Cotidiano

Conheça 'tesouro' ambiental que pode dar lugar a pátio de caminhões no Litoral de SP

Área de manguezais e ninho de aves ameaçadas, Ilha do Tatu é alvo de disputa entre preservação ambiental e interesses logísticos ligados ao Porto de Santos

Luana Fernandes Domingos

Publicado em 15/05/2025 às 15:35

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Ilha do Tatu é um dos últimos refúgios de biodiversidade em meio ao polo industrial de Cubatão / Divulgação/PMC

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No coração da Baixada Santista, entre as rodovias Anchieta e Imigrantes, está um dos últimos refúgios de biodiversidade em meio ao polo industrial de Cubatão: a Ilha do Tatu.

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Com aproximadamente 154 hectares, a área é um verdadeiro santuário ecológico que abriga manguezais, fauna nativa e uma população expressiva de guarás-vermelhos - aves que simbolizam a recuperação ambiental da região. No entanto, esse patrimônio natural corre o risco de dar lugar a um condomínio logístico, reacendendo o debate entre progresso e preservação.

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A Ilha do Tatu integra o delicado ecossistema de manguezais da região, considerados vitais para o equilíbrio ambiental. Esses ambientes úmidos servem como berçário para peixes, crustáceos e moluscos, além de funcionarem como barreiras naturais contra a erosão e como filtros de poluentes. Sua vegetação densa e enraizada protege o solo, retém sedimentos e mantém a qualidade da água nos estuários próximos.

Apesar disso, os manguezais da Ilha enfrentam ameaças constantes. Espécies invasoras como a Sonneratia apetala - árvore exótica introduzida em vários estuários brasileiros - têm se espalhado pelo entorno, competindo com as espécies nativas e alterando o equilíbrio do habitat.

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Veja a seguir um vídeo divulgado nas redes sociais pela página Drone Cubatão, em ângulo panorâmico, que mostra a extensão da Ilha do Tatu:

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Reduto dos guarás-vermelhos

Entre os principais moradores da ilha está o guará-vermelho (Eudocimus ruber), uma das aves mais emblemáticas da fauna brasileira. Com plumagem vibrante e hábitos alimentares específicos, os guarás encontram nos manguezais da Ilha do Tatu um ambiente ideal para se alimentar e reproduzir. Estima-se que cerca de 500 indivíduos habitem a região, com dezenas de ninhos ativos observados por pesquisadores e ambientalistas.

A diversidade de aves no local é impressionante: mais de 200 espécies já foram catalogadas, entre colhereiros, garças, biguás e socós, tornando a ilha um ponto estratégico para a observação de aves e estudos científicos.

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Projeto logístico: o que está em jogo

Apesar de seu valor ecológico, a Ilha do Tatu está no centro de um polêmico projeto da Autoridade Portuária de Santos (APS), que pretende transformar parte do território em um condomínio logístico. O plano inclui um pátio regulador com capacidade para mais de mil caminhões, ocupando cerca de 106 mil m² da ilha, como parte de um investimento estimado em R$ 3 bilhões.

A proposta visa desafogar o tráfego de veículos pesados no entorno do Porto de Santos, considerado o maior da América Latina. Contudo, o projeto enfrenta forte resistência da Prefeitura de Cubatão, de parlamentares e da população local.

“A Ilha do Tatu não está sequer incluída no zoneamento urbano para esse tipo de uso. Além disso, é um ecossistema único, cercado por comunidades que já sofrem com os impactos da atividade industrial”, argumenta o prefeito César Nascimento.

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Alternativas sustentáveis em discussão

Como alternativa, a prefeitura propôs uma área de 1 milhão de metros quadrados no Sítio dos Areais, já licenciada ambientalmente e situada dentro do polo industrial da cidade. A proposta foi encaminhada ao governo federal, mas até o momento não houve retorno da APS sobre a viabilidade da mudança.

Enquanto isso, o projeto aguarda licenciamento ambiental da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)  - etapa crucial para que qualquer obra possa avançar. Sem essa autorização, a construção do pátio permanece suspensa.

A possível transformação da Ilha do Tatu em um polo logístico levanta uma pergunta central: é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental? Para muitos moradores e ambientalistas, a resposta está em priorizar soluções sustentáveis e respeitar o valor de áreas naturais ainda preservadas.

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O destino da ilha permanece incerto. O que está claro é que qualquer decisão tomada ali terá impactos duradouros, tanto para a economia regional quanto para o equilíbrio ecológico da Baixada Santista.

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