Cotidiano
O achado, liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) revelou a existência da 'Aegla tamanduatei' e da 'Aegla curucutu.'
A 'Aegla tamanduatei' foi encontrada na Gruta de Santa Luzia, em Mauá, dentro do Parque Municipal que leva o mesmo nome / Reprodução/USP e ICMBio
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Duas novas espécies de crustáceos foram descobertas em plena Região Metropolitana de São Paulo — uma das áreas mais urbanizadas e impactadas do país.
O achado, liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Grupo Pierre Martin de Espeleologia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), revelou a existência da 'Aegla tamanduatei' e da 'Aegla curucutu.'
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As novas espécies foram encontradas em locais próximos à capital paulista, onde a degradação ambiental e a poluição dos rios representam sérios riscos à biodiversidade.
A 'Aegla tamanduatei' foi encontrada na Gruta de Santa Luzia, em Mauá, dentro do Parque Municipal que leva o mesmo nome. O local abriga nascentes do rio Tamanduateí, um dos mais importantes — e hoje mais poluídos — cursos d’água da cidade de São Paulo.
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Já a 'Aegla curucutu' foi descoberta no Parque Estadual Serra do Mar, no Núcleo Curucutu, que se estende pelos municípios de Itanhaém, Mongaguá e Juquitiba.
Essa região abriga rios fundamentais para o abastecimento do sistema Guarapiranga, responsável pelo fornecimento de água à capital.
Ambas pertencem ao gênero Aegla, considerado um dos mais ameaçados do planeta, segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) — órgão responsável pela Lista Vermelha de espécies em risco de extinção.
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As chamadas eglas, ou 'pancoras', como são conhecidas no Sul do Brasil, não são caranguejos nem lagostins, embora se pareçam com eles.
Esses crustáceos são únicos e têm como parentes próximos espécies marinhas, como os caranguejos-reais (Lithodidae), famosos no programa Pesca Mortal. As eglas são os únicos crustáceos desse grupo que se adaptaram à água doce, vivendo em riachos de correnteza.
Encontradas apenas na América do Sul, as eglas ocorrem desde os lagos frios da Patagônia até o sul de Minas Gerais, com maior presença na Mata Atlântica — o bioma brasileiro mais ameaçado.
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'Por ocupar riachos e nascentes, elas exercem um papel fundamental no fornecimento de nutrientes para os grandes rios. Esses animais trituram matéria orgânica e a transformam em alimento disponível para toda a cadeia alimentar', explica a pesquisadora Dra. Jéssica Colavite, do Museu de Zoologia da USP.
Os primeiros registros de eglas em São Paulo datam do início do século XX, com exemplares coletados em 1910 e 1919. Essas espécies foram descritas em 1942 como 'Aegla franca' e 'Aegla paulensis.'
Desde então, novas espécies continuam sendo descobertas no estado.
Atualmente, são conhecidas seis espécies na Bacia do Tietê:
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'Aegla perobae' (São Pedro)
'Aegla paulensis' (Paranapiacaba)
'Aegla vanini' (Salesópolis)
'Aegla jundiai' (Serra do Japi)
'Aegla japi' (Jundiaí)
'Aegla jaragua' (Pico do Jaraguá, São Paulo)
As recém-descritas 'Aegla tamanduatei" e "Aegla curucutu" se somam agora a essa lista e serão comparadas as outras seis espécies.
Atualmente, 102 espécies de egla são conhecidas pela ciência, mas os pesquisadores acreditam que esse número deve aumentar à medida que novas áreas são estudadas.
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O Brasil abriga a maior diversidade conhecida do gênero — reflexo direto do empenho dos cientistas nacionais na investigação da biodiversidade do país.
O estudo faz parte do Projeto Biota, da Fapesp, que busca aprofundar o conhecimento sobre as eglas da Mata Atlântica. Os resultados foram publicados na revista científica internacional Zoological Studies.