Cotidiano

Cientistas descobrem naufrágio que pode reescrever a história naval antiga

Os arqueólogos encontraram um navio arcaico e âncoras milenares que explicam as rotas comerciais entre gregos e fenícios na Antiguidade

Giovanna Camiotto

Publicado em 18/12/2025 às 17:02

Atualizado em 18/12/2025 às 19:09

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Os arqueólogos fizeram uma descoberta subaquática que deve redefinir a compreensão sobre navegação / Reprodução

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Nas águas cristalinas da costa de Santa Maria del Focallo, na Sicília, arqueólogos e voluntários fizeram uma descoberta subaquática que promete redefinir nossa compreensão sobre a navegação e o comércio no Mediterrâneo antigo. Um naufrágio de mais de 2.500 anos, datado entre os séculos VI e V a.C., foi encontrado a apenas seis metros de profundidade, incrustado sob areia e pedras, ao lado de um conjunto de seis âncoras que atravessam diferentes eras.

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Essa revelação não apenas ilumina rotas comerciais há muito esquecidas, mas também expõe avanços na construção naval da Antiguidade, um período efervescente de disputas entre gregos e fenícios pelo domínio dos mares.

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A jornada até este pedaço do passado começou em 2022, quando Antonino Giunta, voluntário da Soprintendenza del Mare, notou pilhas de pedras e fragmentos de madeira durante um mergulho. Sua observação meticulosa levou a uma escavação detalhada em setembro de 2023, conduzida pela Universidade de Udine e pela Soprintendenza del Mare, com o apoio crucial da Guarda Costeira de Messina.

Através da fotogrametria subaquática, os pesquisadores conseguiram criar um modelo 3D preciso do naufrágio, uma ferramenta essencial para a análise minuciosa dos destroços e das âncoras encontradas, sem a necessidade de removê-los imediatamente do leito marinho.

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O navio em si é uma maravilha da engenharia arcaica, construído com a técnica "su guscio" ou "shell-first", que priorizava a montagem das tábuas do casco com juntas e grampos antes da inserção da estrutura interna. Esse método, que resultava em uma embarcação robusta e resistente, mesmo após séculos de desgaste causado por organismos marinhos, ainda oferece pistas valiosas sobre as habilidades técnicas e o conhecimento construtivo da época.

Acompanhando os destroços, as seis âncoras descobertas refletem uma diversidade temporal impressionante. Quatro delas, de pedra, remontam a épocas pré-históricas, incluindo exemplares de três furos, enquanto as outras duas, de ferro em formato de "T" invertido, datam do século VII d.C. Essa amálgama de artefatos sublinha que a área foi um polo contínuo de atividade marítima por milênios, testemunhando o ir e vir de embarcações de diferentes civilizações.

Arqueólogos subaquáticos utilizaram fotogrametria para criar um modelo 3D detalhado deste navio de 2.500 anos. A técnica permite estudar a engenharia naval arcaica sem mover os frágeis destroços do fundo do mar/Reprodução
Arqueólogos subaquáticos utilizaram fotogrametria para criar um modelo 3D detalhado deste navio de 2.500 anos. A técnica permite estudar a engenharia naval arcaica sem mover os frágeis destroços do fundo do mar/Reprodução
O navio transportava alúmen, um mineral raríssimo na Antiguidade usado para fixar cores em tecidos. A descoberta prova que a Sicília era o coração de uma rede comercial de luxo entre gregos e fenícios/Reprodução
O navio transportava alúmen, um mineral raríssimo na Antiguidade usado para fixar cores em tecidos. A descoberta prova que a Sicília era o coração de uma rede comercial de luxo entre gregos e fenícios/Reprodução
Foram encontradas seis âncoras de diferentes épocas no local, desde pedras pré-históricas até ferro do século VII d.C. Isso revela que o ponto do naufrágio foi uma "rodovia marítima" usada por milênios/Reprodução
Foram encontradas seis âncoras de diferentes épocas no local, desde pedras pré-históricas até ferro do século VII d.C. Isso revela que o ponto do naufrágio foi uma "rodovia marítima" usada por milênios/Reprodução

Além da própria estrutura naval, a equipe encontrou indícios de uma carga composta por alúmen, um mineral vital para a fixação de corantes em tecidos e um produto de alto valor no comércio mediterrâneo. Extraído majoritariamente da ilha de Lipari, o alúmen conectava colônias gregas, fenícias e outras culturas ao longo das rotas comerciais da época.

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Os objetos no local sugerem que a carga estava organizada, talvez pronta para ser descarregada antes que o naufrágio selasse seu destino. O Projeto Kaukana, que coordena essa escavação, teve início em 2017 com o objetivo de mapear o vasto patrimônio subaquático da Sicília.

Esta nova descoberta, em particular, reforça a inquestionável importância da Sicília como um ponto estratégico crucial nas interações entre o Oriente e o Ocidente, muito antes da ascensão do Império Romano, e promete mais revelações através de estudos paleobotânicos e análises dos materiais da embarcação.

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