X

Cotidiano

Centro recupera animais vítimas de maus tratos

Ceptas Unimonte abriga cerca de 100 animais silvestres em Cubatão. Hospital-escola é referência no litoral. Unidade recebe as espécies e as encaminha após tratamento

Publicado em 16/01/2017 às 11:00

Comentar:

Compartilhe:

A-

A+

Filhote de veado, esta fêmea recebeu o nome de ‘Bambina’ e foi recolhida em Registro, no Vale do Ribeira. Animal pode ter fugido de caçadores que mataram a mãe / Rodrigo Montaldi/DL

Solitário, o urubu arrisca alguns passos. Não andou muito. Vítima de uma paulada, o animal teve uma das patas machucadas. No recinto ao lado, um papagaio – com poucas penas – brinca com os companheiros de espaço. Outro, também com dificuldade de locomoção, segue em direção à bandeja de frutas. Os três foram vítimas de maus tratos e recebem cuidados no Centro de Pesquisa e Triagem de Animais Silvestres (Ceptas), mantido pelo Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), nas dependências do Parque Cotia-Pará, em Cubatão. 

“Os animais são criados de forma errada e sofrem. Associam, por exemplo, o papagaio ao girassol (semente usada popularmente na alimentação) e só o alimentam com isso. Com o tempo vão surgindo doenças. No caso dos urubus, eles são os que mais sofrem maus tratos por acharem que são bichos sujos.

Se fossem sujos não sobreviveriam”, explicou Nereston Camargo, médico veterinário e gestor do Ceptas ­Unimonte. 

Em uma caixa, o profissional mostra uma ninhada de saruês (gambás) retirados da bolsa marsupial da mãe, que foi morta. Os animais foram resgatados pela Polícia Ambiental. A espécie é muito comum na região.

“As pessoas associam o saruê a rato e mau cheiro. Muitos são atropelados propositalmente ou atacados. Geralmente, a mãe morre, mas os filhotes sobrevivem. É bom lembrar que, no Brasil, há apenas uma espécie de gambá que exala odor e não é característico da região”, ressaltou o veterinário da unidade. 

A Reportagem acompanhou o momento em que os animais do Centro eram alimentados. Uma fêmea, filhote de veado, chama a atenção. Se aproxima e abana o pequeno rabo. Apelidado carinhosamente de ‘Bambina’ pelos funcionários da unidade, o animal foi resgatado em Registro, no Vale do Ribeira.

Provavelmente fugida de caçadores que tiraram a vida de sua mãe. A carne do veado é considerada exótica e apreciada em muitos restaurantes. “Agora, ela já está comendo outros alimentos, mas é amamentada com leite de cabra, o mais próximo da sua espécie”, disse Camargo, enquanto oferecia mamadeira ao animal. 

Jacarés

Outra espécie muito recepcionada no Centro é o jacaré-de papo-amarelo. Recentemente, a unidade recebeu um animal que foi capturado por populares, que o amarraram com cordas na Vila Noel, em Cubatão.

Ocorrências como essa na região têm se tornado constantes. 

“Ele não é como o ser humano. Se ele não estiver com fome não mata. Provavelmente a chuva aumentou o volume dos rios e o animal acabou vindo para perto da população. A população capturou o jacaré e amarrou. O certo é ligar para os bombeiros e não fazer a captura do animal. O animal só vai atacar se se sentir ameaçado. Cutucado, ele tem a área de exploração muito rápida. Se fechar a boca não abre mais”, afirmou Camargo. 

Registros

O Centro abriga atualmente cerca 100 animais. Eles são encaminhados à unidade por órgãos de proteção ambiental, após apreensão, a maioria fruto do tráfico de animais e vítima de maus tratos ou da caça predatória. Após atendimento são soltos na natureza ou removidos para ‘santuários’ – locais que abrigam espécies que sofreram abusos e ficaram com sequelas permanentes. Em dois anos de existência, o Ceptas, que funciona como um hospital-escola especializado em silvestres, já registrou 1.200 ­ocorrências. 

“Assim que eles chegam há o procedimento de identificação da ocorrência. É feita uma avaliação e a soltura é imediata. Caso requeira cuidados, o animal permanece até que possa ser viabilizada a soltura ou ­encaminhamento para outro local. Todos os animais que passaram pela unidade tem uma ficha cadastral”, ressaltou Camargo. Capivara, papagaio, mico, veado, jacaré-de-papo-amarelo, tamanduá-mirim, bicho preguiça, gambá (saruê), pássaros diversos, coruja e gavião são as espécies­ mais atendidas na unidade.

Comércio ilegal e a extinção das espécies 

O tráfico de animais é considerado a terceira maior atividade ilegal do mundo, ficando atrás apenas do tráfico de armas e drogas. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama), entre 2005 e 2010, é estimado que cerca de 38 milhões de exemplares silvestres sejam retirados anualmente da natureza e que aproximadamente quatro milhões deles sejam vendidos. O comércio movimenta cerca de 2 bilhões de dólares por ano. 

“Muitos animais como papagaios e jabutis são os preferidos do tráfico, que os vendem ilegalmente. Quem compra está contribuindo para o dano à preservação da espécie e incentivando um dos principais comércios ilegais do mundo”, lembrou Camargo. O comprador de animal nessas condições pode ser autuado como receptador. Considerados apenas os pássaros, a comercialização ilegal no Brasil movimentou R$ 7 bilhões na última década. 

De acordo com relatório da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, a comercialização para zoológicos, colecionadores particulares, uso científico, biopirataria e petshops incentivam a atividade ilegal. A entrega voluntária dos animais é considerada uma importante aliada no combate à ­exploração. 

“Existem espécies que podem ser comercializadas legalmente e o correto é buscar criadores legalizados”, destacou o veterinário. ?

Apoie o Diário do Litoral
A sua ajuda é fundamental para nós do Diário do Litoral. Por meio do seu apoio conseguiremos elaborar mais reportagens investigativas e produzir matérias especiais mais aprofundadas.

O jornalismo independente e investigativo é o alicerce de uma sociedade mais justa. Nós do Diário do Litoral temos esse compromisso com você, leitor, mantendo nossas notícias e plataformas acessíveis a todos de forma gratuita. Acreditamos que todo cidadão tem o direito a informações verdadeiras para se manter atualizado no mundo em que vivemos.

Para o Diário do Litoral continuar esse trabalho vital, contamos com a generosidade daqueles que têm a capacidade de contribuir. Se você puder, ajude-nos com uma doação mensal ou única, a partir de apenas R$ 5. Leva menos de um minuto para você mostrar o seu apoio.

Obrigado por fazer parte do nosso compromisso com o jornalismo verdadeiro.

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Coluna

Professores de Santos lutam por reajuste salarial e outros assuntos

Comissão da Câmara dos Deputados aprova projeto de lei que prevê transporte porta a porta gratuito para pessoas com severa dificuldade de locomoção

Em breve!

Hospital Pediátrico da Zona Noroeste de Santos ficará pronto em 15 meses

O hospital terá seis pavimentos.  Ainda será erguida uma escola, uma quadra poliesportiva e um campo de futebol

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter