Cotidiano
O corpo celeste estará a 270 milhões de quilômetros do planeta, a menor aproximação já registrada até agora, e vem despertando enorme curiosidade na comunidade científica
Descoberto em julho de 2025, o 3I/ATLAS chamou atenção desde o início por ser muito mais brilhante e massivo do que outros visitantes cósmicos / NASA/JPL-Caltech
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O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar confirmado a atravessar o Sistema Solar, deve atingir sua menor distância da Terra no dia 19 de dezembro de 2025, segundo a NASA.
O corpo celeste estará a 270 milhões de quilômetros do planeta, a menor aproximação já registrada até agora, e vem despertando enorme curiosidade na comunidade científica por suas características inéditas e comportamento incomum.
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Descoberto em julho de 2025, o 3I/ATLAS chamou atenção desde o início por ser muito mais brilhante e massivo do que outros visitantes cósmicos, como o famoso 1I/ʻOumuamua. Durante sua passagem pelo periélio, ponto mais próximo do Sol, em 30 de outubro, o cometa apresentou um aumento de brilho sete vezes maior que o esperado, exibindo propriedades químicas e físicas consideradas atípicas para esse tipo de corpo.
Entre 2 e 25 de novembro de 2025, a sonda Jupiter Icy Moons Explorer (JUICE), da Agência Espacial Europeia (ESA), realizará um mapeamento detalhado do objeto. Instrumentos de alta precisão tentarão identificar os componentes de sua superfície e a dinâmica de seus jatos gasosos, em colaboração com o Telescópio Espacial Hubble, o James Webb e o Observatório Neil Gehrels Swift, da NASA.
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As análises mais recentes surpreenderam os cientistas: o Swift identificou a presença de gás hidroxila (OH) — um derivado da decomposição da água — na composição do cometa.
O físico Dennis Bodewits, da Universidade de Auburn (EUA), explicou que o achado é um marco para a astronomia moderna:
'Quando detectamos água, ou até mesmo seu fraco eco ultravioleta, o OH, em um cometa interestelar, estamos lendo uma mensagem enviada de outro sistema planetário.'
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A descoberta sugere que moléculas de água e compostos orgânicos podem se formar e se conservar fora da influência direta do Sol, o que reforça teorias sobre a origem universal dos elementos essenciais à vida.
Pesquisadores da NASA afirmam que a desgaseificação precoce do cometa — causada pelo aquecimento de grãos de gelo mesmo a grandes distâncias do Sol — pode explicar sua atividade incomum.
Enquanto as agências espaciais avançam nas observações, o renomado astrofísico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, reacendeu uma polêmica. Em um artigo recente, ele sugeriu que o tamanho colossal e o comportamento atípico do 3I/ATLAS poderiam ser melhor explicados se o objeto fosse uma nave alienígena.
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Segundo Loeb, o cometa teria massa superior a 50 bilhões de toneladas — pelo menos um milhão de vezes maior que a do 1I/ʻOumuamua. Ele argumenta que os jatos observados poderiam funcionar como propulsores tecnológicos, e não apenas como emissões naturais de gás.
'Se considerarmos que esses jatos são propulsores, a perda de massa necessária seria dezenas de vezes menor do que a esperada num cometa comum — algo que tecnologias avançadas poderiam alcançar facilmente', escreveu Loeb.
O cientista, que lidera o Projeto Galileu em Harvard, alertou ainda para um possível 'evento cisne negro cósmico', caso a origem artificial do objeto se confirmasse.
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Atualmente, o 3I/ATLAS é monitorado por uma colaboração internacional entre NASA, ESA e a agência espacial chinesa (CNSA). Imagens recentes captadas por telescópios no Japão, mostrando supostas estruturas próximas ao objeto, aumentaram o interesse — e, em alguns círculos, alimentaram teorias da conspiração.
A NASA, no entanto, reafirma que não há qualquer risco de colisão com a Terra. O cometa seguirá sua rota, passando próximo a Marte (a 28 milhões de km) e, em março de 2026, se aproximará de Júpiter, antes de ser lançado novamente ao espaço interestelar.
Com uma composição rica em poeira, gelo e compostos orgânicos, o 3I/ATLAS é mais do que uma curiosidade astronômica: ele representa uma janela inédita para o estudo da origem dos sistemas planetários.
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Como resumiu Bodewits, cada molécula detectada no cometa é 'uma mensagem química viajando pelo tempo e pelo espaço' — talvez lembrando à humanidade que o Universo ainda guarda mistérios que desafiam até a mais avançada ciência.