A ideia é criar glóbulos vermelhos sintéticos que possam ser armazenados por mais tempo, transportem oxigênio com eficiência e sirvam para qualquer tipo sanguíneo / Divulgação
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A falta de sangue disponível para transfusões é um problema enfrentado em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos países enfrentam dificuldades para garantir estoques seguros e em quantidade suficiente. Estimativas da Cruz Vermelha Alemã (DRK) indicam que são necessárias cerca de 112 milhões de doações por ano no planeta. Uma única doação pode beneficiar até três pessoas em estado grave.
Mas a distribuição dessas doações é desigual: 40% ocorrem em países ricos, que concentram apenas 16% da população mundial. E o sangue coletado na Europa, por exemplo, raramente é exportado para regiões como a África ou a Ásia. Mesmo nos países com mais recursos, os estoques vivem sob pressão. Na Alemanha, são necessárias cerca de 15 mil doações diárias, e nem incentivos financeiros, brindes ou vales têm sido suficientes para atrair novos doadores.
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Apesar de parecer uma possível solução, o uso de sangue animal em humanos ainda está longe de se tornar realidade. A estrutura das hemácias dos animais é bastante diferente da humana, e o sistema imunológico tende a rejeitá-las.
Para que o uso fosse seguro, seria preciso remover todos os antígenos estranhos ou modificá-los geneticamente, um processo altamente complexo e arriscado. Por isso, o transplante de sangue animal para humanos não é considerado viável no momento.
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Diante desse cenário, cientistas do mundo inteiro estão buscando alternativas por meio do desenvolvimento de sangue artificial. As estratégias envolvem desde a modificação genética de células-tronco até o uso de enzimas e nanomateriais.
A ideia é criar glóbulos vermelhos sintéticos que possam ser armazenados por mais tempo, transportem oxigênio com eficiência e sirvam para qualquer tipo sanguíneo. Porém, os riscos ainda são consideráveis: o corpo pode reagir de forma adversa a componentes artificiais, provocando reações imunológicas graves.
Neste ano, um tipo sanguíneo inédito no planeta foi encontrado em uma francesa da Ilha de Guadalupe.
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Pesquisadores das universidades de Stanford e da Califórnia (UCSF) criaram uma técnica usando a ferramenta CRISPR para modificar células-tronco da medula óssea, fazendo com que elas produzam mais hemoglobina. O método ainda tem baixa produtividade, mas é visto como um avanço importante — especialmente por não ter registrado efeitos colaterais até agora.
Cientistas da Dinamarca e da Suécia identificaram enzimas em bactérias intestinais capazes de remover os antígenos que definem os tipos sanguíneos A e B, convertendo as hemácias para o tipo O, considerado universal. O desafio é eliminar também o fator Rh e os resíduos que ainda podem causar reações alérgicas.
Na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, pesquisadores desenvolvem minúsculas células artificiais capazes de transportar oxigênio como os glóbulos vermelhos naturais. Apesar de terem apenas um décimo do tamanho, elas mantêm a eficiência e podem ser armazenadas em temperatura ambiente — ideal para emergências. Porém, ainda não se consegue produzir essas células em larga escala com segurança comprovada.
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Nos Estados Unidos, a DARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa) financia projetos para turbinar glóbulos vermelhos com nanopartículas, a fim de aumentar a resistência de soldados a condições extremas, como grandes altitudes, calor intenso, frio ou exposição a doenças como a malária. Pesquisas semelhantes também estariam em curso na China.
Transformação de sangue vencido em vesículas universais
No Japão, cientistas da Universidade Médica de Nara testam desde março de 2025 vesículas de hemoglobina extraídas de bolsas de sangue expiradas. Elas se mostraram eficazes no transporte de oxigênio e compatíveis com todos os tipos sanguíneos. Os primeiros resultados, publicados em junho, indicam apenas efeitos leves como febre, e há planos para pedir autorização de uso até 2030.
Apesar dos avanços promissores, o caminho até o sangue artificial universal e seguro ainda é longo. Testes em humanos continuam sendo necessários e a produção em larga escala segue um desafio técnico. Até lá, o abastecimento dos bancos de sangue seguirá dependendo da solidariedade de doadores.
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