Enquanto o planeta segue rumo a 2,8 °C de aquecimento, o Brasil pode chegar a 4 °C a 4,5 °C / Foto de Yassir Draka/Pexels
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O avanço das negociações climáticas em Belém trouxe um alerta contundente sobre o futuro climático brasileiro. Em um cenário em que o planeta se aproxima de ultrapassar o limite de 1,5 °C de aquecimento médio definido no Acordo de Paris, pesquisadores afirmam que o Brasil deverá sentir impactos muito mais severos do que outras regiões do mundo.
A projeção foi apresentada pelo físico e climatologista Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, durante evento no estande da Finlândia na Zona Azul da COP30.
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Segundo ele, enquanto o planeta segue rumo a 2,8 °C de aquecimento, o Brasil pode chegar a 4 °C a 4,5 °C acima do período pré-industrial, devido às características tropicais e continentais do país.
Artaxo contextualizou que o limite de 1,5 °C, firmado em 2015, representa uma tentativa de evitar danos climáticos ainda mais intensos. Ele explicou que atrasos globais no abandono de combustíveis fósseis tornam esse objetivo cada vez mais distante.
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Para frear a escalada, seria necessária uma transição energética rápida, capaz de reduzir drasticamente o uso de petróleo, carvão e gás.
O pesquisador observou que iniciativas de remoção de dióxido de carbono, conhecidas como carbon dioxide removal, ainda não operam na escala necessária para compensar décadas de emissões.
Ele considera que métodos como restauração ecológica são valiosos, mas insuficientes diante da continuidade do uso de combustíveis fósseis e do alto custo das tecnologias atuais.
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Artaxo é um dos signatários de uma declaração internacional apresentada no Pavilhão de Ciências Planetárias, o primeiro do tipo em uma conferência climática da ONU.
O documento também foi assinado pelos brasileiros Thelma Krug, Carlos Nobre e Marina Hirota, que destacaram que cada incremento de 0,1 °C intensifica riscos associados a ondas de calor, tempestades, incêndios florestais e precipitações extremas, que ja matam milhares de pessoas todos os anos.
Os autores ressaltam que os impactos recaem de maneira desproporcional sobre populações vulneráveis, economias frágeis e povos indígenas, reforçando que a adaptação deve ser um dos pilares centrais da COP30.
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No evento, Artaxo argumentou que preservar e restaurar florestas ajuda a manter regimes de chuva e serviços ecossistêmicos essenciais, mas não será suficiente se o mundo continuar emitindo CO em ritmo elevado.
Ele destacou que não haverá área disponível o bastante no planeta para plantar árvores capazes de absorver todo o carbono liberado caso o cenário atual se mantenha.
O pesquisador defendeu a criação de um roadmap de descarbonização, documento que definiria etapas e responsabilidades para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
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Esse movimento vem ganhando força nos bastidores da conferência, com apoio de países europeus e de nações em desenvolvimento. A expectativa é de que as negociações avancem até o encerramento da COP30, previsto para 21 de novembro.