Cotidiano
O porto em questão fica em Nouadhibou, ao norte do país, quase na divisa com o Saara Ocidental, no Deserto do Saara, uma das regiões mais inóspitas do planeta
Os barcos permanecem parados durante o período de reprodução da espécie, aguardando o momento em que a temporada de pesca é reaberta / Reprodução/Google Earth
Continua depois da publicidade
Quem explorar o litoral da Mauritânia pelo Google Maps pode se deparar com uma das imagens mais impressionantes do planeta: dezenas — ou melhor, centenas — de barcos de pesca artesanal enfileirados, formando um cenário que parece interminável.
O porto em questão fica em Nouadhibou, ao norte do país, quase na divisa com o Saara Ocidental, no Deserto do Saara, uma das regiões mais inóspitas do planeta.
Continua depois da publicidade
O local funciona como um verdadeiro “estacionamento” de embarcações — muitas delas motorizadas, outras não — usadas principalmente na pesca do polvo. Os barcos permanecem parados durante o período de reprodução da espécie, aguardando o momento em que a temporada de pesca é reaberta.
Além do polvo, pescadores locais também capturam atum, caranguejos e outras espécies marinhas, totalizando cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano. No entanto, apenas 5% dessa produção fica no país; o restante é exportado, sobretudo para a Europa e a Ásia.
Continua depois da publicidade
A pesca predatória preocupa ambientalistas. Em 2018, o volume pescado na região ficou 17% acima do rendimento máximo sustentável, segundo dados de especialistas. O temor é que a exploração descontrolada leve à escassez de recursos marinhos em uma das áreas mais ricas em biodiversidade pesqueira do mundo.
Nouadhibou é a segunda maior cidade da Mauritânia e o principal centro comercial do país. Com cerca de 90 mil habitantes, fica a apenas um quilômetro da fronteira com o Saara Ocidental e foi fundada por colonizadores franceses no século XX, com o nome de Port-Étienne.
A atividade econômica que emprega o maior número de pessoas é a pesca. No entanto, desde 1964, quando se finalizou a construção de um píer e uma ferrovia de 674 km até os assentamentos mineiros de Zouîrât e Fdérik, a indústria mais importante é o processamento do minério de ferro transportado pela ferrovia desde os assentamentos mineiros.
Continua depois da publicidade
A Baía de Nouadhibou também é conhecida como o maior cemitério de navios do mundo, com mais de 300 embarcações abandonadas. O cenário surgiu durante a década de 1980, quando autoridades corruptas permitiram o descarte ilegal de navios em troca de propinas, após a nacionalização da indústria pesqueira.
A falta de fiscalização transformou a baía em um depósito de embarcações enferrujadas, de pequenos pesqueiros a enormes cargueiros, criando uma paisagem ao mesmo tempo fascinante e sombria.
De acordo com informações recentes, o governo da Mauritânia está tomando medidas para eliminar o cemitério de barcos, encerrando um capítulo marcado pela corrupção e degradação ambiental — e pondo fim a um macabro atrativo turístico.
Continua depois da publicidade
itérioo