Cotidiano
Mas este artigo além de elogiar o que o Norte tem de melhor também busca resumir os resultados efetivos da Conferência. E, apesar das frustrações, tivemos avanços importantes.
Evento acontece em Belém / Divulgação
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Estive na COP 30, em Belém, e posso dizer que poucas coisas me marcaram tanto quanto ver a Amazônia recebendo o mundo de braços abertos. A cidade respirava o evento por todos os cantos e permitiu que tivéssemos a maior participação de povos indígenas da história das COPs.
Isso, por si só, já dizia muito sobre o espírito da edição: mostrar ao planeta que discutir clima olhando para a floresta é completamente diferente. E fizemos isso com maestria. Belém deu um show de recepção: organizada, vibrante, acolhedora, misturando diplomacia com tapioca, debates tensos com chuva amazônica no fim da tarde e uma hospitalidade que só quem conhece o Norte entende.
Mas este artigo — além de elogiar o que o Norte tem de melhor — também busca resumir os resultados efetivos da Conferência. E, apesar das frustrações, tivemos avanços importantes.
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O Pacote Belém, aprovado por 195 países, trouxe 29 decisões concretas, incluindo o compromisso de triplicar o financiamento para adaptação até 2035 e a criação de 59 indicadores voluntários para monitorar o progresso da Meta Global de Adaptação. Isso representa um salto relevante: finalmente a adaptação foi tratada com a seriedade que o tema merece, reconhecendo soluções que vão desde tecnologias simples e acessíveis até ações comunitárias que já transformam territórios há anos — muitas delas vindas das próprias comunidades amazônicas, que agora ganham o reconhecimento global que merecem.
Outro avanço significativo foi o lançamento do Roteiro de Adaptação de Baku (2026–2028), que estabelece um compromisso político e um plano de trabalho global para garantir que os esforços de adaptação sejam mais concretos, monitoráveis e devidamente financiados. É uma tentativa de organizar, de forma mais estratégica, o que o mundo precisa fazer para preparar suas populações para os impactos já inevitáveis da crise climática.
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O debate sobre justiça climática, protagonismo de povos tradicionais e bioeconomia também ganhou força, com um reconhecimento mais claro de que qualquer transição só faz sentido se incluir quem vive e protege a floresta.
Além disso, ficou evidente que há um movimento global crescente em direção à ampliação das energias renováveis e ao fortalecimento de iniciativas voltadas para manter florestas tropicais em pé. Não são revoluções, mas são passos firmes, que no ritmo certo podem transformar a lógica de desenvolvimento.
Ainda assim, é impossível ignorar a grande frustração desta edição: a ausência de um caminho claro para o fim dos combustíveis fósseis. O texto final ficou longe do que a ciência já repete há anos.
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Para manter o aquecimento do planeta dentro do limite de 1,5°C, é preciso reduzir drasticamente as emissões — e isso exige decisões mais corajosas, imediatas e ambiciosas. Podemos até estar no caminho certo, mas a velocidade definitivamente não acompanha a urgência da crise.
Mesmo assim, a COP 30 mostrou que existe uma geração inteira disposta a fazer diferente (havia muita participação da juventude nos corredores e mesas de debates). E mostrou também que, por mais contraditório que possa parecer, pequenos avanços ganham força quando acontecem no lugar certo, diante das pessoas certas, com a floresta observando tudo de perto.
Eu voltei de Belém com o coração cheio — ainda preocupado, mas muito animado. E se tem uma coisa que recomendo a qualquer pessoa que pense em clima, política, futuro ou simplesmente boa comida é: vá conhecer o Norte.
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Caminhe pelo Ver-o-Peso, prove tudo o que não sabe pronunciar, deixe o calor lhe abraçar e, por favor, não esqueça de tomar um tacacá. Porque depois de uma COP intensa como essa, nada aquece a alma como um bom prato típico da Amazônia — e, quem sabe, ele não ajude também a fortalecer a vontade de transformar o mundo.