Cotidiano
A pesquisa acende um alerta sobre a degradação de habitats essenciais para descanso e alimentação dessas espécies
Entre 2019 e 2022, os pesquisadores monitoraram sistematicamente 15 quilômetros de praias / Márcio Ribeiro/DL
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Um estudo publicado recentemente na revista Ornithology Research revelou os efeitos devastadores da urbanização sobre aves migratórias no litoral paulista. A pesquisa, conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), acende um alerta sobre a degradação de habitats essenciais para descanso e alimentação dessas espécies.
O levantamento é resultado das dissertações de mestrado de Karina Ávila Esparza e Bruno Lima, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade de Ambientes Costeiros da UNESP, sob orientação do Dr. Barbieri, cientista renomado na área de ecologia marinha e ornitologia.
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Entre 2019 e 2022, os pesquisadores monitoraram sistematicamente 15 quilômetros de praias arenosas nos municípios de Peruíbe e Itanhaém, na Baixada Santista. Ao todo, foram registradas 23 espécies da ordem Charadriiformes, com mais de 10 mil indivíduos observados.
Destas, 20 são migratórias, vindas do Hemisfério Norte, que utilizam o litoral brasileiro como área de invernada e escala migratória.
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Vale lembrar também que um projeto inédito no Litoral de SP começou a anilhar e estudar as aves limícolas.
A Praia do Taniguá, localizada na Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro (APAMLC), foi o destaque do estudo. O local, com menor interferência humana, apresentou os maiores índices de diversidade, abundância e riqueza de aves — reforçando sua importância como refúgio ecológico.
Por outro lado, praias com intensa atividade humana — como circulação de veículos na areia, presença de cães soltos, cavalgadas, esportes náuticos e turismo desordenado — registraram queda significativa na diversidade de espécies e aumento de comportamentos associados ao estresse, como fuga e alerta constante.
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“O que observamos é que a pressão antrópica está afastando as aves dessas áreas essenciais durante a migração. Elas estão perdendo acesso a zonas de alimentação e descanso, o que compromete todo o seu ciclo ecológico”, explica o Dr. Barbieri, que pesquisa aves costeiras no Sudeste desde 1993.
Segundo ele, os impactos podem ser drásticos: “É um colapso ecológico que ocorre de forma silenciosa, mas com consequências potencialmente irreversíveis. ”
Entre os resultados mais preocupantes da pesquisa, destacam-se:
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O artigo também propõe medidas de gestão ambiental para mitigar os impactos da urbanização: criação de áreas de exclusão temporária em praias sensíveis, controle rigoroso da circulação de veículos, campanhas de educação ambiental para turistas e fortalecimento da fiscalização em Unidades de Conservação já existentes.
"É imprescindível que os resultados dessa pesquisa sejam incorporados pelas prefeituras, órgãos ambientais e pelo poder legislativo estadual e federal. Estamos falando de espécies migratórias internacionais, protegidas por acordos como a Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas (WHSRN). O Brasil precisa assumir o protagonismo que lhe cabe na conservação desses corredores ecológicos vitais”, finalizou Barbieri.
O estudo está disponível em acesso aberto na plataforma SpringerLink e pode ser consultado por meio do link: https://doi.org/10.1007/s43388-025-00251-2
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