Cotidiano
Após anos esvaziado e ameaçado de devolução, aeroporto carioca supera níveis pré-pandemia, cresce quase 50% em 2025 e se prepara para novo leilão
De janeiro a julho de 2025, passaram pelo terminal 9,7 milhões de passageiros, um aumento de 49,2% em relação ao mesmo período de 2024 / Divulgação/RioGaleão
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O Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, já foi sinônimo de crise, filas vazias e incertezas. Chamado de “elefante branco” por sua estrutura moderna, mas pouco utilizada, o terminal chegou a desativar o Terminal 1 em 2016 e, em 2022, a concessionária RIOgaleão pediu a devolução da concessão. Hoje, poucos anos depois, o cenário é completamente diferente: o Galeão é o aeroporto que mais cresce no Brasil.
De janeiro a julho de 2025, passaram pelo terminal 9,7 milhões de passageiros, um aumento de 49,2% em relação ao mesmo período de 2024, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Se o ritmo for mantido, o aeroporto deve superar os 14 milhões de passageiros de 2024, quando bateu recorde de voos internacionais e ultrapassou os níveis pré-pandemia.
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A recuperação é resultado de um esforço coordenado entre governo e iniciativa privada. A medida mais decisiva foi a imposição de um teto de passageiros no Aeroporto Santos Dumont, em 2023. O limite foi reduzido para 6,5 milhões de viajantes por ano em 2024, forçando o redirecionamento de voos ao Galeão.
Com mais capacidade para operar aeronaves de grande porte e conexões internacionais, o Tom Jobim voltou a ganhar relevância. Além disso, o aumento do turismo estrangeiro, impulsionado pelo câmbio favorável, e a recuperação da demanda nacional deram fôlego extra ao terminal.
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Enquanto o Santos Dumont ficou praticamente estável (3,3 milhões de passageiros entre janeiro e julho de 2024 e 3,4 milhões em 2025), o Galeão disparou.
3º maior aeroporto do Brasil em número de passageiros, atrás apenas de Guarulhos (26,2 milhões até julho) e Congonhas (14,6 milhões).
Recorde internacional em 2024, consolidando-se como hub de longa distância.
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Companhias aéreas em expansão:
Gol: aumento de 32% nas decolagens no 1º semestre de 2025.
Azul: 910 mil passageiros, alta de 6%.
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Latam: 1,6 milhão de passageiros, crescimento de 17%.
Em setembro de 2025, um termo aditivo entre governo federal, Prefeitura do Rio e a concessionária RIOgaleão foi assinado para preparar o aeroporto para um novo leilão até março de 2026, com lance mínimo de R$ 932 milhões.
O contrato, que previa devolução em 2022, agora prevê investimentos até 2038 em modernização, conforto e ampliação da infraestrutura.
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“O Galeão pode se consolidar como hub de aviação da América do Sul”, afirmou o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Já o prefeito Eduardo Paes aposta que o terminal pode até superar Guarulhos no fluxo internacional.
Apesar da retomada, passageiros reclamam da distância e da insegurança no acesso ao aeroporto. A contadora Júlia Vasconcelos, moradora de Botafogo, conta que leva até uma hora para chegar ao Galeão e que evita transporte público por medo da violência na Linha Vermelha.
“O aeroporto é maior e mais organizado, mas se pudesse escolher, voaria sempre do Santos Dumont”, afirma.
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Para minimizar o problema, a Prefeitura inaugurou o Terminal Intermodal Gentileza, que integra VLT, BRT e ônibus, além de criar uma faixa exclusiva na Linha Vermelha. O governo estadual também reforçou o policiamento com a Operação Segurança Presente no entorno do aeroporto.
Especialistas alertam que a sustentabilidade do Galeão depende de mais do que medidas emergenciais. “A aviação brasileira é volátil. O Galeão tem potencial para ser um hub internacional de peso, mas precisa de estabilidade para não repetir a montanha-russa do passado”, avalia Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur.
Para ela, o fortalecimento do fluxo doméstico é essencial, já que ele garante a base da operação diante da sazonalidade internacional. Ao mesmo tempo, a expansão de rotas globais é vista como fundamental para o turismo e para descentralizar voos de Guarulhos e Brasília.
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O que parecia improvável há poucos anos agora se concretiza: o Galeão deixou de ser exemplo de fracasso para se tornar símbolo de recuperação na aviação brasileira.