Cotidiano
Lideranças afirmam caráter técnico do ato, mas parte das demandas tem cunho político e provoca resistência em entidades regionais
Greve de caminhoneiros de 2018 fez faltar combustível e gerou caos logístico em todo País / Thomaz Silva/Agência Brasil
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Caminhoneiros de diversas regiões do país articulam uma paralisação nacional marcada para esta quinta-feira (4), em um movimento que, segundo lideranças, busca pressionar por melhores condições de trabalho e mudanças estruturais no setor de transporte rodoviário.
Embora ainda não haja consenso entre sindicatos, a mobilização deve ganhar força nas próximas horas e já envolve articuladores que estiveram à frente da greve de 2018 - quando a paralisação da categoria fez o preço do combustível aumentar e gerou um grande caos logístico no País.
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Daniel Souza, caminhoneiro e influenciador digital conhecido por sua atuação na paralisação daquele ano, afirma que o cenário atual é de "realidade precária", com baixa remuneração, dificuldades para cumprir exigências legais e falta de segurança nas rodovias.
O presidente da Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Cargas (ACTRC), Janderson Maçaneiro o Patrola , confirma insatisfação generalizada e acredita em forte adesão.
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Entidades regionais, porém, divergem. O Sindicam de Cravinhos declarou apoio aos caminhoneiros que decidirem parar, enquanto o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Porto Ferreira preferiu não se pronunciar.
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Na Baixada Santista e região, a mobilização é alvo de críticas: Marcelo Paz, presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos do Porto de Santos (CCAPS), defende que decisões sejam tomadas apenas de forma coletiva, por votação.
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A posição mais dura veio do Sindicam-Baixada Santista, que em nota oficial afirmou que não apoia e não irá aderir ao movimento, alegando que a pauta "não é exclusivamente da categoria, mas política". A entidade reforçou que só participa de mobilizações com foco direto nos direitos dos transportadores autônomos.
A lista de demandas revela que o pacote de reivindicações vai muito além do preço do combustível ponto central na greve de 2018. Entre as principais solicitações estão:
Outros pontos chamam atenção pela dimensão política e estrutural, como a proposta de destinar 30% de toda a carga de estatais a caminhoneiros autônomos e a previsão de que lideranças da categoria possam ocupar cargos políticos estratégicos.
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Na segunda-feira (2), o desembargador aposentado Sebastião Coelho e o representante da União Brasileira dos Caminhoneiros, Chicão Caminhoneiro, anunciaram ter protocolado ação para legalizar a paralisação. Em vídeo, ambos disseram oferecer suporte jurídico ao movimento e defenderam que a mobilização ocorra dentro da lei.
Embora parte das lideranças insista que a paralisação não é política, o próprio Coelho defendeu publicamente uma greve nacional pela anistia ampla aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e ao ex-presidente Jair Bolsonaro, preso desde novembro. O desembargador chegou a convocar apoiadores para adesão total à paralisação, excetuando apenas bombeiros, hospitais e ambulâncias.
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A mobilização não é unanimidade e deverá avançar de forma desigual pelo país, dependendo do alinhamento entre cooperativas, sindicatos e caminhoneiros autônomos. Ainda não há posicionamento oficial do governo federal.
Se confirmada, essa será a maior paralisação desde a greve de 2018, que paralisou rodovias por dez dias e gerou desabastecimento nacional de combustíveis e alimentos. Agora, a pauta é mais ampla, mais complexa e politicamente mais delicada.
A expectativa é de que os próximos passos definam o tamanho real do movimento e seu impacto sobre o transporte e a economia nacional. O país volta a observar os caminhoneiros e o volante pode decidir novamente os rumos das estradas e do debate político.
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