Cotidiano

Com milhões de árvores, maior plantação de oliveiras do Brasil produz azeite premiado

A olivicultura gaúcha prova que grandes transformações no agronegócio não nascem do consenso, mas de apostas que poucos acreditam

Ana Clara Durazzo

Publicado em 15/12/2025 às 09:30

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

O azeite deixou de ser apenas um produto agrícola e passou a ser uma experiência cultural, atraindo turistas de diversas regiões do país / ImageFX

Continua depois da publicidade

Durante décadas, a ideia de produzir azeite de oliva em escala relevante no Brasil era tratada com desconfiança no meio agrícola. O consenso era quase absoluto: azeite de qualidade vinha do Mediterrâneo, enquanto ao Brasil cabia apenas importar.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Esse cenário começou a mudar no Rio Grande do Sul, onde uma aposta considerada improvável deu origem à maior plantação de oliveiras do país, com milhões de árvores, azeites premiados e um novo capítulo para o agronegócio nacional.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• Como uma loucura transformou uma fazenda em um verdadeiro império da jabuticaba no Brasil

• Maior fazenda da América Latina impressiona com 6.000 m², 365 janelas, 52 quartos e 12 salões

• Maior fazenda de abacaxi do mundo fica no Brasil e produz 150 mil toneladas por ano

Hoje, o estado concentra os maiores olivais brasileiros, deixou para trás o caráter experimental da atividade e se consolidou como a principal fronteira da olivicultura nacional, atraindo investidores, turistas e reconhecimento internacional.

Clima favorável e muita desconfiança no início

A escolha do Rio Grande do Sul não foi por acaso. Regiões como a Campanha Gaúcha e a Serra do Sudeste apresentam características semelhantes às áreas tradicionais de cultivo da oliveira no sul da Europa: invernos frios, verões secos e solos bem drenados. Ainda assim, os primeiros projetos enfrentaram forte resistência.

Continua depois da publicidade

Técnicos duvidavam da adaptação das mudas, investidores consideravam o risco elevado e produtores tradicionais não acreditavam que o azeite brasileiro pudesse competir em qualidade com os importados.

O descrédito, porém, abriu espaço para investidores improváveis — empresários urbanos, produtores de outras culturas e profissionais sem histórico no agro, atraídos pelo potencial de inovação e valor agregado.

Milhões de árvores e escala inédita no país

Atualmente, o Rio Grande do Sul abriga a maior área contínua de oliveiras do Brasil, com milhões de árvores plantadas em grandes propriedades. Algumas fazendas concentram centenas de milhares de pés em um único empreendimento, algo impensável no país há pouco mais de uma década.

Continua depois da publicidade

Os olivais utilizam variedades consagradas internacionalmente, como Arbequina, Koroneiki, Picual e Arbosana, selecionadas após testes rigorosos de adaptação. O manejo segue padrões modernos, com irrigação controlada, espaçamento técnico e foco na mecanização da colheita, garantindo produtividade e eficiência.

Azeite brasileiro ganha prêmios e muda a percepção do mercado

O ponto de virada ocorreu quando os primeiros azeites gaúchos começaram a ser avaliados em competições internacionais. Os rótulos produzidos no estado passaram a conquistar medalhas e reconhecimento, provando que qualidade não é exclusividade do Mediterrâneo.

Entre os diferenciais apontados por jurados e especialistas estão o frutado intenso, o baixo índice de acidez, o frescor elevado, garantido pela extração rápida após a colheita, e um perfil sensorial competitivo com azeites importados.

Continua depois da publicidade

O reconhecimento ajudou a mudar a percepção do consumidor brasileiro, que passou a enxergar o azeite nacional como produto premium, e não apenas como curiosidade.

Tecnologia do campo ao lagar

Diferentemente de muitos olivais tradicionais europeus, os projetos gaúchos já nasceram com mentalidade industrial e tecnológica. A colheita é planejada para ocorrer no ponto exato de maturação, muitas vezes de forma mecanizada, reduzindo perdas.

As azeitonas seguem diretamente para lagares próprios, instalados dentro ou próximos das fazendas. Em alguns casos, o intervalo entre colheita e extração é de apenas algumas horas, fator decisivo para a qualidade final do azeite e ainda raro até mesmo em países tradicionais do setor.

Continua depois da publicidade

Turismo rural transforma azeite em experiência

Além da produção, os grandes olivais do Rio Grande do Sul passaram a investir em turismo rural. Fazendas abriram as portas para visitantes, oferecendo visitas guiadas, degustações técnicas, restaurantes com menus harmonizados e lojas especializadas.

O azeite deixou de ser apenas um produto agrícola e passou a ser uma experiência cultural, atraindo turistas de diversas regiões do país e fortalecendo a identidade do setor.

Desafios permanecem apesar do avanço

Mesmo com os avanços, a olivicultura brasileira ainda enfrenta desafios. O principal é a escala necessária para reduzir a dependência das importações. O Brasil segue entre os maiores importadores de azeite do mundo, e a produção nacional ainda representa uma fração do consumo interno.

Continua depois da publicidade

O setor também convive com riscos climáticos, como excesso de chuvas em períodos críticos, geadas fora de época e variações entre safras. Trata-se de uma atividade de longo prazo, que exige investimento contínuo, pesquisa agronômica e paciência.

Uma aposta que mudou o agro brasileiro

Apesar dos obstáculos, a maior plantação de oliveiras do Brasil já cumpriu um papel histórico: quebrou o dogma de que o país não poderia produzir azeite de alta qualidade. O que começou como uma aposta desacreditada se transformou em uma cadeia produtiva organizada, tecnificada e reconhecida.

O Rio Grande do Sul passou de importador indireto a protagonista na produção de azeite nacional, mostrando que o Brasil pode competir em mercados tradicionalmente dominados por séculos de tradição europeia.

Continua depois da publicidade

A olivicultura gaúcha prova que grandes transformações no agronegócio não nascem do consenso, mas de apostas que poucos acreditam e que, quando dão certo, mudam toda uma indústria.

Mais Sugestões

Conteúdos Recomendados

©2025 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software