Cotidiano
Criado na periferia de Guarujá, no Litoral de SP, o judoca encontrou no esporte um caminho de disciplina, superação e reconhecimento internacional
Conheça a história do judoca Kainan Pires, que saiu da periferia de Guarujá em busca do sonho olímpico / Renan Lousada/DL
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Filho de uma mãe faxineira e criado com três irmãos, Kainan Pires enfrentou uma infância marcada por dificuldades comuns às famílias da periferia brasileira. A falta de saneamento básico, as limitações no acesso à educação e a realidade da escassez moldaram os seus primeiros anos.
“Meu pai saía às 7h da manhã e só voltava à noite. Minha mãe preparava o almoço, cuidava de nós e nos trancava em casa antes de sair para trabalhar, para nos proteger das influências negativas da favela”, relembra Kainan.
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Foi justamente essa busca por proteção que aproximou Kainan do esporte. Por ser uma criança que brigava muito na rua, sua mãe decidiu que ele precisava de uma atividade disciplinadora. Enquanto o irmão foi para o futebol, ele começou a praticar judô em uma escolinha gratuita no Guaíba, aos 10 anos de idade.
Logo no primeiro ano, mostrou talento. A estrutura rígida da escolinha e o treinamento militarizado do professor moldaram seu caráter e despertaram sua paixão pelas artes marciais.
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“O professor era militar e muito rigoroso. Corríamos 5km por dia, fazíamos centenas de abdominais. Era difícil, mas sou muito grato. Aquilo me preparou para tudo que conquistei.”
Assista ao vídeo abaixo no Instagram:
Apesar de ter iniciado a trajetória sonhando em representar o Brasil nas Olimpíadas, Kainan aceitou uma proposta para lutar por Portugal, motivado por melhores condições profissionais e qualidade de vida.
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“Sempre tive muito amor pelo Brasil, mas entendi que meu objetivo era o resultado — não importava de onde viesse. Portugal me deu essa oportunidade.”
Segundo ele, a mentalidade competitiva e a estrutura do esporte em Portugal são muito mais avançadas. Isso influenciou não só na sua evolução como atleta, mas também na decisão de se naturalizar português, mesmo sem ter família no país.
A trajetória no judô transformou também a realidade da sua família. Kainan foi o primeiro a seguir uma carreira esportiva séria e, com os frutos dessa jornada, abriu portas para sua irmã estudar em uma escola particular. “Ganhei bolsa de estudos, me mudei, minha irmã também teve oportunidades por conta dos meus resultados. Tudo mudou.”
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Hoje, Kainan usa sua história para inspirar jovens em situação de vulnerabilidade. “Se a criança acredita, ela consegue. Mas é preciso mostrar a ela o caminho. Quando o técnico dizia que eu podia ser atleta profissional, eu acreditava, mesmo sendo só um menino. Acreditei no sonho dele — e realizei o meu.”
A próxima competição de Kainan já tem data marcada: 19 de maio, na Espanha. Ele precisa perder 11 kg em 11 dias para competir em uma nova categoria. A classificação nesta etapa pode garantir sua presença em eventos internacionais ao longo do ano.
“No ano passado, cheguei a me classificar, mas a categoria foi anulada. Agora é refazer todo o caminho, com ainda mais foco.”
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Kainan mantém os olhos no grande objetivo: as Olimpíadas de 2028. Com disciplina, paixão e uma história de superação, ele quer mostrar que sonhos nascidos na periferia também podem subir ao pódio.