25 de Abril de 2024 • 14:10
O plano para o futuro é investir em equipamentos e em um ponto para vender os doces. / Nair Bueno/Diário do Litoral
Matheus Cristofalo tem 34 anos e uma vida em comum a muitos brasileiros. Foi criado só pela mãe, não conseguiu terminar o curso de Nutrição pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) porque as aulas eram em período integral e ele precisava trabalhar. Sem desistir do sonho de ser o primeiro a conquistar um diploma universitário na família, olhou para outros horizontes e viu na Gastronomia uma nova opção de carreira.
Mas, havia mais um problema: o valor da mensalidade. "Eu trabalhava como barman e garçom à noite, mas não era um trabalho fixo. Tinha vezes que só era chamado no fim de semana e o dinheiro que recebia era pouco", conta.
O jeito foi prestar ENEM para conseguir uma bolsa pelo ProUni - e ele conseguiu 50%. Mas, ainda não tinha como pagar a outra metade e buscou pelo FIES. Foi por esse caminho longo, burocrático e trilhado por tanta gente no Brasil, que ele conseguiu ultrapassar as barreiras impostas para quem quer chegar à universidade mas não tem dinheiro.
Em agosto do ano passado, ele adentrou pela primeira vez o Campus da Unimonte, em Santos, para aprender as técnicas que envolvem a cozinha profissional. Foi amor à primeira vista e logo Matheus começou a se arriscar na cozinha da própria casa. A ideia era fazer brownie, mas nas primeiras tentativas, perdeu três fornadas e mais de 1 kg de chocolate comprado com dinheiro contado do bico de final de semana.
Acostumado a não desistir, tentou de novo e chegou na receita que queria. Saiu a pé pela cidade oferecendo seu produto em estabelecimentos comerciais. "A venda porta a porta não é fácil. Tem gente que não deixa nem entrar na loja ou fica olhando feio".
Nessa nova vida de vendedor ambulante a música era sua maior companheira, mais especificamente, as letras da banda Charlie Brown Jr, conterrânea de Matheus. "Gosto de todas, mas 'Dias de luta, dias de glória' era a que eu mais ouvia enquanto fazia as entregas". A força das músicas inspirou o nome da marca: Choco Brown Jr.
PARCERIA
Durante as caminhadas, ele conheceu Thais Barbosa, de 21 anos. Ela trabalhava em um restaurante fast-food e não estava feliz no emprego. O encontro virou namoro e em três meses eles foram morar juntos.
A ideia de adoçar a vida do povo conquistou Thais também e a libertou de um trabalho que ela não queria mais. A cozinha de Matheus ganhou companhia.
Além de ajudar na produção dos doces, Thais ensinou Matheus a andar de bicicleta, o que permitiu entregas mais rápidas e a conquista de clientes que moram em outros locais.
ACIDENTE
Como a Páscoa é a melhor época para quem trabalha com chocolate, Matheus investiu em produtos refinados para fazer ovos e vender pela internet, como manda a pandemia. Foi buscar as compras de bicicleta, mas no meio do caminho, próximo ao Gonzaga, foi atropelado por outro ciclista. Os produtos caíram no chão e o sangue subiu. Na discussão, o homem empurrou Matheus, que caiu sobre o guidão e partiu o rim.
Thais chamou a ambulância enquanto o homem que causou o acidente, fugiu. O desentendimento rendeu a Matheus duas cirurgias, 34 pontos, dois dias em coma na Santa Casa de Santos e planos adiados.
Passado o susto, eles perderam as vendas online da Páscoa, mas ganharam nova vida e novo fôlego.
BARRAS RECHEADAS
Com o recomeço e a ideia mais madura na cabeça, eles substituíram as embalagens plásticas por embalagens recicláveis e passaram a oferecer a novidade do litoral: barras de chocolate nobre recheadas e produzidas de forma artesanal.
A receita foi estudada: o chocolate passa por cinco temperaturas, descansa por 24 horas e só depois vai para a casa do cliente. "Na faculdade a gente aprende a respeitar os ingredientes e um bom chocolate precisa desse tempo para manter a qualidade. Não queria ser mais um oferecendo doces com muito açúcar, cheios de Nutella ou ninho. Acredito em novas formas de servir o chocolate".
O novo produto da Baixada está fazendo sucesso. Tanto, que o casal passou a trabalhar com a produção semanal agendada para conseguir dar conta dos pedidos. Além das barras recheadas, eles mantiveram os brownies e vão produzir trufas e chocotone no Natal. O plano para o futuro é investir em equipamentos e em um ponto para vender os doces.
Mesmo com tanto revés na vida, o futuro Chef Confeiteiro segue acreditando que “capricho, amor e sabor ganham o cliente”. A receita otimista está dando certo.
Quem quiser conhecer a doce novidade, pode pedir pelo WhatsApp (13) 98152-2490 ou instagram: @choco.brown_jr.
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