O azeite deixou de ser apenas um produto agrícola e passou a ser uma experiência cultural, atraindo turistas de diversas regiões do país / ImageFX
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Durante décadas, a ideia de produzir azeite de oliva em escala relevante no Brasil era tratada com desconfiança no meio agrícola. O consenso era quase absoluto: azeite de qualidade vinha do Mediterrâneo, enquanto ao Brasil cabia apenas importar.
Esse cenário começou a mudar no Rio Grande do Sul, onde uma aposta considerada improvável deu origem à maior plantação de oliveiras do país, com milhões de árvores, azeites premiados e um novo capítulo para o agronegócio nacional.
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Hoje, o estado concentra os maiores olivais brasileiros, deixou para trás o caráter experimental da atividade e se consolidou como a principal fronteira da olivicultura nacional, atraindo investidores, turistas e reconhecimento internacional.
A escolha do Rio Grande do Sul não foi por acaso. Regiões como a Campanha Gaúcha e a Serra do Sudeste apresentam características semelhantes às áreas tradicionais de cultivo da oliveira no sul da Europa: invernos frios, verões secos e solos bem drenados. Ainda assim, os primeiros projetos enfrentaram forte resistência.
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Técnicos duvidavam da adaptação das mudas, investidores consideravam o risco elevado e produtores tradicionais não acreditavam que o azeite brasileiro pudesse competir em qualidade com os importados.
O descrédito, porém, abriu espaço para investidores improváveis — empresários urbanos, produtores de outras culturas e profissionais sem histórico no agro, atraídos pelo potencial de inovação e valor agregado.
Atualmente, o Rio Grande do Sul abriga a maior área contínua de oliveiras do Brasil, com milhões de árvores plantadas em grandes propriedades. Algumas fazendas concentram centenas de milhares de pés em um único empreendimento, algo impensável no país há pouco mais de uma década.
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Os olivais utilizam variedades consagradas internacionalmente, como Arbequina, Koroneiki, Picual e Arbosana, selecionadas após testes rigorosos de adaptação. O manejo segue padrões modernos, com irrigação controlada, espaçamento técnico e foco na mecanização da colheita, garantindo produtividade e eficiência.
O ponto de virada ocorreu quando os primeiros azeites gaúchos começaram a ser avaliados em competições internacionais. Os rótulos produzidos no estado passaram a conquistar medalhas e reconhecimento, provando que qualidade não é exclusividade do Mediterrâneo.
Entre os diferenciais apontados por jurados e especialistas estão o frutado intenso, o baixo índice de acidez, o frescor elevado, garantido pela extração rápida após a colheita, e um perfil sensorial competitivo com azeites importados.
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O reconhecimento ajudou a mudar a percepção do consumidor brasileiro, que passou a enxergar o azeite nacional como produto premium, e não apenas como curiosidade.
Diferentemente de muitos olivais tradicionais europeus, os projetos gaúchos já nasceram com mentalidade industrial e tecnológica. A colheita é planejada para ocorrer no ponto exato de maturação, muitas vezes de forma mecanizada, reduzindo perdas.
As azeitonas seguem diretamente para lagares próprios, instalados dentro ou próximos das fazendas. Em alguns casos, o intervalo entre colheita e extração é de apenas algumas horas, fator decisivo para a qualidade final do azeite e ainda raro até mesmo em países tradicionais do setor.
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Além da produção, os grandes olivais do Rio Grande do Sul passaram a investir em turismo rural. Fazendas abriram as portas para visitantes, oferecendo visitas guiadas, degustações técnicas, restaurantes com menus harmonizados e lojas especializadas.
O azeite deixou de ser apenas um produto agrícola e passou a ser uma experiência cultural, atraindo turistas de diversas regiões do país e fortalecendo a identidade do setor.
Mesmo com os avanços, a olivicultura brasileira ainda enfrenta desafios. O principal é a escala necessária para reduzir a dependência das importações. O Brasil segue entre os maiores importadores de azeite do mundo, e a produção nacional ainda representa uma fração do consumo interno.
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O setor também convive com riscos climáticos, como excesso de chuvas em períodos críticos, geadas fora de época e variações entre safras. Trata-se de uma atividade de longo prazo, que exige investimento contínuo, pesquisa agronômica e paciência.
Apesar dos obstáculos, a maior plantação de oliveiras do Brasil já cumpriu um papel histórico: quebrou o dogma de que o país não poderia produzir azeite de alta qualidade. O que começou como uma aposta desacreditada se transformou em uma cadeia produtiva organizada, tecnificada e reconhecida.
O Rio Grande do Sul passou de importador indireto a protagonista na produção de azeite nacional, mostrando que o Brasil pode competir em mercados tradicionalmente dominados por séculos de tradição europeia.
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A olivicultura gaúcha prova que grandes transformações no agronegócio não nascem do consenso, mas de apostas que poucos acreditam e que, quando dão certo, mudam toda uma indústria.