Cotidiano

Cientistas brasileiros descobrem novas espécies de animais na Bacia do Rio Tietê

As novas espécies foram encontradas em locais próximos à capital paulista, onde a degradação ambiental e a poluição dos rios representam sérios riscos à biodiversidade

Márcio Ribeiro, de Peruíbe para o Diário do Litoral

Publicado em 28/10/2025 às 15:18

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Atualmente, 102 espécies de egla são conhecidas pela ciência, mas os pesquisadores acreditam que esse número deve aumentar à medida que novas áreas são estudadas / Reprodução/USP e ICMBio

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Duas novas espécies de crustáceos foram descobertas em plena Região Metropolitana de São Paulo — uma das áreas mais urbanizadas e impactadas do país. O achado, liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Grupo Pierre Martin de Espeleologia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), revelou a existência da 'Aegla tamanduatei' e da 'Aegla curucutu.'

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Descobertas em áreas sob forte pressão humana

As novas espécies foram encontradas em locais próximos à capital paulista, onde a degradação ambiental e a poluição dos rios representam sérios riscos à biodiversidade.

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A 'Aegla tamanduatei' foi encontrada na Gruta de Santa Luzia, em Mauá, dentro do Parque Municipal que leva o mesmo nome. O local abriga nascentes do rio Tamanduateí, um dos mais importantes — e hoje mais poluídos — cursos d’água da cidade de São Paulo.

Já a 'Aegla curucutu' foi descoberta no Parque Estadual Serra do Mar, no Núcleo Curucutu, que se estende pelos municípios de Itanhaém, Mongaguá e Juquitiba. Essa região abriga rios fundamentais para o abastecimento do sistema Guarapiranga, responsável pelo fornecimento de água à capital.

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O gênero mais ameaçado do mundo

Ambas pertencem ao gênero Aegla, considerado um dos mais ameaçados do planeta, segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) — órgão responsável pela Lista Vermelha de espécies em risco de extinção.

As chamadas eglas, ou 'pancoras', como são conhecidas no Sul do Brasil, não são caranguejos nem lagostins, embora se pareçam com eles. Esses crustáceos são únicos e têm como parentes próximos espécies marinhas, como os caranguejos-reais (Lithodidae), famosos no programa Pesca Mortal. As eglas são os únicos crustáceos desse grupo que se adaptaram à água doce, vivendo em riachos de correnteza.

Importância ecológica

Encontradas apenas na América do Sul, as eglas ocorrem desde os lagos frios da Patagônia até o sul de Minas Gerais, com maior presença na Mata Atlântica — o bioma brasileiro mais ameaçado.

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'Por ocupar riachos e nascentes, elas exercem um papel fundamental no fornecimento de nutrientes para os grandes rios. Esses animais trituram matéria orgânica e a transformam em alimento disponível para toda a cadeia alimentar', explica a pesquisadora Dra. Jéssica Colavite, do Museu de Zoologia da USP.

Registro histórico e novas espécies

Os primeiros registros de eglas em São Paulo datam do início do século XX, com exemplares coletados em 1910 e 1919. Essas espécies foram descritas em 1942 como 'Aegla franca' e 'Aegla paulensis.'
Desde então, novas espécies continuam sendo descobertas no estado.

Atualmente, são conhecidas seis espécies na Bacia do Tietê:

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'Aegla perobae' (São Pedro)
'Aegla paulensis' (Paranapiacaba)
'Aegla vanini' (Salesópolis)
'Aegla jundiai' (Serra do Japi)
'Aegla japi' (Jundiaí)
'Aegla jaragua' (Pico do Jaraguá, São Paulo)

As recém-descritas 'Aegla tamanduatei' e 'Aegla curucutu' se somam agora a essa lista e serão comparadas as outras seis espécies.

Próximos passos da pesquisa

Atualmente, 102 espécies de egla são conhecidas pela ciência, mas os pesquisadores acreditam que esse número deve aumentar à medida que novas áreas são estudadas.

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O Brasil abriga a maior diversidade conhecida do gênero — reflexo direto do empenho dos cientistas nacionais na investigação da biodiversidade do país.

O estudo faz parte do Projeto Biota, da Fapesp, que busca aprofundar o conhecimento sobre as eglas da Mata Atlântica. Os resultados foram publicados na revista científica internacional Zoological Studies.

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