Cientistas pedem adiamento dos Jogos Olímpicos / Estadão Conteúdo
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Uma carta endossada por 150 especialistas de todo o mundo e endereçada à OMS (Organização Mundial de Saúde) causou alvoroço nesta sexta (27). "Em nome da saúde pública", eles pedem que os Jogos do Rio sejam transferidos ou adiados devido ao surto de vírus da zika.
O documento reúne assinaturas de médicos e cientistas, a maioria com ligação com a bioética, de universidades de prestígio, como Yale e Harvard, nos EUA, e Oxford, no Reino Unido.
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Na carta, pedem que a OMS reveja com urgência recomendações sobre o zika, que pode causar microcefalia e cuja transmissão pode ser feita por relação sexual.
O texto também cita o "fracasso" no programa de erradicação do mosquito no Brasil e o sistema de saúde "fragilizado" como razões para o adiamento ou transferência da Olimpíada, marcada para ocorrer de 5 a 21 de agosto.
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"Um risco desnecessário é posto quando 500 mil turistas estrangeiros de todos os países acompanham os Jogos, potencialmente adquirem o vírus e voltam para a casa, podendo torná-lo endêmico", registra o documento.
Ainda segundo a carta, o adiamento ou a transferência dos Jogos também poderiam "diminuir outros riscos trazidos por uma turbulência história na economia, governança e na sociedade do Brasil, que não são problemas isolados, mas que fazem parte de um contexto que tornam o problema do zika impossível de resolver com a aproximação dos Jogos".
Única brasileira signatária da carta, Débora Diniz, 46, especialista em bioética e professora da Universidade de Brasília, crê que as próprias recomendações da OMS –de que as pessoas usem roupas compridas e permaneçam em hotéis com ar condicionado no Rio– atentam contra o espírito dos Jogos.
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"Qual é o sentido de uma Olimpíada se recomendam às pessoas ficarem no hotel?", questionou a professora.
À Folha de S.Paulo, ela criticou também a passividade das autoridades e da sociedade brasileira em meio à proliferação do vírus. "Eu espero que [a carta] surta algum efeito. Não iria me expor tanto se não esperasse uma resposta genuína da OMS. Às vezes, as organizações precisam ser impulsionadas pela sociedade civil", disse.
'Sem sentido'
O infectologista Esper Kallás, professor da USP, afirmou que "não faz o menor sentido defender o adiamento dos Jogos [Olímpicos] no Brasil".
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"Se fosse assim, teríamos que proibir qualquer viagem para países onde há transmissão de doenças infecciosas. Proibir, por exemplo, viagens à França, onde há transmissão de toxoplasmose, doença que pode representar um grande risco às grávidas e que também causa má formações fetais", complementou.
De acordo com o infectologista, o início de um período mais frio e menos chuvoso diminui a chance de transmissão de doenças relacionadas ao mosquito Aedes aegypti.
"Antes da Copa, também houve um grande burburinho dizendo que haveria uma tragédia em relação à expansão da dengue pelo mundo e não houve nada disso", concluiu.
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Recomendações
Em fevereiro, a OMS declarou que a epidemia do zika havia se tornado uma emergência global. Posteriormente, aconselhou mulheres grávidas a evitar viagens para a capital fluminense e outros viajantes a se manter distantes de áreas pobres e superpovoadas da cidade.
A diretora geral do órgão, Margaret Chan, porém, descartou recomendar o adiamento ou realocação do megaevento esportivo. Ela chegou a indicar que vai comparecer à Olimpíada. Em maio, em adesão ao coro, o COI (Comitê Olímpico Internacional) disse que não vê razões para atrasar ou transferir os Jogos por causa da doença.
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Apesar disso, atletas de renome, como a goleira norte-americana Hope Solo e a atleta britânica Jessica Ennis-Hill demonstraram preocupação em relação ao vírus.
Ministério da Saúde
Em resposta à carta assinada por 150 especialistas, autoridades brasileiras adotaram o argumento de minimizar a incidência de doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti em agosto, quando ocorrerão os Jogos do Rio.
"Em 2015, por exemplo, agosto foi o mês com menor incidência de casos de dengue no país", informou o Ministério da Saúde, por meio de comunicado.
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Segundo a pasta, o Brasil "está preparado" para a realização do evento. Ela afirma que houve ampliação de R$ 580 milhões no orçamento destinado para ações de vigilância e prevenção de doenças transmitidas pelo mosquito: passou de R$ 1,29 bilhão para R$ 1,87 bilhão.
O ministério também afirmou que foram contratados 3.000 agentes de saúde para atuar no combate ao mosquito.
Cerca de 2.500 profissionais de saúde temporários também devem atuar durante o evento. A pasta disse ter montado um centro de operações, que será ativado no dia 5 de julho.
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Consultado, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio disse que "tem total certeza de que vai realizar os Jogos no prazo determinado e com absoluta segurança para os atletas e demais participantes".