Os pesquisadores coletaram amostras de sedimento, água e de três espécies de caranguejo comuns na região / Laboratório de Aquicultura Sustentável/Unesp
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Um levantamento inédito realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) revelou um dado alarmante: caranguejos do manguezal do Portinho, em Praia Grande, apresentam até 1.200% mais microplásticos em seus corpos do que a própria lama onde vivem.
O achado não só reforça os impactos da poluição plástica nos ecossistemas costeiros, como também alerta para os riscos à saúde da população que consome esses animais.
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Durante cerca de um ano e meio de experimentos, os pesquisadores coletaram amostras de sedimento, água e de três espécies de caranguejo comuns na região (Goniopsis cruentata, Aratus pisonii e Minuca rapax). Em todos os casos, os resíduos foram encontrados.
Em média, um único exemplar analisado apresentou 175 partículas microscópicas de plástico acumuladas em músculos, sangue e órgãos – quantidade até 13 vezes superior à observada no ambiente externo.
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O processo identificado é chamado de bioacumulação, quando resíduos passam a se concentrar no organismo dos animais. Nos caranguejos, essa dinâmica já compromete funções básicas, como a respiração.
Para os seres humanos, o risco é indireto, mas preocupante: ao consumir a carne desses crustáceos, também há ingestão dos microplásticos.
A pesquisa aponta que a urbanização intensa da Baixada Santista, somada ao impacto das indústrias e ao tráfego portuário, amplia a presença desses resíduos na região.
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Além da contaminação direta, o estudo destaca que a redução de áreas preservadas e o desmatamento favorecem a dispersão da espécie de caranguejo mais afetada, ampliando os impactos.
Os cientistas defendem que os resultados reforçam a urgência de campanhas educativas sobre descarte irregular de lixo e redução do uso de plásticos descartáveis. A equipe da Unesp já realiza ações em escolas e comunidades para sensibilizar a população local.
Apesar dos resultados inéditos, a pesquisa deve avançar: novos pontos da Baixada Santista estão sendo monitorados e outras espécies avaliadas para medir o nível de bioacumulação.
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O problema não se restringe aos caranguejos. Outro estudo recente da Unesp, em fase preliminar, mostrou que até 90% dos camarões coletados no litoral paulista já apresentam microplásticos no trato intestinal.
As coletas, feitas em áreas de maior impacto humano na Baixada Santista e em regiões de menor intervenção, como Cananéia, confirmam que a poluição plástica é um fenômeno generalizado e que exige atenção contínua.