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Cotidiano

Bebê pode ficar cega por toda a vida se não operar

Maria Elena nasceu cega e precisa ser operada urgentemente. A irmã Maria Eloise também tem problema de visão. A mãe luta para trazer luz às crianças

Carlos Ratton

Publicado em 19/10/2014 às 02:46

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Após ter sido abandonada grávida de trigêmeas pelo namorado em Natal (RN), ter sobrevivido a um atropelamento que a deixou parcialmente deficiente e a um parto arriscado, a sofrida Maria Ducinéa da Silva tem à frente o maior de todos os desafios: operar as vistas de duas de suas três filhas - Maria Eloise e Maria Elena – a segunda com visão parcial e a última totalmente cega desde que chegou ao Mundo. A terceira, Maria Eduarda, nasceu sem problemas.

A situação é muito grave. Morando de favor na modesta casa de uma irmã no núcleo carente Pedreira – um lugar sem infraestrutura básica – no bairro da Enseada, em Guarujá, Maria Ducinéa infelizmente não tem muito tempo para evitar que suas crianças vivam o resto da vida na escuridão. O prazo para a operação, dado pelo médico que fez o parto de risco das meninas (que nasceram prematuras na 29ª semana de gestação), é abril de 2015.

Ducinéa revela que o médico, após ter se surpreendido com o fato de Maria Elena ter sobrevivido, garantiu que as meninas para obter a visão precisam ser operadas antes de completar um ano de vida. Depois, a chances das crianças são cada vez menores e Maria Elena, em especial, poderá ser condenada a uma vida repleta de limitações.

Ducinéa tem 36 anos. Chegou ao Guarujá no dia 23 de agosto último após cinco meses de internação em função da gravidez de risco. As crianças nasceram no dia 2 de abril de uma gestação múltipla. As três meninas ficaram três meses sob um tratamento intensivo até serem liberadas. “Maria Elena teve a retina descolada após o nascimento. O médico me disse eu preciso urgente operá-la, caso contrário ela não vai enxergar. Se for operada, as chances são de 90%”, afirma a mãe.

Religiosa, Ducinéa acredita que a menina está viva graças a Nossa Senhora da Imaculada Conceição – conhecida como a rainha de todos os santos. “Eu ganhei um quadrinho da santa de um funcionário do hospital e coloquei ao lado da Elena. Disseram que ela não iria resistir, mas eu nunca tive dúvidas que ela iria sobreviver”, conta segurando o quadro.

Ducinéa não pode trabalhar em função do acidente sofrido que a fez perder a visão de uma vista e causou- lhe sequelas pelo corpo todo. Ela vive de um auxílio doença de R$ 724,00 e conta que foi atropelada por um senador que sequer lhe ofereceu assistência médica ou financeira. ”Eu acionei a Justiça, mas não deu em nada”, revela.

Atualmente, Ducinéa vive de doações – fraldas, roupas, comida e leite para as crianças. Ela dorme na sala da casa da irmã, ao lado do berço das meninas. As roupinhas que ficam pequenas ela doa a outras mamães da Pedreira. Quando a situação aperta, ela não mede esforços para assistir as meninas. Já foi buscar ajuda até no CRPI (Centro de Recuperação de Paralisia Infantil), que fica no outro extremo da Cidade. “Fui de bicicleta porque não tinha dinheiro para a condução”.

História movimenta o Fórum de Guarujá

A história de Ducinéa está movimentando os funcionários do Fórum de Guarujá, como a copeira Maria Ivanilde Alves Reis. “A encontrei sentada no banco do Fórum, aguardando ser atendida pela Promotoria. Na ocasião, ela me disse que as crianças só tinham leite até às 21 horas. Imediatamente comprei uma lata e fui conhecer a família. A sua história mudou a minha história”, disse Maria Ivanilde, garantindo que vários funcionários passaram a ajudar Ducinéa.

Advogados também aderiram à causa. “Eu conheci o caso dela no Fórum e entrei em contato com a Promotoria da Infância e a Defensoria. Os representantes de ambos os órgãos me revelaram que estão tomando providências (ver nessa reportagem). Além disso, estou iniciando um movimento com objetivo de arrecadar fraldas e alimentos para Ducinéa e suas filhas”, afirma o advogado Airton Sinto, que também vai acompanhar a família na área judicial.

Maria Bethânia da Silva, irmã de Ducinéa, gostaria de oferecer acomodações melhores à irmã. “Mas, infelizmente, não temos condições. Minha casa só possui três cômodos. Estou tentando construir um quarto na parte de cima da casa. Com ajuda de Deus vou conseguir”, afirma.

Ducinéa luta para que as filhas enxerguem (Foto: luiz Torres/DL)

Promotoria e Defensoria se unem pela causa

A luta de Maria Ducinéa e suas três filhas ganharam dois aliados: o defensor público Victor Luiz Oliveira da Paz e o promotor público Osmair Chamma Júnior. Ambos estão cobrando providências da Secretaria Municipal de Saúde de Guarujá.

Victor da Paz, em ofício 457/2014, de 2 de outubro último, está solicitando atendimento médico urgente afim de elaborar um relatório das reais condições da saúde das crianças. O defensor quer a real patologia (doença) que as acomete, comprovação da necessidade de leite especial (NAN II Pro/Nestogeno) e se a ingestão de outros tipos de leite prejudicam as meninas. “Ressalta-se que o documento servirá à integral assistência jurídica da interessada (Ducinéa)”, alerta o defensor.

Já o promotor Osmair Chamma instaurou inquérito civil (1653/14) para assegurar os direitos das crianças. Chamma quer que a Prefeitura forneça pelo menos uma lata de leite por dia à Ducinéa de forma contínua até a alteração por ordem médica.

Prefeitura

A Secretaria de Saúde de Guarujá já está se movimentando em favor da Ducinéa e esclarece que, segundo informações prestadas nos processos da Defensoria e Promotoria, as crianças necessitavam de leite especial porque eram supostamente “intolerantes à lactose”. Porém, o leite solicitado (Nan II Pró) conforme prescrição contém 100% lactose.

Diante dessa situação e para que as crianças não corram nenhum risco de ingerir alimentação não recomendada, a Coordenação de Assistência Farmacêutica solicitou relatório médico que realmente revele a condição de riscos dos trigêmeos em relação ao leite.

Caso a solicitação seja por conta de condições de insuficiência econômica da mãe, descaracteriza, portanto, a necessidade de uso de uma fórmula infantil especial, que atenda condições de saúde.

Ainda de acordo com Coordenação, após a apresentação do relatório médico, será realizada a compra devida. Mesmo com tudo isso, no mês de setembro, a Sesau doou 36 latas de leite para a mãe das crianças.

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