15 de Outubro de 2024 • 06:11
Cotidiano
Quem fez o registro foi biólogo e mestre em Ecologia, Leonardo Casadei, que faz registros fotográficos das mais variadas aves da Mata Atlântica
A Pisa n'agua (Phalaropus tricolor) é uma ave migratória que vem do hemisfério norte / Leonardo Casadei/Arquivo Pessoal
São Vicente, no litoral de São Paulo, recebeu uma vista ilustre neste mês de setembro. Quem apareceu por lá foi um Pisa n'agua (Phalaropus tricolor), uma ave migratória que vem do longínquo hemisfério norte para passar o verão na América do Sul, mas o local escolhido por essa belezinha não parecia muito agradável. Ela foi vista numa vala localizada no bairro Parque Bitaru, perímetro urbano da cidade, mas que, infelizmente, não aparentava limpeza.
Quem fez o registro foi biólogo e mestre em Ecologia, Leonardo Casadei, que faz belos registros fotográficos das mais variadas aves da Mata Atlântica, entre outras, e é autor de livros a respeito do tema na região. Ele contou que soube da presença da espécie por um grupo do Whatsapp, onde uma integrante, a Sandra Neves, enviou uma foto pedindo a identificação e, após descobrirem o nome do bicho, ele foi para o local.
"É um registro inédito, uma ave rara e escassa por aqui. Essa espécie costuma ser registrada na orla marítima da região. Dessa vez estava num canal no meio da cidade. Também foi o primeiro registro da espécie para o município de São Vicente".
Casadei falou que a ave é migratória do hemisfério norte e assim como os outros maçaricos, membros da família, enfrentam inúmeros perigos e uma viagem extremamente longa para chegarem na costa do Brasil.
Ao chegarem, precisam de descanso e uma boa alimentação, mas, infelizmente, enfrentam inúmeros obstáculos, como a ocupação nas praias, o encontro com animais domésticos e os resíduos descartados incorretamente na natureza, além de todo tipo de intempéries das mudanças climáticas que estão mexendo com o planeta.
Todo esse cenário faz dessa aparição um momento especial para quem observa aves e uma sensação que só quem viveu pode descrever.
"Foi uma sensação incrível. É uma ave belíssima que há muito tempo procurava. Para nós, observadores de aves, encontrar uma espécie pela primeira vez é sempre uma grande emoção. Isso também renova as nossas esperanças que apesar de toda a interferência humana a vida persiste. A natureza sempre nos surpreende"
Além da sensação, o biólogo falou também do espanto de ter encontrado a ave em uma vala suja, apesar de tantos lugares diferentes que passou e ressaltou a força da espécie em continuar existindo, apesar da presença humana:
"Foi de fato espantoso. O local é insalubre com esgoto sendo lançado além de vários resíduos sólidos boiando na água, descartados incorretamente no local. Ao mesmo tempo mostra uma resiliência e capacidade de adaptação incrível da ave, que apesar de toda a adversidade causada pelo ser humano, continua na sua luta pela sobrevivência. A escassez de áreas naturais para muitas espécies acabam afunilando os bichos próximos á áreas urbanas. Ele provavelmente parou ali por falta de opção de uma área mais natural e preservada. Naquele canal poluído encontrou alimento e o ambiente que necessita. Ela permaneceu no local por apenas três dias e depois não foi mais vista. Também não houve mais nenhum registro notificado dessa espécie na região após esse episódio", disse.
É biólogo, especialista em Educação Ambiental e Mestre em Ecologia. Atua como professor de Ciências Naturais na rede pública de Praia Grande e paralelamente observa aves. Já lançou dois livros: Um guia de campo das aves do litoral e um livro sobre Tucanos e Pica-paus. Instagram: Leonardo Casadei (@leonardocasadei_aves).
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