Cotidiano
A certificação reconhece cidades que se destacam pela gestão responsável de suas florestas urbanas e pela valorização das árvores como aliadas na qualidade de vida.
A transformação é visível não apenas nos indicadores, mas também na vida cotidiana / Divulgação/PMC
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O cenário de céu encoberto por névoa tóxica, olhos ardendo e moradores com sérios problemas respiratórios marcou a história de Cubatão nas décadas de 1970 e 1980, quando a cidade foi apelidada de “Vale da Morte” e classificada pela ONU como o lugar mais poluído do planeta.
Hoje, 40 anos depois, o mesmo organismo internacional concede ao município um selo verde de reconhecimento global, destacando a transformação ambiental que mudou a vida de milhares de habitantes.
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O título foi entregue em março de 2025, por meio do programa Tree Cities of the World, da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura). A certificação reconhece cidades que se destacam pela gestão responsável de suas florestas urbanas e pela valorização das árvores como aliadas na qualidade de vida.
Moradores que vivenciaram a época mais crítica recordam o impacto da poluição. Dalva Simões, hoje com 72 anos, lembra quando chegou ao município em 1970.
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“Meus olhos ardiam como se tivesse pimenta, minha mãe e meus irmãos não paravam de lacrimejar. Nós não enxergávamos nem a Serra do Mar de manhã”, contou.
A situação extrema atingiu seu ápice na Vila Parisi, comunidade no coração do polo industrial, onde a contaminação foi associada a doenças graves, incluindo dezenas de casos de anencefalia.
A virada veio nos anos 1980, após o incêndio da Vila Socó, em 1984, que matou 93 pessoas. A tragédia impulsionou uma mobilização sem precedentes entre sociedade, autoridades e órgãos de fiscalização.
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A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) foi protagonista no processo de transformação. A partir de 1983, passou a exigir que siderúrgicas, petroquímicas e químicas implantassem filtros, lavadores de gases e sistemas de tratamento inexistentes até então.
“Nenhuma indústria tinha equipamentos de controle ambiental. Hoje, alcançamos 98% de controle dos poluentes e qualidade boa do ar em 96% do tempo”, explicou Marcos Cipriano, gerente regional da Cetesb com 35 anos de atuação.
Além da fiscalização, um intensivo programa de reflorestamento da Mata Atlântica e da Serra do Mar reverteu a devastação causada pela chuva ácida. O esforço rendeu a Cubatão o título de “Exemplo Mundial de Recuperação Ambiental” já na ECO-92.
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Nos últimos anos, a Prefeitura implementou medidas decisivas para consolidar o reconhecimento internacional:
Plano Municipal de Arborização Urbana, com mapeamento e catalogação de árvores;
Compensações ambientais que resultaram no plantio de mil novas árvores em oito anos;
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Projetos habitacionais sustentáveis, como a urbanização da Vila Esperança, que devolveu áreas verdes equivalentes a 16 estádios de futebol à comunidade.
“Estamos vivendo um momento histórico em Cubatão. Eliminamos palafitas, criamos áreas verdes e estamos construindo uma Via Ecológica Perimetral. Hoje devolvemos qualidade de vida à população”, destacou o prefeito César Nascimento (PSD).
A transformação é visível não apenas nos indicadores, mas também na vida cotidiana. O retorno do guará-vermelho aos manguezais simboliza a reconquista da biodiversidade local. Para moradores como Dalva, a mudança é motivo de emoção:
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“Antes não víamos nenhum pássaro. Hoje, na minha janela, tenho vários. Foi uma mudança muito grande. Nós aprendemos o valor da natureza porque vivemos no limite da destruição.”
Com investimentos bilionários das indústrias, fiscalização constante e ações de reflorestamento, Cubatão deixou de ser sinônimo de degradação para se tornar referência mundial em recuperação ambiental.
O selo da ONU não apenas reconhece o esforço coletivo de décadas, mas também projeta a cidade do litoral paulista como modelo para outras regiões que enfrentam o desafio de conciliar desenvolvimento industrial com preservação ambiental.
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