Cotidiano
Ela vive a aproximadamente 600 metros de profundidade no oceano e chama a atenção por uma das adaptações mais surpreendentes do ambiente marinho
Descrito pela primeira vez em 1939 pelo oceanógrafo Wilbert Chapman, o peixe-olhos-de-barril permaneceu um enigma por décadas / MBARI/ Divulgação
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Ele parece ter saído de um filme de ficção científica, mas é real. O peixe-olhos-de-barril (Macropinna micróstoma), com cerca de 15 centímetros de comprimento, vive a aproximadamente 600 metros de profundidade no oceano e chama a atenção por uma das adaptações mais surpreendentes do ambiente marinho: uma cabeça transparente e olhos tubulares que giram em busca de presas.
Os olhos desse peixe não são esféricos, mas sim tubos grossos conectados a uma grande lente e à retina, oferecendo a sensibilidade de olhos maiores sem o custo metabólico. Essa estrutura permite que ele aponte a visão para cima, como se observasse por um teto solar, dentro de um escudo transparente cheio de líquido que protege sua visão.
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O pigmento esverdeado funciona como filtro, bloqueando a luz residual da superfície e facilitando a detecção da bioluminescência de águas-vivas e outros pequenos animais, suas principais presas.
Descrito pela primeira vez em 1939 pelo oceanógrafo Wilbert Chapman, o peixe-olhos-de-barril permaneceu um enigma por décadas. O motivo: ao ser trazido à superfície, seu corpo não resistia à mudança brusca de pressão, dificultando os estudos.
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Somente em 2009, pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey (MBARI) conseguiram manter um exemplar vivo por algumas horas em cativeiro, confirmando que os olhos do animal também giravam para frente, e não apenas para cima, como se pensava.
Entre 2008 e 2021, veículos operados remotamente (ROVs) foram fundamentais para documentar a espécie. Em mais de 5 mil operações e 30 mil horas de vídeo, o peixe apareceu apenas nove vezes, reforçando seu status de criatura rara.
O peixe-olhos-de-barril se alimenta de minúsculos crustáceos e de animais capturados pelos tentáculos de águas-vivas. A maior parte dos registros está concentrada no Pacífico Norte, em regiões que vão do Mar de Bering ao litoral da Baixa Califórnia, passando pelo Japão.
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A descoberta e o estudo dessa criatura reforçam como a vida marinha se adapta às condições mais inóspitas. A cerca de 850 metros de profundidade, onde a visibilidade é comparável a uma noite nublada sem lua, o peixe de cabeça transparente encontrou sua própria forma de sobreviver — desafiando os limites da imaginação humana.