Cotidiano

Cientistas revelam motivo dos polvos fugirem à regra e se amontoarem em local incomum

Como a observação científica em águas profundas revelou segredos desses animais misteriosos e de hábitos intrigantes

Agência Diário

Publicado em 18/09/2025 às 08:28

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Cientistas tentam explicar este fenômeno / Freepik

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Nas águas profundas do Pacífico, a mais de três mil metros de profundidade, pesquisadores identificaram um comportamento intrigante entre os polvos.

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Em uma fenda marinha próxima ao monte Davidson, milhares de fêmeas se reúnem para colocar seus ovos e garantir que eles tenham melhores condições para se desenvolver.

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Esse agrupamento em massa, que já foi apelidado de “jardim de polvos”, chamou a atenção da ciência pela quantidade de indivíduos e pela forma como aproveitam o ambiente a seu favor.

A descoberta não foi casual. Por meio de veículos operados remotamente, cientistas do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey documentaram o fenômeno ao longo de várias expedições.

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Eles registraram detalhes sobre a temperatura da água, os hábitos de reprodução e o impacto que essa concentração tem sobre o ecossistema local, abrindo novas perspectivas sobre a vida nas zonas abissais do oceano.

Os polvos são animais que despertam a curiosidade de muita gente / Pixabay
Os polvos são animais que despertam a curiosidade de muita gente / Pixabay
Segundo os pesquisadores, existem cerca de 300 espécies conhecidas de polvos / Pixabay
Segundo os pesquisadores, existem cerca de 300 espécies conhecidas de polvos / Pixabay
Todos os polvos são predadores e alimentam-se de peixes e crustáceos, por exemplo / Pixabay
Todos os polvos são predadores e alimentam-se de peixes e crustáceos, por exemplo / Pixabay
A maioria das células cerebrais dos polvos está nos tentáculos em um sistema chamado 'cérebros descentralizados' / Pixabay
A maioria das células cerebrais dos polvos está nos tentáculos em um sistema chamado 'cérebros descentralizados' / Pixabay
Os polvos são mestres da inteligência marinha, capazes de usar ferramentas, reconhecer pessoas e até brincar ou fazer travessuras / Pixabay
Os polvos são mestres da inteligência marinha, capazes de usar ferramentas, reconhecer pessoas e até brincar ou fazer travessuras / Pixabay

O calor escondido no fundo do mar

As fêmeas fixam seus ovos em fendas rochosas próximas a fontes hidrotermais. Essas aberturas naturais liberam água mais quente do que o ambiente ao redor, criando bolsões de calor que se transformam em incubadoras naturais.

Enquanto as fontes podem atingir de 5 °C a 10 °C, a água do entorno permanece próxima de 1,6 °C, evidenciando um contraste que faz toda a diferença no desenvolvimento das crias. Esse microclima permite que os ovos se desenvolvam em um ambiente menos hostil.

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Diferente de outros pontos do fundo oceânico, onde o frio extremo torna o processo de gestação mais lento, ali os filhotes têm mais chances de nascer saudáveis em tempo reduzido, garantindo maior sucesso para a espécie.

A biologia do polvo

Estudos mostram que essas criaturas desenvolvem capacidades notáveis, incluindo resolução de problemas complexos, memória aguçada e até reconhecimento de pessoas. 

Alguns polvos chegam a demonstrar planejamento estratégico, como no caso do chamado “polvo carregador de cocos”, que utiliza objetos para se proteger.

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Além disso, como explica o biólogo Paulo Jubilut em seu canal no YouTube, os polvos possuem um sistema nervoso singular.

Dois terços de seus neurônios estão distribuídos em seus oito braços, permitindo que cada tentáculo “pense” e reaja de forma independente, analisando rapidamente o ambiente e executando ações com velocidade e precisão surpreendentes.

Vantagem reprodutiva em ambientes extremos

O ciclo de incubação dos ovos, que em águas frias pode ultrapassar uma década, é encurtado para menos de dois anos nesse ambiente mais quente.

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Isso significa que os polvos conseguem gerar descendentes em ritmo muito mais rápido, reduzindo os riscos de mortalidade e aumentando a taxa de sobrevivência da próxima geração.

Essa adaptação mostra como pequenas diferenças ambientais podem ter impacto enorme sobre a estratégia de vida das espécies.

No caso dos polvos, essa associação com fontes termais funciona como um atalho evolutivo que aumenta suas chances de perpetuar a espécie em regiões desafiadoras.

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Um ecossistema construído a partir da reprodução

O agrupamento de polvos não beneficia apenas eles próprios. Quando as fêmeas morrem após o período de cuidado parental, seus corpos servem de alimento para uma ampla gama de organismos.

Peixes, anêmonas, camarões e estrelas-do-mar aproveitam os restos, transformando o local em um ponto de grande diversidade biológica.

Esse contraste é ainda mais evidente quando comparado às áreas vizinhas, praticamente desertas em termos de vida marinha.

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O “jardim” se torna, assim, uma ilha de abundância em meio a um cenário de escassez, revelando como a reprodução de uma única espécie pode influenciar toda a cadeia ecológica.

Perguntas em aberto e a necessidade de proteção

Apesar dos avanços, muitas questões permanecem. Não se sabe ao certo de onde vêm os polvos que formam a colônia nem como encontram o caminho até o local exato.

Uma hipótese é que utilizem sinais químicos deixados por indivíduos que já morreram no ambiente, funcionando como uma espécie de mapa natural.

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O fato de esse “jardim” estar dentro de uma área marinha protegida é um alívio, mas ainda existem dúvidas sobre quantos outros locais semelhantes podem estar sob risco.

A expansão da pesca industrial e da mineração em águas profundas representa uma ameaça real, reforçando a importância da preservação desses ecossistemas únicos.

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