Cotidiano
Os arqueólogos encontraram um navio arcaico e âncoras milenares que explicam as rotas comerciais entre gregos e fenícios na Antiguidade
Os arqueólogos fizeram uma descoberta subaquática que deve redefinir a compreensão sobre navegação / Reprodução
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Nas águas cristalinas da costa de Santa Maria del Focallo, na Sicília, arqueólogos e voluntários fizeram uma descoberta subaquática que promete redefinir nossa compreensão sobre a navegação e o comércio no Mediterrâneo antigo. Um naufrágio de mais de 2.500 anos, datado entre os séculos VI e V a.C., foi encontrado a apenas seis metros de profundidade, incrustado sob areia e pedras, ao lado de um conjunto de seis âncoras que atravessam diferentes eras.
Essa revelação não apenas ilumina rotas comerciais há muito esquecidas, mas também expõe avanços na construção naval da Antiguidade, um período efervescente de disputas entre gregos e fenícios pelo domínio dos mares.
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A jornada até este pedaço do passado começou em 2022, quando Antonino Giunta, voluntário da Soprintendenza del Mare, notou pilhas de pedras e fragmentos de madeira durante um mergulho. Sua observação meticulosa levou a uma escavação detalhada em setembro de 2023, conduzida pela Universidade de Udine e pela Soprintendenza del Mare, com o apoio crucial da Guarda Costeira de Messina.
Através da fotogrametria subaquática, os pesquisadores conseguiram criar um modelo 3D preciso do naufrágio, uma ferramenta essencial para a análise minuciosa dos destroços e das âncoras encontradas, sem a necessidade de removê-los imediatamente do leito marinho.
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O navio em si é uma maravilha da engenharia arcaica, construído com a técnica "su guscio" ou "shell-first", que priorizava a montagem das tábuas do casco com juntas e grampos antes da inserção da estrutura interna. Esse método, que resultava em uma embarcação robusta e resistente, mesmo após séculos de desgaste causado por organismos marinhos, ainda oferece pistas valiosas sobre as habilidades técnicas e o conhecimento construtivo da época.
Acompanhando os destroços, as seis âncoras descobertas refletem uma diversidade temporal impressionante. Quatro delas, de pedra, remontam a épocas pré-históricas, incluindo exemplares de três furos, enquanto as outras duas, de ferro em formato de "T" invertido, datam do século VII d.C. Essa amálgama de artefatos sublinha que a área foi um polo contínuo de atividade marítima por milênios, testemunhando o ir e vir de embarcações de diferentes civilizações.
Além da própria estrutura naval, a equipe encontrou indícios de uma carga composta por alúmen, um mineral vital para a fixação de corantes em tecidos e um produto de alto valor no comércio mediterrâneo. Extraído majoritariamente da ilha de Lipari, o alúmen conectava colônias gregas, fenícias e outras culturas ao longo das rotas comerciais da época.
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Os objetos no local sugerem que a carga estava organizada, talvez pronta para ser descarregada antes que o naufrágio selasse seu destino. O Projeto Kaukana, que coordena essa escavação, teve início em 2017 com o objetivo de mapear o vasto patrimônio subaquático da Sicília.
Esta nova descoberta, em particular, reforça a inquestionável importância da Sicília como um ponto estratégico crucial nas interações entre o Oriente e o Ocidente, muito antes da ascensão do Império Romano, e promete mais revelações através de estudos paleobotânicos e análises dos materiais da embarcação.