Cotidiano

Com 272 mil vacas, projeto bilionário quer criar a maior fazenda de leite do planeta

Rebanho será mais de 100 vezes maior que o das maiores fazendas do Brasil

Ana Clara Durazzo

Publicado em 29/12/2025 às 13:30

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Mais do que uma fazenda, o megacomplexo argelino representa uma aposta estratégica: transformar leite em soberania econômica / ImageFX

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Anunciado como um dos projetos agroindustriais mais ambiciosos da década, o megacomplexo leiteiro da Argélia chamou a atenção do mundo ao prometer a construção da maior fazenda de leite do planeta. Com investimento estimado em US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 19,2 bilhões), o empreendimento simboliza a aposta do país na autossuficiência alimentar, redefine a escala da produção leiteira global e reposiciona o norte da África no mapa dos lácteos.

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O projeto é fruto de uma parceria entre o governo argelino e a Baladna, gigante do setor de laticínios do Catar. Previsto para ser instalado na província de Adrar, em plena região desértica, o complexo foi concebido para abrigar 272 mil vacas em lactação, distribuídas em uma área de 117 mil hectares — um salto de escala sem precedentes na pecuária mundial.

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Produção capaz de suprir metade da demanda nacional

Além do tamanho do rebanho, os números da produção impressionam. A planta industrial integrada terá capacidade para processar até 200 mil toneladas de leite em pó por ano, volume suficiente para atender cerca de 50% da demanda nacional da Argélia.

O projeto responde a um problema estrutural do país. A Argélia figura entre os maiores consumidores de leite em pó do mundo, atrás apenas de China, Brasil e União Europeia, e importa mais de 400 mil toneladas de lácteos por ano, com um custo aproximado de US$ 800 milhões anuais. Reduzir essa dependência externa é um dos principais objetivos estratégicos do megacomplexo.

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Tecnologia alemã e padrão industrial global

Para viabilizar a operação em escala industrial, a Argélia contratou a GEA Group AG, multinacional alemã reconhecida globalmente por soluções em processamento de alimentos e laticínios. A empresa será responsável por toda a cadeia produtiva — da ordenha ao empacotamento do leite em pó — garantindo padrões internacionais de eficiência, rastreabilidade e qualidade.

A adoção de tecnologia de ponta é vista como essencial para operar um sistema dessa magnitude, especialmente em um ambiente desafiador como o deserto do Saara.

Empregos, desenvolvimento regional e geopolítica alimentar

Além do impacto produtivo, o complexo deve gerar cerca de 5 mil empregos qualificados, impulsionando a economia local e fortalecendo a indústria agroalimentar argelina.

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No médio prazo, o país também mira a possibilidade de se tornar exportador de derivados lácteos, ampliando sua relevância regional.

Especialistas, no entanto, apontam que o maior desafio do projeto está fora das salas de ordenha. Manter um rebanho dessa dimensão exige produção massiva de ração, logística sofisticada e planejamento contínuo de suprimentos.

A estratégia prevê a expansão da produção local de grãos e forragens, complementada por importações, para sustentar a operação em larga escala.

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Cronograma e comparação global

O cronograma divulgado indica início das obras em 2026 e entrada em operação no fim de 2027, fases consideradas decisivas para testar a viabilidade do modelo em condições climáticas extremas.

A dimensão do projeto fica ainda mais evidente quando comparada à realidade brasileira. A Fazenda Colorado, em Araras (SP), considerada a maior produtora de leite do Brasil, opera com cerca de 2.500 vacas em lactação e produz aproximadamente 105 mil litros de leite por dia.

O complexo argelino foi projetado para ter um rebanho mais de 100 vezes maior, evidenciando o salto de escala pretendido.

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Expansão da Baladna na África

O megacomplexo da Argélia também consolida a estratégia de expansão da Baladna no continente africano. Paralelamente, a empresa anunciou US$ 1,5 bilhão em investimentos no Egito e estuda a implantação de uma fazenda leiteira na Nigéria, mirando mercados com alta dependência de importações alimentares.

Um marco da industrialização extrema

Revisitado hoje, o projeto permanece como um marco simbólico da industrialização extrema da pecuária leiteira. Ele ilustra como escala, tecnologia e geopolítica alimentar passaram a caminhar juntas no debate global sobre produção de alimentos, especialmente em um mundo pressionado por crescimento populacional, mudanças climáticas e segurança alimentar.

Mais do que uma fazenda, o megacomplexo argelino representa uma aposta estratégica: transformar leite em soberania econômica.

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