3,8 metros, ficando a 1,6 metro do leito normal. Equipes estão trabalhando na limpeza da cidade e a expectativa é de que as famílias que estão nos abrigos voltem para suas casas a partir de amanhã (16). Segundo Eduardo Frederico, assessor da prefeitura, 115 pessoas permanecem fora de suas residências. Três famílias estão abrigados na Escola Municipal Coronel Domingues de Castro e mais 30 estão em casas de amigos e parentes.
Umas das desalojadas é Maria Aparecida Cabral, 41 anos, varredora de rua. Ela e seu filho de 8 anos perderam quase todos os pertences com a cheia de sexta-feira. “Perdi todas as roupas do meu filho, o fogão, uma cômoda cheia de roupas do meu filho. Só sobrou um colchão e uma geladeira”, disse. Maria declarou que preferiu não levar seus móveis para o abrigo, pois acreditou que a cheia do Paraitinga não seria tão grave. “Na hora, não achei que ia encher tanto”.
É a segunda vez que ela perde móveis e roupas com o transbordamento do rio. Em 2010, quando o Paraitinga ficou 18 metros acima do nível normal e foi decretado estado de calamidade pública na cidade, ela também a casa onde morava com o irmão. “Foi difícil perder tudo o que a gente conseguiu com sacrifício. Caíram cinco paredes da casa”, disse. Depois de ficar 11 meses em um abrigo, Maria resolveu alugar outra casa, também localizada às margens do rio. Agora teme que a casa atual, onde vive há um ano e sete meses seja interditada, por se tratar de um local de risco. “Não tenho para onde ir”, lamentou.
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A doméstica Marlene Conceição Figueira dos Santos, de 49 anos, conhece bem a escola em que está abrigada desde sexta-feira com sua família de 8 pessoas. Em 2010, a água do rio chegou até a escola e ela teve de subir no telhado para ser resgatada. Marlene mora há 27 anos nas margens do Rio Piratininga, e já presenciou diversas cheias. Na de 2010, ela lembra do desespero das pessoas com a rápida subida do rio. Houve elevação do nível das águas para 18 metros acima do comum em apenas 12 horas. Morando na mesma casa devastada pela enchente há três anos, Marlene teme que o ocorrido se repita. “Nós guardamos na cabeça. Eu pensei, meu Deus, será que vai começar tudo de novo?”.
A auxiliar de almoxarife, Ilza Toledo, de 30 anos, quando percebeu que o rio começou a subir, na sexta-feira, ergueu os móveis para evitar que fossem destruídos. “A gente tira as coisas de casa, mas fica por perto. Ninguém fica tranquilo”. No sábado (12) pela manhã, no entanto, precisou abandonar o local e se abrigar na casa da mãe. “A gente fica bem apreensivo, quase não dorme. Só hoje eu consegui comer, no fim de semana não comi praticamente nada”, disse já de volta à casa onde mora. Ela confessa que gostaria de ir para outro local, mas os aluguéis dos imóveis da parte alta da cidade são mais elevados. Aqui na parte baixa, o aluguel é bem mais barato. Só que aí tem o risco, o barato acaba saindo caro”, declarou.
A dona de casa Cleusa Alves Campos Silva, 52 anos, mora de frente para o rio. E, segundo ela, o estado de atenção entre os moradores é permanente. “Quem mora aqui no rio, não fica sossegado. O rio começa a encher, nós ficamos com medo de vir uma outra enchente igual à de 2010”. Segundo Cleusa, naquele ano o rio subiu muito rápido. “Eu estava na garagem, quando fui para os fundos chamar a filha e a neta, a água já tinha entrado na casa. Então, não deu tempo para nada”.
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Depois da enchente de 201, quando a casa ficou submersa, Cleusa e o marido decidiram não comprar mais nada de valor para mobiliar a residência. “Quem mora na beira do rio não pode ter coisas boas. Só o essencial”, disse. Apesar da insegurança, deixar a casa onde vive desde quando nasceu está fora dos seus planos. “Não penso em mudar daqui, porque essta é a minha casa. Tenho medo, mas Deus é maior”.
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